Livro estimula educadores a trabalharem em áreas naturais
Autora defende que visitas devem ser mais sensitivas do que técnicas, com o objetivo de melhorar a relação das crianças com a natureza
por Redação na Rua 14 de dezembro de 2015
Ana Luiza Basílio
Como considerar as vivências com a natureza ou em espaços ao ar livre no processo de desenvolvimento dos indivíduos? A ambientalista Rita Mendonça pretende contribuir com essa questão a partir do livro digital “Atividades em Áreas Naturais”, lançado recentemente pelo Instituto Ecofuturo, com apoio da Valmet Corporation.
Na obra, a especialista reúne uma série reflexões sobre o uso desses espaços e também sugestões de atividades pensadas, segundo a autora, para os diversos níveis de proximidade que os educadores têm com a natureza. Para Rita, educador é ”todo adulto que ensina por suas atitudes”. Assim, todos, professores ou não, têm o papel de ensinar aos pequenos uma maneira saudável de interagir com o meio que nos circunda.
Percurso em construção
Para a autora, o livro traz uma mensagem importante nas entrelinhas: “um trabalho com a percepção de que os problemas ambientais que vivemos, em algum aspecto, têm a ver com o afastamento das pessoas da natureza”. No entanto, ela descarta uma abordagem romântica ao tema.
A obra discorre sobre como nossa relação pode ser iniciada quando crianças. Uma das defesas é que o contato com os espaços naturais partam de visitas “sensitivas” e reflexivas já que esses momentos, na análise da autora, podem valer mais as percepções e os sentimentos do que as visitas técnicas ou científicas. “Sem encantamento o conhecimento não nos afeta de verdade”, coloca a autora em uma das passagens do livro.
Suas reflexões também passam pelo entendimento do fato de que somos seres biológicos, antes do cultural intervir, o que também faz com que Rita defenda o contato do corpo com os ambientes naturais como benéfico ao desenvolvimento integral dos estudantes. “Não é preciso muito esforço para conduzir uma pessoa ou um grupo a esses locais e verificar como são capazes de ampliar o horizonte, a consciência e, por vezes, refazer ou redirecionar caminhos no sentido da autorrealização, condição para um desenvolvimento mais amplo”, avalia.
Por essa razão, o livro estimula a saída das crianças das salas de aula e também das escolas para uma exploração do território. A ambientalista reforça a necessidade dos estudantes terem assegurado esse momento de contato com a natureza. Como exemplo, cita que as crianças devem ter horários livres para brincadeiras ao ar livre; os adolescentes podem ser encorajados a viver situações de acampamento ou fazer outras explorações.
Esse contato também se relaciona com o desenvolvimento físicos das pessoas, como avalia: “em áreas naturais elas têm a oportunidade de trabalhar o equilíbrio em solos irregulares, subir em árvores, aprender sobre suas habilidades e limites”. Em seu entendimento, esse processo também é visto como positivo e necessário aos professores, uma vez que possibilita que se coloquem diante dos alunos em outro ambiente que não o usual da sala de aula.
No entanto, a autora faz um alerta: “a natureza não é sala de aula”, ou seja, não basta apenas levar os estudantes para fora, mas, além disso, propor atividades educativas coerentes naquele espaço, considerando as potencialidades que as características locais oferecem.
A interação com espaços naturais deve ser defendida como um direito dos sujeitos em formação, como coloca em uma das passagens da obra: “As crianças são a natureza tornando-se humana. É importante que elas tenham o direito à convivência com os outros seres vivos com os quais elas sentem grande proximidade. As vivências com a natureza devem, nesse sentido, conservar o vínculo que as crianças já têm, conservando assim sua essência, e são uma forte aliada da educação do ser humano integral”.
Como criar um plano de aprendizado sequencial
Para promover atividades em áreas naturais, a ambientalista faz uso de uma metodologia norte-americana Flow Learning (Aprendizado Sequencial, em português). No Brasil, ela é desdobrada pelo Instituto Romã, instituição da qual Rita é uma das fundadoras, e tem como missão promover o desenvolvimento humano a partir da experiência e do diálogo com a natureza.
No livro, a autora reúne algumas recomendações para que esse trabalho seja efetivo:
Aprendizado Sequencial
– ensine menos e compartilhe mais;
– seja receptivo;
– concentre a atenção das pessoas;
– observe e sinta primeiro, fale depois;
– crie um ambiente leve, alegre e receptivo;
– trabalhe com a natureza e não para ela.
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