Após intercâmbio, estudante de física lança revista de ciências
Polyteck foi criada por alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e é distribuída em mais de 80 universidades
por Maria Victória Oliveira 19 de outubro de 2015
A convivência com pessoas de diferentes lugares e a chance de olhar o mundo de novas maneiras são citadas com frequência como razões para apostar tudo em um período de intercâmbio fora do país. Outros vão além, e decidem retribuir o que é aprendido e trazer conhecimentos aos que não tiveram a oportunidade de seguir o mesmo caminho. Este foi caso de André Sionek.
Durante o curso de física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sionek foi selecionado pelo programa Ciência sem Fronteiras para estudar na University of Pennsylvania, nos Estados Unidos. Lá, cursou disciplinas de outras áreas, como empreendedorismo em engenharia, em aulas de formato aberto, com a participação de alunos de diversos cursos. Para dar conta de tanta diversidade, descreve, “os professores procuravam mostrar como as áreas do conhecimento interagem entre si para atingir um resultado”. Engana-se quem pensa que em tal ambiente não haveria chance para companheirismo. Uma das coisas que mais lhe chamou a atenção foi justamente o grande senso de gratidão entre os alunos que se formam nessas instituições e buscam retribuir o que foi aprendido.
Motivado por essa ideia de devolver o investimento que foi feito em seu período de estudos nos EUA, Sionek voltou ao Brasil e, juntando o gosto por tecnologia e ciência, a vontade de empreender e de retribuir à sociedade, surgiu a ideia de criar a revista Polyteck. “Eu sempre gostei muito desses temas. Acredito que tecnologia e ciências são as áreas com o maior potencial para causar transformações positivas na sociedade”.
– Leia todas as edições da Polyteck:
– 1ª Edição: O efeito antibacteriano do Grafeno
– 13ª Edição: Soluções em água
Financiamento
Para tirar o projeto do papel, Sionek desistiu da faculdade de física e contou com a ajuda de Raisa Jakubiak e Fábio Rahal, antigos parceiros de laboratório, para elaborar a revista bimestral. Na pesquisa inicial que fizeram com professores e alunos, muitos desaconselharam uma publicação impressa. “Muita gente falou que estávamos indo na contramão, que o mundo está muito digital e que uma revista impressa não daria certo”.
Mesmo assim, eles juntaram suas economias e publicaram a primeira edição em setembro de 2014. Cerca de 10 mil exemplares foram distribuídos em quatro universidades de Curitiba. O retorno de professores e alunos foi positivo, incentivando a equipe a continuar o trabalho. Entretanto, os alertas se mostraram verdadeiros, e eles esbarraram no alto custo de impressão da revista.
Ainda assim, a primeira edição da Polyteck foi financiada com investimentos do trio. “Da primeira vez, nós vendemos R$ 600 de publicidade, mas gastamos R$ 6.000 para elaborar e imprimir a revista”. Diante do saldo negativo, a solução foi fazer uma campanha de financiamento coletivo. Foi estipulada uma meta de R$ 60 mil, quantia suficiente para financiar as próximas edições da revista. “A gente criou a campanha no Catarse sem ter experiência nenhuma, então é óbvio que não conseguimos o dinheiro. Nós arrecadamos R$ 9 mil. Só que, em uma campanha de crowdfunding [o termo em inglês para financiamento coletivo], ou você atinge a meta e leva tudo ou devolve. Então, voltamos a estaca zero”.
Entretanto, eles não contavam que a campanha acabaria servindo para divulgar o material. Sionek conta que, nessa época, universidades de Minas Gerais, do Amazonas e do Pará foram as primeiras fora de Curitiba a procurá-los e a manifestar o interesse em distribuir a revista. Nesse mesmo período, um patrocinador gostou do material, e ajudou a bancar a continuação do projeto.
Apesar da revista já se sustentar sozinha há algum tempo, Sionek afirma que há uma dificuldade em expandir a distribuição, devido ao alto custo. “Nós não temos conseguido novas fontes de financiamento para expandir a revista. Mas estamos criando um canal de ciência no Youtube, para ampliar a nossa divulgação”.
Evolução da Polyteck
“A proposta da Polyteck é colocar os alunos em contato com temas diferentes, para que eles saiam da zona de conforto”. A decisão da pauta é feita em conjunto por Sionek, Raisa e Rahal que, até hoje, são os únicos envolvidos na produção. “Nós buscamos artigos científicos e temas interessantes em revistas confiáveis, como a Nature, a Science, a MIT Technology Review”. Depois, escrevem artigos com linguagem mais acessível baseada nessas fontes. Segundo Sionek, no final de cada matéria, eles têm o cuidado de colocar a fonte original do artigo, para que os alunos busquem mais informações e se aprofundem no assunto.
Depois de 13 edições, o trio aprendeu a “acertar a mão” em termos de conteúdo. “Na primeira edição, nós demos uns artigos mais fracos, então agora nós estamos conseguindo aprofundar mais o assunto, com muito mais conteúdo. Além disso, acho que estamos acertando a forma de distribuir”.
Antes, a equipe distribuía 10 mil exemplares só em Curitiba. Hoje, só 2 mil ficam na capital paranaense e o restante circula entre 84 universidades no Brasil inteiro.