Estudantes e professores no centro de um projeto de escola pública - PORVIR
Crédito: Edutopia

Inovações em Educação

Estudantes e professores no centro de um projeto de escola pública

Para reimaginar o ensino, escola Design 39 Campus, de San Diego (EUA), ouve toda a comunidade

por Nora Fleming, do Edutopia ilustração relógio 11 de outubro de 2018

A oferta parecia boa demais para deixar passar – um ano de folga do trabalho em sala de aula para criar uma nova escola pública com a missão de “mudar a forma como estudamos”. Para o professor Tom Downs, 26, e os outros que se candidataram, o período sabático representava a oportunidade de construir a escola que sempre sonharam, trabalhando ao lado de educadores que compartilhavam um compromisso com a inovação.

“Não sei se teria durado muito mais como professor se continuasse fazendo a mesma coisa que estava fazendo”, reflete Downs. “Eu preciso sentir que estou fazendo algo novo, que estou tentando fazer algum tipo de diferença.”

Cinco professores, incluindo Downs, foram aceitos para fazer parte da força-tarefa para criar a Design 39 Campus (39º escola do distrito escolar Poway) a partir do zero – usando como inspiração escolas de todas as partes dos Estados Unidos, orientações de líderes do setor e contribuições de diversos moradores locais.

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“Começamos a envolver a comunidade imediatamente”, explica Downs sobre a abordagem de design thinking que o grupo usava para reunir informações e ideias de todas as partes interessadas no projeto. Em fóruns, pais, educadores e empresas de Poway – uma área suburbana a cerca de 30 minutos a nordeste de San Diego – responderam perguntas como: “Se a escola fosse um lugar em que …? Então precisaríamos de professores que …? Alunos que…? Pais que …?” As perguntas levaram todos a sonhar alto.

Os arquitetos agiram a partir destas respostas, projetando e construindo um prédio que combinasse com o ensino e o aprendizado que educadores e pais esperavam promover internamente: paredes de vidro para facilitar a abertura e a transparência; assentos flexíveis e paredes para escrever que são um convite ​​para incentivar a colaboração entre alunos e colegas; e móveis fáceis de mover para adaptar o espaço quando necessário.

Abrir a escola em 2014 não foi tarefa fácil. No início, os líderes escolares decidiram que a Design 39 Campus seria uma escola pública de educação infantil e fundamental e que não seguiria o modelo charter (público com administração privada), o que desafiou a força-tarefa a trabalhar dentro das restrições orçamentárias do distrito.

“Esta mesa aqui demorou mais de seis meses para ter aprovação de compra, às vezes até três vezes por semana no telefone – eu nem estou brincando”, disse Downs, colocando a mão em uma das mesas com superfície branca para escrever disponíveis na escola, agora usada para incentivar os alunos a trabalhar juntos, assumir riscos e compartilhar suas ideias. Mas essa persistência foi decisiva. “Eu não consigo explicar o suficiente quanto a estrutura da própria escola é capaz de ditar o que acontece dentro dela.”

(Ative legendas em português)

De baixo para cima e orientado pelos estudantes

A luz solar do início da manhã é filtrada pelos painéis de vidro azul e laranja cobrindo as paredes da Design 39, lançando um reflexo que imita um arco-íris na calçada enquanto os alunos correm – ou perdem o rumo – para as primeiras aulas do dia. Algumas conversas com amigos enquanto carregam instrumentos pesados, trocam passes com uma bola de basquete ou compartilham seu mais recente projeto de arte. Outros se sentam no corredor sozinhos, concentrados em um aplicativo ou jogo para iPad.

“Um dos primeiros detalhes que um substituto notará é a tremenda quantidade de confiança que emana em nosso campus”, diz Stacey Lamb, professora de 4º e 5º anos. “Os estudantes caminham por toda parte – desde as idades mais jovens, confiamos que eles irão para onde precisam estar.”

Os recém-chegados também notam rapidamente a nomenclatura da escola: Design 39 é conhecido como campus, não como escola; os professores são chamados de designers de experiência de aprendizagem (LEDs, na sigla em inglês); o escritório na parte da entrada é o Centro de Boas-Vindas; salas de aula são estúdios; e a biblioteca é o loft.

“A fim de romper com a educação tradicional e como um lembrete diário da reinvenção da escola, demos um novo nome a tudo no campus”, explicou Lamb.

Não é de surpreender que não exista nenhuma sala da diretoria: o diretor Joe Erperling circula calmamente pela escola para reforçar uma estrutura de liderança horizontal na qual os professores são encorajados a tomar suas próprias decisões e resolver problemas de forma independente. Em vez do período tradicional de preparação matinal, um memorando de entendimento elaborado com o sindicato permite e incentiva professores – que dividem aulas e trabalham regularmente com equipes de seus colegas de série – a usar esse tempo para colaborar com os colegas.

Alunos e funcionários também são incentivados a buscar interesses especiais.

Existem laboratórios de criatividade (maker), um programa de música no qual os alunos aprendem a ler e compor suas próprias músicas, e o Mentes em Movimento (Minds in Motion) – uma nova versão da aula de educação física que faz os alunos projetarem suas atividades. Explorações (explorations) são disciplinas eletivas de quatro a seis semanas concebidas e votadas pelos alunos, que mergulham fundo em suas paixões e na de seus professores, como a fotografia ou línguas estrangeiras.

