Filme vai contar história de escola pública democrática
Documentário de estudante de cinema quer apoio para apresentar o dia a dia da instituição voltada para o ensino de cidadania
por Vagner de Alencar 23 de novembro de 2012
A estudante de cinema da FAAP, Laura Lisboa, 23, ao chegar no último ano da faculdade, assim como grande parte dos universitários, se deparou com a pergunta: qual será o tema do meu TCC?. O que poderia ser um dilema para a jovem, foi uma tarefa relativamente simples. Laura já estava decidida: queria mostrar novas alternativas de se pensar a educação brasileira. Reuniu mais cinco colegas e resolveram abordar algum modelo de escola democrática em São Paulo. Passaram por algumas escolas privadas, até escolher a escola municipal Desembargador Amorim Lima, na zona oeste de São Paulo, instituição que vem desenvolvendo um trabalho inovador na educação pública.
O colégio será palco para o Amarelos, um curta-metragem documental de 15 minutos que pretende mostrar como estudantes do 1o ano do ensino fundamental se relacionam uns com os outros e como acontece o desenvolvimento de sua formação por meio do ambiente não-convencional de ensino. “O nome do filme não destaca apenas uma cor primária, mas também o significado da união entre: amar elos. Ou seja, sintetiza o pensamento coletivo desenvolvido na escola”, afirma Laura.
De acordo ela, a ideia é que o documentário não se resuma a um trabalho universitário. “A pretensão é produzir um filme profissional, que possa participar de festivais e competições”, diz. Para isso, a iniciativa está inscrita na plataforma de financiamento coletivo Catarse para captar recursos que vão ajudar nos custos com transporte, alimentação, equipamentos e finalização do filme. A meta é atingir R$ 17.145,00.
Assista ao trailer do documentário:
Por que Laura se apaixonou pela Amorim Lima?
Quem chega nessa escola pode até se espantar com tanta liberdade, principalmente alguns pais acostumados a ver seus filhos sentados em fileiras na sala de aula. A principal diferença entre essa e as demais escolas públicas é que ela não segue o método tradicional de ensino, normalmente com o professor à frente da turma abarrotando o quadro negro com conteúdos. Lá, são os estudantes quem carregam e administram seu próprio plano de estudos.
Inspirado no modelo da Escola da Ponte, há seis anos, o colégio Amorim Lima, efetivamente, passou a adotar o projeto português. Em um dia corriqueiro, os estudantes de ensino fundamental 1 e 2 transportam cadeiras de um canto ao outro, recortam papeis e carregam maquetes para a montagem da feira de ciências. Outros sentam-se em roda, do lado de fora. Alguns, do lado de dentro.
Segundo Ana Elisa, diretora da escola há 17 anos, responsável por impulsionar a nova metodologia, a ideia surgiu como forma de minimizar os problemas que haviam na instituição, como evasão, indisciplina e baixa participação dos pais na escola. “É preciso, antes de qualquer coisa, ter coragem para tocar um projeto como este, e tempo, afinal, todo dia algum aluno entra na diretoria para pedir ajuda ou autorização para fritar um chuchu ou outro legume na cozinha para testar algum experimento novo”, diz Ana Elisa, sorridente.
Autonomia
Com cerca de 700 estudantes distribuídos em dois turnos, as aulas acontecem em grupos de até cinco integrantes da mesma série. Além disso, cada um recebe acompanhamento individual de um tutor. Os conteúdos são trabalhados por meio de roteiros de pesquisa, separados por eixos temáticos. Cada roteiro tem cerca de 18 objetivos, com perguntas ou tarefas que devem ser respondidas ou desenvolvidas pelo estudante e divididos em áreas como identidade e alteridade, nosso planeta, nosso mundo, vida, saúde e matemática, e organizados a partir das coleções de livros didáticos selecionados pela escola no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático).
Embora recebam roteiros iguais, são os alunos quem decidem como administrar seu plano de estudos: podem começar da última tarefa para a primeira ou vice-versa. Ao longo do ano, realizam, em média, 20 roteiros (saiba como é um modelo de roteiro). Além disso, são realizadas atividades como capoeira, artes, laboratórios de ciências, que envolvem diretamente a participação da comunidade.
O método de avaliação também é diferenciado. As notas são atribuídas conforme o desempenho nas atividades em grupo e por meio dos portfólios – espécies de relatórios produzidos pelos estudantes – em que descrevem o que aprendem em cada roteiro. “A vida não é só a escola. Decidimos adotar os roteiros para desenvolver no aluno um processo de aprendizado autônomo, para que ele próprio dê conta do que e como consegue aprender. Cada aluno tem uma forma diferenciada de aprender as coisas”, afirma Ana Elisa.
Participação comunitária
Segundo a diretora, a ideia central do modelo é despertar nos alunos e em suas famílias a cidadania. O exercício acontece de diversas formas. Uma delas é por meio das festas e eventos na escola, que recebem ajuda direta dos pais, sobretudo na organização. O site e a fanpage do colégio são outros exemplos; são administrados, também voluntariamente, por outros pais, que respondem as dúvidas dos internautas que, muitas vezes, são estudantes de licenciatura que querem aprender com professores veteranos, educadores interessados em dar aulas na escola ou pais à procura de vagas para os filhos. “Quando a família entra na escola e tem um papel social, os pais passam a desempenhar efetivamente sua função como pai de uma criança que faz parte da sociedade”, afirma.