Escolas vão às ruas durante festival em Salvador
Festival da Primavera abre espaço para que estudantes realizem apresentações culturais para a comunidade
por Fernanda Kalena 24 de setembro de 2014
Para marcar a chegada da estação das flores, a prefeitura de Salvador realizou neste último final de semana, o Festival da Primavera, no bairro do Rio Vermelho. Além de uma vasta programação cultural que tomou as ruas do bairro por 34 horas ininterruptas e que incluía shows de Lenine, Paralamas do Sucesso e uma feira gastronômica, o festival abriu espaço para as escolas do bairro realizarem apresentações para a comunidade.
Um palco foi montado na praça Pôr do Sol exclusivamente para o Bairro-Escola Rio Vermelho, projeto de educação integral que promove a articulação comunitária para ampliar as oportunidades educativas do bairro. E, durante toda a manhã do domingo, por ele passaram apresentações de teatro, dança, música e artes marciais.
Estudantes da Escola Municipal Senhora Santana prepararam um ritual indígena e uma encenação da peça teatral Jorinda e Jorindel, alunos do Colégio Estadual Alfredo Magalhães levaram ao palco um terno de reis e uma dança de hip-hop, crianças da Escola Municipal Ana Nery cantaram músicas de Dorival Caymmi e fizeram um número de dança em homenagem à cultura afro. A Escola Municipal Osvaldo Cruz fez um trabalho de conscientização sobre o lixo, principalmente o que é deixado ao lado da escola. Já o Colégio Euricles de Matos levou para as ruas sua turma de caratê, que fez uma demonstração da arte marcial.
Na plateia, estudantes, famílias, educadores, artistas, moradores, empresários e ativistas se reuniam para prestigiar o evento. Toda a programação foi conduzida pelas estudantes Caroline Xavier e Gabriela Almeida, ambas cursando o 9o ano no Euricles de Matos. “É uma honra apresentar o evento, ainda mais por ele ser na praça. Queremos juntar o bairro com as escolas do Rio Vermelho e esse espaço promove essa interação”, conta Carolina.
Para a professora de música da escola Ana Nery, Florisbela Carvalho, além da interação com a comunidade, o evento também promove a sociabilização dos alunos de diferentes colégios e mostra que todos estão trabalhando por um mesmo objetivo. “Eles perceberam que outras escolas também se prepararam para estar aqui. Viram que a construção foi toda coletiva. Isso transforma o modo que eles enxergam a comunidade e a cidade”, conta.
Ocupar o espaço público
A professora destaca ainda a ocupação do espaço público pelos estudantes como algo fundamental para sua formação. “O mais importante é ver a praça ser ocupada com algo bom para a sociedade, envolvendo lazer, cultura e aprendizado. Precisamos incorporar esses espaços na educação, usá-los para motivar, incentivar e formar cidadãos de paz”, explica.
E o ocupar o espaço público não é restrito à escola, mas sim estendido a toda a comunidade. Por este entendimento que Maria Vitória Meneses Santiago, moradora do bairro, passou a dedicar seu tempo para as atividades do Bairro-Escola. Administradora de formação, ela também é artesã e colaborou na decoração da praça que recebeu o festival.
“Sempre reclamamos da sujeira, dos buracos na rua, de carro parado em lugar errado. Nos queixamos e não tomamos nenhuma atitude. O projeto me deu a chance de fazer algo. Eu quero ver as crianças brincando na rua, usando a praça para aprender e interagindo com a comunidade. Elas precisam entender que o espaço público não é do governo, mas sim de todos nós”, argumenta.
Segundo Pablo Vieira Florentino, doutorando em urbanismo e professor do IFBA (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia), a apropriação do espaço público não deve ser pontual, mas sim um processo que deve ser fomentado constantemente. “As crianças que se apresentaram ali viram que existe outras possibilidades de estarem nas ruas. Estão criando uma relação com o local, de frequentar a praça, de pertencimento. E isso não é somente o festival que vai desenvolver, é processo que está semeado com esse tipo de evento”.