“A maior parte do que acontece em nosso campus é de base, de baixo para cima e orientado pelos estudantes”, disse Bret Fitzpatrick, professor do ensino médio.

(Ative legendas em português)

Famílias se sentem em casa

Quando a escola foi lançada, a promessa de uma educação inovadora centrada no aluno rapidamente atraiu famílias que se mudaram em massa para a região, atraídas por bons empregos em empresas de tecnologia como HP, Sony e Broadcom – e por boas escolas, muitas das quais agora estão superlotadas.

Maria Simpson, mãe de estudante, lembra-se da esperança que sentiu ao assistir às primeiras reuniões, antes mesmo da chegada dos tratores de terraplenagem; ela fez a inscrição no sistema de loteria da Design 39 para conseguir vagas para seus dois filhos, que agora frequentam a escola.

Enquanto ela diz que seus filhos “prosperam” na escola, a mudança de uma escola pública tradicional para a Design 39 – com ênfase no aprendizado do século 21 – não foi necessariamente uma transição suave para todas as famílias, disse Simpson, que participa da Parent Collaborative, uma associação de pais e mestres que também trabalha para a captação de recursos. Ao final do primeiro ano de funcionamento da escola, cerca de 100 famílias tinham partido.

“Durante o primeiro ano, lembro-me de pensar: ‘Fizemos a coisa certa para os nossos filhos ao vir para cá?’ Fiquei confusa com a terminologia, a política de lição de casa, a falta de boletins de progresso”, explicou Christine Paik, mãe e diretora de comunicações do distrito.

Na escola primária, não há lição de casa à noite; os alunos são incentivados a ler um livro ou a se envolver em atividades acadêmicas alinhadas de preferência. As séries são pareadas e os alunos são frequentemente divididos em grupos menores, multisseriados, dependendo de seus pontos fortes e fracos. Os professores avaliam as habilidades e competências dos alunos, em vez de atribuir notas por letras ou pontos.

Foi muito para muitas famílias entenderem.

Para lidar com as preocupações dos pais, a escola começou a oferecer oficinas regularmente durante os quais os pais e responsáveis visitam as salas de aula para experimentar o que seus filhos estão aprendendo e saber como apoiar esse aprendizado em casa. Em um encontro recente, os pais discutiram a cidadania digital, parte de uma série criada para ensinar os pais a ajudarem seus filhos a se tornarem criadores e consumidores de conteúdo online.

“A equipe escolar reconheceu os desafios e melhorou a comunicação desde então”, diz Paik. “Recentemente, pediram-me para falar em um evento de agradecimento à equipe e, ao refletir sobre a mudança que vi em meus filhos, percebi que fizemos a escolha certa.”

(Ative legendas em português)

Deixe-os seguir seu caminho

De acordo com a professora do 4º ano Shshawna Rader, uma grande parte da construção de relacionamento envolve aprender como comunicar a aprendizagem significativa que ocorre no Design 39 para adultos cuja “base ainda é uma avaliação tradicional”. Enquanto desenvolvem uma apresentação sobre um Tanque de Tubarões, desenham um orçamento para um trabalho escolar em campo ou projetam um dispositivo de purificação de água pode parecer apenas “divertido”, diz ela, essas tarefas alinhadas à base curricular ensinam os alunos a resolverem problemas, desenvolver pensadores críticos e estarem preparados para viver e trabalhar em um mundo globalizado.

Parece que outras pessoas também estão prestando atenção, já que a escola tem sido elogiada nos níveis local e até nacional. Em 2017, a Design 39 Campus ultrapassou todas as outras escolas distritais nos indicadores de clima escolar e de bem-estar dos estudantes e, em 2018, o ensino médio foi classificado como o de melhor desempenho no distrito. Nesse mesmo ano, o modelo da Design 39 foi reconhecido como um exemplo pelo Departamento de Educação dos EUA.

Por mais que as famílias e os funcionários da escola esperem ansiosamente para ver como sua primeira turma de ensino médio vai se formar este ano, parece que eles não têm muito com o que se preocupar. De acordo com o diretor do ensino médio, calouros da Design 39 se apresentaram no mesmo nível acadêmico e, segundo relatos, superaram seus pares em áreas como criatividade, colaboração e liderança.

(Ative legendas em português)

A notícia veio como um bom lembrete para os professores, que Rader diz continuarem a aprender quando dar um passo à frente e quando recuar para deixar os alunos direcionarem seu próprio aprendizado.

“Nas escolas anteriores, eu tinha meu plano de aula, meu cronograma mensal, meu livro didático que me dizia: ‘Você terminará em outubro'”, disse Rader. “Aqui, entendemos que toda criança aprende em um ritmo diferente. Nós os deixamos assumir a direção, mas ajudamos a guiá-los pelo caminho.”

* Publicado originalmente em Edutopia e traduzido mediante autorização
© Edutopia.org; George Lucas Educational Foundation


TAGS

aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem colaborativa, autonomia, competências para o século 21, educação infantil, educação integral, educação mão na massa, engajamento familiar, ensino fundamental, equidade, escolas inovadoras, personalização, tecnologia

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