Os livros lidos pela equipe do Porvir em 2024
por Redação 20 de dezembro de 2024
Fazer retrospectivas no fim do ano é uma tradição que muitas pessoas seguem, de um jeito ou de outro. Além de conferir a quantidade de minutos ouvidos na naquela plataforma de áudio famosa, esta é a época ideal para fazer um balanço de quantos livros foram lidos ao longo do ano. Um, seis, quinze? Esse número varia bastante de acordo com a rotina e as preferências de cada um.
Em 2024, o Porvir fez diversas listas de leitura sobre os mais variados temas: de literatura infantil a educação antirracista. Agora, chegou a vez de compartilhar o que a equipe leu este ano e adorou.
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Confira abaixo a lista com as leituras da equipe. Você leu algum desses?
Vinícius de Oliveira, editor do Porvir
The Message, Ta-Nehisi Coates, 256 páginas
Ta-Nehisi Coates, jornalista, professor universitário e ativista nos EUA, explora em The Message (“A Mensagem”) como as narrativas moldam nossa visão do mundo. O autor revisita suas primeiras experiências com músicas, livros e revistas na infância, antes de perceber que, com o tempo, situações adversas começaram a acontecer a ele e aos que o cercavam. Os livros acabaram sendo seu refúgio.
Em suas viagens ao Senegal, Carolina do Sul (onde ainda hoje existem estátuas de segregacionistas) e Palestina, Coates reflete sobre sua identidade, contrapondo suas vivências às narrativas sobre a escravidão e os discursos nacionalistas. Seu estilo de escrita, tanto no livro impresso quanto no Kindle, é tão rápido e fluido que nos leva a grifar páginas inteiras.
Ryan Nunes, estagiário
Clube do Livro dos Homens, Lyssa Kay Adams, 320 páginas
Gavin Scott é um astro do beisebol que, no auge da carreira, vê seu mundo desmoronar ao descobrir um segredo de sua esposa, Thea, que coloca o casamento em risco. Quando ela pede o divórcio, Gavin percebe que o orgulho e o medo podem fazê-lo perder tudo. Desesperado para reconquistá-la, ele entra em um clube de leitura, formado por colegas de time que leem romances para poder entender melhor as mulheres. A primeira regra do clube do livro é: ninguém fala sobre o clube do livro.
Frank Ferreira, designer
Tudo Sobre o Amor, bell hooks, 272 páginas
Para bell hooks, quando o significado do amor é pulverizado, as pessoas ficam cada vez mais distantes de entendê-lo. Neste livro, a autora procura elucidar o que é, de fato, o amor, seja nas relações familiares, românticas e de amizade ou na vivência religiosa.
A sensação é de estar na cozinha de Bell Hooks, comendo um bolinho e tomando café. A conversa fica tão profunda e tão íntima que você começa a rever sua vida inteira e a enxergar a possibilidade de uma civilização que possa florescer no amor. Não é daqueles livros em que você lê com rapidez ou facilidade, porque exige pausas para entender tudo aquilo que foi dito. Foi uma jornada inesquecível, um mergulho interno que jamais imaginei passar. Tive que me despir diante de todas as minhas certezas e me abrir para receber o novo.
Ana Luísa D’Maschio, editora assistente
Buscar, Olga de Diós, 40 páginas
Talvez você estranhe encontrar um livro infantil nesta lista do Porvir, mas há títulos e autores que nos tocam independentemente da idade. Esse é o caso das obras da espanhola Olga de Diós. É impossível não sorrir com suas ilustrações ou deixar de refletir sobre as histórias de seus monstros. Afinal, todos os seus personagens abordam temas essenciais que precisam ser trabalhados desde cedo, como o respeito à diversidade, à natureza e à autovalorização.
“Buscar”, o livro que recomendo aqui, conta a história de Bu, um personagem que anda de cabeça baixa, sempre em busca de algo sem saber exatamente o que é, até que um fato simples muda sua perspectiva. Aposto que você, adulto, já refletiu sobre quantas oportunidades deixou passar ao procurar algo que nem sabia o que era, ou sobre quanto tempo perdeu se preocupando demais com alguma coisa, sem aproveitar o presente.
Beatriz Cavallin, coordenadora de comunidades
Lore Olympus, Rachel Smythe, 384 páginas
A webcomic, que agora conta com versões físicas, é uma releitura envolvente e atual da mitologia grega. No primeiro volume, acompanhamos a história de Perséfone, que, após conhecer Hades em uma festa, precisa compreender um novo sentimento que surge dentro de si. Ao mesmo tempo, ela navega pelas complexas relações e políticas que governam o Olimpo, enquanto tenta descobrir seu próprio lugar e poder. Uma leitura rápida para quem quer distrair a mente.
Luan Silva, designer
A Palavra que Resta, Stênio Gardel, 160 páginas
“A palavra que Resta” conta a história de Raimundo que, aos 71 anos, decide aprender a ler. Tudo para ler uma carta que recebeu há mais de cinquenta anos. Nascido e criado na roça, ele não teve oportunidades de ir à escola, mas o desejo de conhecer as palavras dedicadas a ele nesta carta o fazem buscar por esse novo conhecimento.
O livro me impactou em todas as camadas possíveis. A escolha da narrativa, a imersão dos personagens, o ritmo do livro e a transformação que a alfabetização causa na vida do Raimundo. Ele “se torna gente” quando domina a leitura e a escrita e nesse processo de humanização a gente se depara com a humanidade nua e crua em vários aspectos.
