‘Inovar é possível e necessário, mas não é suficiente’
Evento promovido pelo Instituto Singularidades e CESAR discute inovação no sistema educacional
por Marina Lopes 3 de agosto de 2015
Qual seria o resultado de uma educação verdadeiramente inovadora? Para Silvio Meira, fundador e ex-cientista chefe do CESAR, essa evidência está em uma formação de aprendizes que evoluem constantemente e conseguem unir conhecimentos teóricos com execução prática. No entanto, ele afirma que investir em inovações não é o bastante para transformar um sistema educacional.
Na última sexta-feira (31), o engenheiro participou do debate “ACONTECE Educação: Inovar é possível”, promovido pelo Instituto Singularidades e CESAR, em São Paulo, onde trouxe uma série de provocações sobre a possiblidade de inovar em sistemas educacionais.
“Inovar é possível e necessário, mas não é suficiente”, defende Silvio Meira. De acordo com ele, inovação é um conjunto de processos que acontecem dentro de um sistema formado por passado, presente e futuro. “A gente tem uma operação de manutenção do passado, execução [do presente] e inovação, que é pensando no futuro”, explica, ao mencionar que estamos dentro de um sistema educacional com milhares de anos.
O fundador do CESAR afirma que para transformar um sistema educacional é necessário começar pelas bordas com uma inovação incremental, que inclui modificações e aperfeiçoamentos. Essa inovação ganha força até se transformar em um processo e ser capturada pelos sistemas na forma de uma ruptura, a chamada inovação disruptiva. Ele também destaca que esse processo deve ser interativo, onde frequentemente acontecem erros e acertos. “A ciência do erro acaba sendo a ciência para a tecnologia do acerto.”
Diante das transformações da sociedade, Meira aponta cinco tipos de reação que os sistemas podem adotar, o que ele chama de índices de sobrevivência social: 0) deixar de agir diante das informações geradas; 1) compreender as informações e negar a realidade; 2) perceber as informações e reagir mantendo as estruturas do sistema independente do que acontece ao redor; 3) operar o sistema da melhor forma possível dentro de suas limitações; 4) entender o que está acontecendo e tentar evoluir com entendimentos novos e inovação.
Para exemplificar a necessidade dos sistemas educacionais se transformarem, o fundador do CESAR faz uma comparação com a bolsa de valores de Nova York, onde ele diz que a tecnologia da informação sofreu uma das inovações mais radicais dos últimos cinquenta anos. “Peguem a lista das cinquenta primeiras empresas da bolsa em 1975 e vamos olhar quarenta anos depois. Não tem a metade lá. Morreram porque não eram sistemas de inovação próprios. Elas acharam alguma coisa e conseguiram fazer aquilo, mas não conseguiram se renovar”, conclui.
O professore deve se tornar o empreendedor da sala de aula
Refletindo sobre possibilidades de inovação, a relação entre educação e empreendedorismo também foi um dos temas debatidos durante o evento. Com o intuito de alcançar resultados mais efetivos na sala de aula, Luciano Meira, cofundador da Joy Street, defende que o professor deve assumir uma postura empreendedora, que busca o crescimento orgânico da sala de aula e cria cenários de aprendizagem. “Tem um conjunto de mudanças pessoais que o professor precisa se envolver” explica em entrevista ao Porvir, após sua apresentação. Entre essas mudanças, ele menciona a adoção de uma postura proativa e a atuação como um líder.
Ao estabelecer comparações entre a prática pedagógica e a cultura empreendedora, Luciano Meira afirma que a sustentabilidade da sala de aula deve estar na forma como o professor organiza o conhecimento em uma trajetória de aprendizagem significativa para os estudantes. “É outro tipo de sustentabilidade que você não precisa monetizar”, afirma.
Para se transformar em uma espécie de CEO da sala de aula e conseguir rapidamente conquistar algum sucesso, o cofundador da Joy Street diz que o professor deve encolher as inovações. Ao invés de pensar sobre o uso dos smartphones na sala de aula, ele deve se concentrar em estratégias mais específicas, como a preparação de uma aula sobre leitura de mapas a partir da ferramenta de geolocalização dos smartphones.
O design foi outra estratégia apresentada para conduzir inovações e auxiliar o professor a assumir uma postura empreendedora. O consultor de design e experiência do usuário do CESAR, HD Mabus, mencionou que ele pode servir como uma ferramenta para fortalecer o diálogo e criar novas formas de aprendizado. Um dos métodos sugeridos por ele é o design especulativo, que diferente do design thinking, trabalha com criação de roteiros e cenários para gerar discussões.