Jovens se unem por mudanças sociais em cidade do interior do Ceará - PORVIR
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Inovações em Educação

Jovens se unem por mudanças sociais em cidade do interior do Ceará

Grupo de Itapiúna, no interior do Ceará, criou uma associação sem fins lucrativos para desenvolver ações, oficinas, campanhas e palestras em áreas como educação, esportes, culturas e políticas públicas

por Fernanda Nogueira ilustração relógio 25 de setembro de 2018

A revitalização de uma praça, com direito a limpeza, corte de mato e pintura, foi a atividade escolhida para ser a primeira da Associação das Juventudes de Itapiúna (AJIT), criada na cidade de mesmo nome, no interior do Ceará, nos primeiros meses deste ano. O evento deixou os moradores do entorno tão animados que fizeram questão de contribuir, oferecendo água e comida aos participantes. Uma festa no local foi o evento seguinte com atividades esportivas, brincadeiras, jogos e apresentações culturais.

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A associação, de interesse social e sem fins lucrativos, foi criada por um grupo de jovens, liderados pelo educador social Washington Gomes, de 24 anos, e por um grupo de amigos dele. Cada um tem uma função na associação, dividida em núcleos: educação, esportes e políticas públicas. Alex Olímpio é profissional de educação física e professor de ensino médio. Oferece oficinas de esportes. Trabalha também com música. Lígia Maria cursa enfermagem e cuida da parte financeira. Jean Alef oferece lutas marciais, como caratê e muay thai. Amelina Miranda é técnica de enfermagem. Tassila Freitas é formada em biologia e atua como artesã e mobilizadora social. Daniel Lucas é profissional de educação física e atua em um dos distritos da cidade.

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Em poucos meses, a associação conta cerca de 100 associados, dispostos a ajudar nos projetos, e ao menos 200 beneficiados de todas as idades. O trabalho chega em um bom momento à cidade de cerca de 20 mil habitantes, com quase 4 mil pessoas entre 15 e 24 anos, que sofrem com a falta de trabalho. Apenas 4,3% da população estava ocupada em 2016, segundo dados do IBGE. A ociosidade entre os jovens após o fim do ensino médio é grande, de acordo com Washington, o que leva, em alguns casos, ao consumo de drogas, álcool e a casos de violência. Estes são problemas que a associação espera combater trabalhando com jovens em vulnerabilidade social.

Apesar de ter foco nos jovens de idades entre 13 anos e 24 anos, a associação atrai pessoas de todas as idades para os eventos. Eles são bem-vindos, segundo o educador social. A associação busca, com isso, promover o contato positivo entre as diferentes faixas etárias. O primeiro vídeo de uma série intitulada “Projeto Gerações”, por exemplo, se chama “Juventudes: Vidas e Sonhos” (vídeo abaixo) e une depoimentos de jovens e de adultos sobre o tema.

São muitos os projetos da área de educação, que inclui saúde, política, história, arte e cultura. Um dos integrantes, Alex William, está prestes a iniciar um grupo de debates sobre cinema. Aluno do curso de história e fanático por filmes, o jovem quer discutir temas tratados nas películas com outros jovens. Em setembro, o grupo pretende oferecer um curso de primeiros socorros nas escolas. Planeja ainda promover debates sobre a importância da alfabetização e da educação inclusiva, sobre a população LGBT e sobre o trabalho de professor.

Em esportes, há aulas de basquete para meninas em um ginásio da cidade. A ideia é montar um time local. Um grupo de dança se reúne para ensaiar coreografias para os eventos. Há ainda projetos de aulas de xadrez, artes marciais e vôlei. Na área de políticas públicas, a associação quer usar dados disponíveis sobre a cidade e colher mais informações para traçar estratégias de melhorias. “O índice de mortalidade de jovens está grande? Falta política pública de educação ou de saúde. A EJA (Educação de Jovens e Adultos) está atendendo bem? Qual é o problema? O que falta? O núcleo vai coletar dados, pensar em estratégias e definir demandas”, explica Washington.

O último evento da associação foi um “arraiá”, com quadrilha, danças, desfile jovem da terceira idade, cortes de cabelo e pintura para crianças. Os eventos funcionam como uma forma de angariar fundos para os projetos do grupo, que se mantém aberto ao diálogo com o poder público, com partidos políticos e igrejas, mas sem ter ligação direta com nenhum deles. O contato com a administração municipal e com as escolas é feito em busca de parcerias, de acordo com o educador social.

“Conversamos com o prefeito neste sentido. Mostramos no que podemos contribuir e o que queremos fazer. O poder público não está se opondo. Nosso principal interesse é abrir espaço nas escolas. Trabalhar oficinas de saúde, de sexualidade, de combate ao racismo, à intolerância religiosa, dar curso de primeiros socorros, fortalecer o xadrez e outras modalidades esportivas. Não temos recursos financeiros, mas temos cabeças criativas, com ideias que podem ajudar”, diz Washington.

Hoje, os principais colaboradores são pequenos comerciantes da cidade. Uma professora e ex-comerciante cedeu um espaço para a sede. O grupo já conseguiu arrumar o forro do local. Falta religar a água, a luz e pintar. A inauguração deve ocorrer até o final de agosto. Um contador se ofereceu para ajudar com a parte burocrática. Outros comerciantes fizeram doações para os eventos.

Suiane Oliveira Santos, de 19 anos, é uma das participantes da associação. “Busco oportunidades e também tentar me engajar mais, para deixar de ser tímida. Já está me ajudando muito nesse sentido”, afirma a jovem, que faz trabalho voluntário na paróquia da cidade e atua como catequista. Com ensino médio completo, ela diz esperar que os trabalhos da AJIT ajudem a melhorar a vida em Itapiúna.

“Queremos mostrar que os jovens estão vivos e ativos. A cidade não tem oportunidades, nem de esporte, nem de trabalho. Lutamos por isso”, diz. A participação nos eventos mostra o interesse dos jovens, segundo Suiane. “Antes não saíam de casa. Ficavam no celular. Nos eventos, eles se engajam, participam, cooperam, desde ajudar com material até na ornamentação. Temos grupo no Whatsapp para manter contato”, conta.

O próximo evento da associação será um campeonato de jogos e brincadeiras populares, que deve durar 3 ou 4 finais de semana. Terá queimada, rouba-bandeira, bila (bolinha de gude), elástico, corda, sete pecados, tacobol, garrafão, futebol, basquete, vôlei e xadrez. “Vamos reunir as pessoas para relembrarem a infância e saírem um pouco da frente da TV e do celular”, diz Washington.

No futuro, a associação pretende inscrever seus projetos sociais em editais de incentivos, de instituições como Banco do Brasil, Itaú, Criança Esperança, entre outros. “É nosso plano ousado. Sabemos que é difícil, mas vamos nos unir e tentar. Muitos editais dão apenas certificação, mas só isso já garante credibilidade para concorrer a outros editais”, explica o educador.


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aprendizagem baseada em projetos, autonomia, competências para o século 21, participação dos estudantes, socioemocionais

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