Alunos criam jogo de tabuleiro para estudar a história do bairro - PORVIR
Crédito: Escola Lumiar/Divulgação

Diário de Inovações

Alunos criam jogo de tabuleiro para estudar a história do bairro

Em São Paulo, estudantes do 3º ano do ensino fundamental aprendem brincando – e ensinam os colegas – sobre a origem de Pinheiros, bairro da capital paulista

por Luciana de Ávila Mendes Kim ilustração relógio 17 de julho de 2023

Qual é a história do bairro onde você mora? Por que ele tem esse nome? Quem foram os primeiros habitantes? E os prédios, existem desde quando?

Depois de assistir com a turma do 3º ano do ensino fundamental a uma reportagem sobre o aniversário de Pinheiros, um dos bairros mais antigos da cidade de São Paulo (que completou 462 anos em 2022), os estudantes ficaram ainda mais curiosos. Qual foi a origem de tudo e como poderíamos registrar essa pesquisa?

Propus a eles a criação de um jogo de tabuleiro sobre uma viagem no tempo, a fim de recontar a história de Pinheiros (no qual a Escola Lumiar está localizada e onde muitos residem). A votação foi unânime, todos gostaram da ideia. O projeto foi batizado com o seguinte nome: “Dos indígenas até hoje – um jogo sobre a formação do bairro de Pinheiros”.

O primeiro passo foi decidir em qual jogo iríamos nos inspirar para criar o nosso. Eles sugeriram alguns: Super Trunfo, Jogo da Vida, Banco Imobiliário. Novamente, votamos nas opções e o vencedor foi o Jogo da Vida. Como nem todos o conheciam, reservamos uma aula só para jogá-lo: quem tinha o jogo em casa o trouxe e formamos 4 grupos de 5 jogadores.

Crédito: Arquivo pessoal Estudando o Jogo da Vida

Depois da experiência, os estudantes conseguiram elencar o que caracterizava o Jogo da Vida: um tabuleiro extenso, cujas casas trazem situações ligadas ao cotidiano de adultos. Perceberam também que existia uma movimentação de dinheiro e os jogadores vivenciavam fases da vida. Anotamos tudo isso e guardamos. 

A partir daí, planejamos a estrutura do nosso jogo, um tabuleiro que representasse o percurso pela história do bairro de Pinheiros, com casas que remetessem a situações da vida ligadas ao contexto de cada época, dividida em três fases: os primeiros habitantes (indígenas), a invasão dos bandeirantes e hoje. 

Construindo o tabuleiro com a turma

Na sequência, planejei as aulas pensando nos conteúdos e áreas de conhecimento que poderiam ser exploradas, como história, matemática, português, arte… Convidei, então, o Gabriel, professor de história, para trabalhar com eles sobre os povos originários indígenas e as noções de escambo. Também pensamos em como se estabeleceram em volta do Rio Pinheiros, quando o rio nem tinha esse nome ainda.

Há duas versões para a origem do nome do bairro: a grande quantidade de araucárias (também conhecidas como pinheiro brasileiro) encontrada na região. No Dicionário Geográfico da Província de São Paulo há a explicação de que os indígenas chamavam o rio de Pi-iêrê (derramado, em tupi) em referência ao transbordamento que alagava as margens, e a pronúncia teria se transformado em Pinheiros. 

Trabalhamos todo esse percurso histórico, passando pelos bandeirantes, pelo comércio da batata, até chegar aos dias atuais. Durante todo o percurso, contei com o apoio da Eloisa De Benedictis (minha assistente na época, e hoje tutora).

Para elaborar o tabuleiro, chamamos a professora Márcia Carvalho, de matemática, que trabalhou divisão e área. Sobre uma superfície de MDF, colamos as “casinhas”, medidas e calculadas pelos estudantes. As situações de vida foram escritas nas aulas de português, que levaram em consideração cada contexto histórico. 

Finalmente, arte! O tabuleiro precisava ser bonito e, para isso, os estudantes produziram “árvores” – os pinheiros! – que iam rareando à medida que o trajeto se aproximava dos tempos atuais.

Para as transações comerciais, estudamos o escambo de mandiocas (feitas de biscuit) na fase dos indígenas, que eram trocadas por florins (moedas de ouro) da época da expansão do comércio de batata (de acordo com uma tabela de conversão que fizemos – mais matemática aí!) e, finalmente, por Reais, na fase contemporânea do bairro (dinheirinho de brinquedo).

Para jogar, os estudantes partiam do “Início”, que era a origem do bairro com a aldeia indígena estabelecida em torno do rio. Cada vez que jogavam, tiravam uma carta com uma situação criada por eles depois das aulas de história, como: “Foi pescar. Espere uma rodada para jogar de novo”. Ou: “Comprou 5 batatas, pague 10 florins”, na fase da expansão do comércio. Os estudantes decidiram que o jogo terminaria assim que um jogador chegasse no final do percurso, que desembocava na nossa escola.

Detalhes do tabuleiro pronto

O tabuleiro virou uma febre entre os estudantes: em todos os horários livres que tinham, eles se reuniam para jogar. Também foi um modo de difundir o conhecimento que adquiriram, porque convidaram colegas de outras turmas para jogar com eles e, assim, recontavam a história do bairro. Em um evento aberto para a comunidade, as famílias também puderam jogar. O tabuleiro ficou como presente desse grupo para a escola, como um registro lúdico da história do local onde atua.

Habilidades e competências da atividade sobre a história do bairro
Por se tratar de uma turma multietária, os objetivos da prática pedagógica “Dos indígenas até hoje – um jogo sobre a formação do bairro de Pinheiros” se referem aos 1º, 2º e 3º anos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular):
– Aguçar o olhar dos estudantes sobre o lugar em que vivemos e a noção de que esse lugar não surgiu do nada, mas é resultado de acontecimentos e pessoas que viveram antes de nós (EF02GE01 e EF03HI03);
– Aprimorar noções de área e perímetro (EF03MA19);
– Escrever e revisar textos (EF15LP06);
– Criar e brincar (EF15AR24).

Luciana de Ávila Mendes Kim

Graduada em Letras e Pedagogia, com mestrado em Literatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). Tem 20 anos de experiência em sala de aula e, de 2015 a 2022, ocupou as funções de mestre e tutora da Escola Lumiar das unidades em Santo Antônio do Pinhal e na capital paulista, no bairro de Pinheiros. Atualmente, é coordenadora pedagógica da Escola Lumiar Criciúma (SC).

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aprendizagem baseada em projetos, competências para o século 21, educação mão na massa, ensino fundamental, Finalista Prêmio Professor Porvir, Prêmio Professor Porvir

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