Mayara Penina, coordenadora de projetos
As Vira-Latas, Arelis Uribe, 96 páginas
“As Vira-lLatas”, da escritora chilena Arelis Uribe, é uma coletânea de oito contos narrados em primeira pessoa. Qualquer semelhança com as infâncias e juventudes de meninas brasileiras não é mera coincidência. As protagonistas são meninas que vivem nas periferias de Santiago, no Chile, no início dos anos 1990. Elas atravessam a adolescência em meio às dores e descobertas dessa fase, enfrentando desafios que são atravessados por suas condições sociais e raciais: são pobres, mestiças.
O texto não as retrata como politizadas ou panfletárias, mas, ainda assim, ao acompanharmos suas aventuras, fica evidente que serão as próximas feministas. O título faz referência a essas meninas sem pedigree e sem correntes. A apresentação do livro traduz essa ideia de forma perfeita: “Já sabem o que se diz sobre a inteligência dos cachorros vira-latas, dessa estranha facilidade para entrar em nós, simplesmente sem pretender”.
Dalila Ferreira, redatora
O Peso do Pássaro Morto, Aline Bei, 168 páginas
“O Peso do Pássaro Morto” narra, em fragmentos emocionantes, a trajetória de uma mulher dos 8 aos 52 anos. A obra alcança um dos maiores desafios da escrita: a simplicidade. Essa qualidade automaticamente envolve o leitor, levando-o a mergulhar e abraçar os relatos, seja na descrição da primeira paixão destrutiva ou na solidão da maturidade.
Este foi o primeiro livro que li da escritora Aline Bei. Como disse Emicida em um tuíte sobre a obra: “Essa mina tem a caneta pesada!” E tem mesmo. Aline Bei escreve de um jeito que não poupa nenhuma palavra ou frase. Um exemplo marcante é a personagem, aos 48 anos, confrontando seus próprios pensamentos:
“…ser adulto por vezes não deixa a beleza das coisas entrar tão facilmente, a gente começa a desconfiar. Mas era bonita à beça, a casa nova, de uma beleza suficiente para me fazer respirar de novo não pela boca…”
Ruam Oliveira, repórter
Salvar o Fogo, Itamar Vieira Jr, 320 páginas
Para quem teve contato com “Torto Arado”, ingressar nas páginas de “Salvar o fogo”, novo romance de Itamar Vieira Junior, é como seguir com a mesma sensação que o primeiro livro evoca. Ambientado no mesmo universo, a nova história tem como personagem central Luzia do Paraguaçu, alguém tão marcante quanto foram Bibiana e Belonísia. Luzia é estigmatizada pela comunidade onde vive, composta por pessoas como ela, que trabalham a terra em troca de consumir o alimento que ela produz. Aos poucos a casa de Luzia vai se esvaziando, com os irmãos indo procurar vida em outros territórios, fugindo para a capital, ou morrendo – como é o caso de seus pais. E ela vai ficando.
“Salvar o fogo” é daquelas histórias que ficam com o leitor tempos depois de findada a leitura. Vencedor do Prêmio Jabuti de 2024, é a reafirmação de Itamar Vieira Junior como escritor que coloca as histórias de um povo brasileiro – que por muito tempo viveu às margens das narrativas – no centro, dando-lhe feições, complexidades e uma voz.
Larissa Werneck, coordenadora de projetos
La Cocinera de Frida, Florencia Etcheves, 536 páginas
O livro “La Cocinera de Frida” (“A cozinheira de Frida”, também disponível em português) é simplesmente fascinante e é um mergulho na história e na cultura do México. A escritora Florencia Etcheves narra a trajetória de Nayeli, uma jovem mexicana tehuana (nascida em Tehuantepec, distrito do estado de Oaxac) que fugiu de sua casa para viver na Cidade do México. Nayeli passa a trabalhar na Casa Azul, onde vivia Frida Kahlo, graças ao seu talento culinário!
Muitos anos depois, após a morte de Frida, Nayeli foi viver em Buenos Aires, onde construiu sua família. Em alguns capítulos, o livro é narrado pela neta de Nayeli, que descobre um segredo sobre a avó que pode mudar sua vida.
La Cocinera de Frida é uma linda ficção histórica sobre os sabores do México e a amizade entre duas mulheres.
Marina Lopes, diretora de conteúdo
O Livro dos Abraços, Eduardo Galeano, 272 páginas
“O Livro dos Abraços”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, é uma obra para quem gosta de se emocionar com as histórias do cotidiano, aquelas que muitas vezes passam despercebidas por um olhar apressado.
Em um emaranhado de pequenas crônicas, somos convidados a viajar por sonhos na América Latina, reviver memórias e refletir sobre a vida. Como o próprio título sugere, essa leitura é um verdadeiro abraço para quem busca uma escrita sensível e afetuosa.
Tatiana Klix, diretora do Porvir
O Corpo Encantado das Ruas, Luiz Antonio Simas, 176 páginas
O “Corpo encantada das ruas”, de Luiz Antonio Simas, é um livro de crônicas que contam histórias das ruas do Rio de Janeiro. Esses relatos são deliciosos de ler, não apenas por serem escritos com uma linguagem poética, mas porque resgatam e valorizam saberes das pessoas e da cultura popular. Ao descrever o cotidiano da vida carioca, de forma leve, os textos ensinam muito sobre conhecimentos relacionados ao carnaval e outras festas populares, à música, às encruzilhadas, aos botecos e a modos de viver em conexão com a cidade e sua população.