Internet e TV levam escola a 38 mil alunos no Amazonas
Centro de Mídias de Educação atende comunidades indígenas, promove inclusão social e vai oferecer cursos profissionalizantes a partir de 2015
por Filipe Prado 22 de dezembro de 2014
A falta de infraestrutura aliada a peculiaridades geográficas tem motivado a implantação de inovações tecnológicas na educação do Amazonas, nos últimos sete anos. No estado mais extenso do país, com os dois maiores arquipélagos fluviais do mundo em quantidade de ilhas (Mariuá e Anavilhanas) e com 25% da população morando em comunidades isoladas, o acesso ao ensino médio é prejudicado pela falta de transporte e pelo fornecimento irregular de energia elétrica. Além disso, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) estima que ainda faltam 8 mil professores para suprir plenamente a rede de ensino convencional.
Para lidar com essa realidade, o Centro de Mídias de Educação do Amazonas surgiu com a proposta de levar escola aos alunos através de satélites e videoaulas. Atualmente, o projeto, que já ganhou 12 prêmios nacionais e internacionais, mobiliza 3 mil professores para atender pouco mais de 38 mil alunos por ano, divididos e 2.280 turmas, em todos os 62 municípios do estado.
“Há dez anos tomamos a decisão de mudar a educação local, mas a implantação do projeto aconteceu em 2007. A gente precisa usar tecnologia para levar atendimento aos estudantes onde quer que eles estejam. Ainda assim, só atendemos 50% das quase mil comunidades isoladas pelo estado, ainda tem bastante público para ser atendido”, explica ao Porvir José Augusto de Melo Neto, secretário executivo da Seduc e diretor do Centro de Mídias desde sua concepção até este ano.
Apesar do conteúdo à distância, o Centro de Mídias tem a preocupação em desenvolver uma metodologia presencial. Dos estúdios localizados em Manaus, professores especialistas em suas disciplinas ministram as aulas sempre ao vivo e com um sistema de interatividade IPTV (internet por televisão). Do outro lado, em sala de aula, um professor presencial desenvolve as atividades propostas e complementa a formação.
“O professor presencial tem uma função pedagógica mais ativa que a de um tutor. Ele precisa atuar como professor para o projeto dar certo, é o elemento chave desse processo. Ele precisa motivar a participação dos alunos, é um meio termo entre a educação à distância (EAD) e presencial. Cada vez mais o caminho é a descentralização: o professor tem que ter autonomia. Ele precisa ter responsabilidade nas notas dos alunos”, diz Neto.
As dúvidas dos alunos podem ser sanadas diretamente em sala de aula ou indiretamente, através de uma assessoria pedagógica online com chat e email. As aulas também ficam gravadas no portal do programa em casos de revisão e reposição. O conteúdo segue orientação do Ministério da Educação (MEC) e cumpre as 800 horas/aula por ano, como prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Uma característica da aulas é a maneira como é apresentado o currículo programático. O Centro de Mídias adapta a aula a uma linguagem televisiva, com uma produtora e roteiristas trabalhando junto com o corpo docente para otimizar o tempo e discutir como serão apresentados os objetos de estudo.
De acordo com a Seduc, metade dos alunos do projeto submetidos a avaliações nacionais como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) tiveram média superior à estadual. A taxa de evasão coincide com a de reprovação e varia entre 5% a 10% no ano, abaixo da média nacional, 24,3% em 2012, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
“O objetivo é o atendimento escolar, o que está sendo realizado. A inclusão social é um dos principais fatores, e o resultado tem sido satisfatório. Queremos contribuir para que as pessoas sejam inseridas no sistema de educação e se formem onde moram”, declara Neto, que cita também exemplos de alunos aprovados em universidades.
Um dos principais desafios do Centro de Mídias é abarcar a população indígena, que corresponde a 8% de seus alunos. Como muitos índios não querem deixar suas aldeias para cursar o ensino médio em uma cidade, a solução foi treinar professores bilíngues e traduzir as aulas nas línguas nativas. Está em desenvolvimento um módulo específico para atender 70 das mais de 300 etnias indígenas que ainda vivem no estado do Amazonas.
A iniciativa contempla 6 mil alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e outros 2 mil de Educação para Jovens e Adultos (EJA). O desafio aos próximos anos é aumentar a oferta a 70 mil alunos por ano e, já em 2015, começar a oferecer cursos técnicos e profissionalizantes.