Escola não é segura para nove em cada dez estudantes LGBTQIAPN+ - PORVIR
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Inovações em Educação

Escola não é segura para nove em cada dez estudantes LGBTQIAPN+

Levantamento ouviu mais de mil estudantes que também indicaram ter sofrido agressões verbais tanto de colegas quanto de professores

por Ruam Oliveira / Beatriz Cavallin ilustração relógio 17 de abril de 2025

A escola é um dos principais espaços de desenvolvimento, aprendizagem e construção de vínculos sociais. Depois do ambiente familiar, é o ambiente onde crianças, adolescentes e jovens passam a maior parte do tempo. Isso deveria colocá-la como acolhimento, respeito e identificação. Contudo, essa não é a realidade vivida por todos os estudantes, em especial da população LGBTQIAPN+ (lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não binários + outras identidades). 

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A “Pesquisa Nacional sobre o Bullying no Ambiente Educacional Brasil 2024”, lançada nesta quarta-feira, 16, retrata a experiência escolar de pessoas LGBTQIAPN+. O levantamento revelou que 86% dos respondentes se sentem inseguros na instituição de ensino que frequentam, devido a alguma característica pessoal. 

No recorte entre pessoas trans, esse número é ainda maior: 93% não se sentem protegidos na unidade educacional, sendo que 47% vivenciam essa sensação desde sempre. 

Desenvolvida pela Aliança Nacional LGBTI+, Plano CDE e Instituto Unibanco, o estudo ouviu mais de 1.100 estudantes de instituições de ensino de todo o país.

Acesse a pesquisa na íntegra

Por um espaço mais inclusivo

“A escola é o primeiro momento no qual a criança vai ter contato com outras realidades, o que gera muitos conflitos por que todos pensam diferente, se vestem de maneiras diferentes, têm religiões diferentes, corpos diferentes. Ainda não existe segurança. Cabe a escola despertar esse senso crítico nas crianças e jovens”, diz Toni Reis, diretor-presidente da Aliança Nacional LGBTI+

Raquel Souza, coordenadora de pesquisa e avaliação do Instituto Unibanco, defende a escola como um local que tem compromisso com o fortalecimento da democracia e da cidadania, orientando seu currículo por valores inclusivos, como reconhecimento e respeito às diversidades. 

“O que o levantamento demonstra é que esse ideal de escola está pouco presente na experiência dos participantes da pesquisa – adolescentes e jovens que se reconhecem como LGBTI+. Uma realidade que sinaliza a necessidade de políticas públicas que efetivamente queiram fazer da escola um espaço acolhedor, respeitoso e promotor de direitos”, destaca. 

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De acordo com a coordenadora do Instituto Unibanco, o que torna a escola um lugar de insegurança para pessoas LGBTQIAPN+ é a vivência constante de situações de discriminação e violência.

“Os estudantes declaram que faltam à escola recorrentemente, pensam em abandoná-la, mas, ao mesmo tempo, querem ter uma trajetória longeva de escolarização. É alto o percentual de participantes da pesquisa que querem ter diploma de ensino superior. Ou seja, parece que enfrentam um elefante por dia para seguir com esse horizonte de futuro”, ressalta.

Crianças e adolescentes com brinquedos de bolhas participam de ato com faixa que diz: “Crianças e adolescentes TRANS existem”.
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Dos participantes da pesquisa, 42% das pessoas cis (aquelas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer) declararam já terem considerado abandonar a educação básica, mas esse percentual sobe para 60% quando consideradas exclusivamente as respostas jovens trans.

Diferentes agressões 

Os respondentes também apontaram que sofreram agressões no ambiente escolar. Em 2024, 90% dos estudantes enfrentaram algum tipo de agressão verbal e 38% das pessoas trans e travestis alegaram ter sido vítimas de violências físicas no mesmo ano. 

Outros colegas são os indicados como principais perpetradores de bullying e lgbtfobia (97%). Por vezes, a agressão também parte parte dos docentes (35%). Integrantes da gestão escolar (16%) e outros profissionais da escola (10%) também foram citados.

Ao falar sobre agressões verbais cometidas por professores, Toni explica que é necessário tratar essa questão de forma sensível e aberta. “O professor precisa se conscientizar de que existem palavras que magoam. Isso precisa ser trabalhado de uma forma tranquila. O educador deve está aberto para receber feedbacks [retornos avaliativos] dos alunos”, diz. 

Para Raquel Souza, é preciso, ainda, reconhecer que nenhum tipo de situação de discriminação e violência pode ser tolerada no ambiente escolar e que também professores podem sofrer sanções quando realizam atos que vão contra as regras de convivência e respeito da escola. 

“Sobre esse aspecto, parece ser importante que certas situações problemáticas, conflitos e dilemas enfrentados pela escola sejam objeto de reflexão dos e das profissionais e, mais do que isso, apreciados à luz dos princípios que regem a educação e as instituições públicas brasileiras, expressos na nossa Constituição, nas leis e normas educacionais”, completa. 

Toni também ressalta a importância do cumprimento da Lei 13.185/2015 que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional. A legislação obriga escolas, clubes e agremiações a adotarem medidas de combate e prevenção ao assédio e à intimidação. “É necessário ter uma equipe de trabalho de conscientização permanente na escola, que vai escutar e acolher estudantes que estão se sentindo oprimidos e discriminados”, explica. 

Para o professor, um dos principais entraves do combate ao bullying é a questão, por muitas vezes, não ser levada a sério, encarada por adultos como piada ou brincadeira de criança. “O bullying é um prejuízo na vida das pessoas, principalmente na vida acadêmica do estudante. Um estudante que sofre bullying é uma criança que não vai ter produtividade”, conclui. 


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ensino fundamental, ensino médio, socioemocionais

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