Espaço de formação mão na massa para professores é inaugurado em São Paulo
Parceria entre diversas instituições, o laboratório formará educadores da rede pública de São Paulo para impulsionar a educação mão na massa
por Danilo Mekari 29 de agosto de 2022
À uma quadra da Avenida Paulista, no coração de São Paulo, um novo espaço foi especialmente desenhado para viabilizar projetos que envolvem a educação mão na massa. Ele é equipado com ferramentas de última geração em robótica, prototipagem, fabricação digital e marcenaria, entre outras. Este é o Lab Sing, laboratório de educação maker exclusivo para a formação inicial e continuada de educadores.
Em parceria recém-lançada com a prefeitura da capital paulista, anunciada no dia 25 de agosto, o laboratório prevê formar aproximadamente 140 profissionais da educação, entre diretores, coordenadores e professores de ciências do Ensino Fundamental 1 e 2. Esta fase inicial abarcará 26 escolas das 13 DREs (Diretorias Regionais de Ensino), além de gestores da Secretaria Municipal de Educação.
“Este é um passo importante para a concretização da melhoria da qualidade da educação, gerando impacto na vida dos paulistanos como um todo”, afirmou o secretário de Educação Fernando Padula durante o lançamento da parceria.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, também estava presente. “Essa parceria é importante para democratizarmos o acesso ao conhecimento em nosso sistema de ensino”, pontuou. Ele citou a demanda de aproximadamente 120 mil profissionais de Tecnologia e Informação (TI) no mercado de trabalho da cidade. “Vivemos o desafio de não perder talentos. Um laboratório é um grande passo para mexer no sonho das pessoas, possibilitando que eles sejam concretizados.”
Iniciativa conjunta entre o Instituto Singularidades e o Transformative Learning Technologies Lab (TLTL), da Universidade de Columbia (EUA), que conta com o apoio de Fundação Telefônica Vivo, Fundação Lemann e Imaginable Futures, o Lab Sing será um espaço de aprendizagem, articulando teorias, práticas e saberes diversos
Multiplicação do aprendizado
Ao final do projeto, os formadores serão multiplicadores em cada uma de suas respectivas DREs. A formação ocorrerá durante um ano, sendo que os docentes terão a maior carga horária, com 96 horas. Eles serão formados com conteúdos que unem os currículos de ciências e tecnologia, e o Instituto Singularidades e o TLTL (sigla em inglês para Laboratório de Tecnologias Transformativas) centro da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos acompanharão o desenvolvimento dos trabalhos nas unidades, apoiando os educadores na criação de soluções contextualizadas para cada realidade escolar.
Dirigido por Paulo Blikstein, o TLTL é um dos mais importantes centros mundiais em pesquisa e implementação de programas inovadores de educação. “A primeira experiência pública de educação maker do mundo aconteceu em São Paulo, duas décadas atrás”, lembrou o pesquisador. “Foi na Escola Campos Salles, onde levamos robótica e ferramentas tecnológicas para os estudantes, que de forma freiriana saíram para a comunidade e, com esses conhecimentos, desenharam soluções para problemas urbanos. Por isso, voltar a trabalhar com a rede municipal de São Paulo tem um significado especial para mim.”
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Um dos autores de um recente relatório sobre aprendizagem híbrida, Blikstein defende o uso de tecnologia na educação para muito além das aulas à distância. “Enxergo a tecnologia como um material que colocamos na mão de alunos para que eles criem coisas. Essa criação e experimentação tem papel importante na formação de crianças, estimulando que se engajem na construção do conhecimento científico real.”
O pesquisador demonstrou ainda preocupação com temas como a diversidade e a inclusão na construção de laboratórios mão na massa. “Há uma nítida exclusão de mulheres, negros e pardos na ciência. É importante que projetos assim não sejam apenas um trabalho extraclasse, mas sim uma oportunidade para todos os estudantes. Queremos cientistas e engenheiros mais diversos, baseados em um espírito democrático e cívico”, comentou.
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Aliança em prol das ciências
A iniciativa faz parte do programa FabLearn, presente em países como Estados Unidos e Finlândia, que integra laboratórios maker à educação formal. O lançamento do laboratório também marca a introdução da educação mão na massa no currículo do curso de Pedagogia do Instituto Singularidades.
“Este projeto é inovador em muitos sentidos”, disse Alexandre Schneider, presidente do Instituto Singularidades. “Ele reúne duas faculdades desenhando o projeto pedagógico, uma prefeitura pronta para receber essa formação e evoluir com ela, e institutos do terceiro setor. É uma aliança em torno da aprendizagem de ciências fundamental para a sociedade.”
Ele reforça a intenção de multiplicar a formação mão na massa não apenas dentro da rede paulistana, mas também em outras redes municipais e estaduais e, por que não, em todo o mundo. “Ao final desse projeto a gente gera uma comunidade de aprendizagem, tendo o laboratório como centro. Os professores que participarem vão fazer parte da rede do FabLearn e, inclusive, fazer intercâmbios internacionais em prol da educação mão na massa”, finaliza.