MediaLab da UFRJ é espaço aberto para explorar web - PORVIR

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MediaLab da UFRJ é espaço aberto para explorar web

Escola de Comunicação recebe pesquisadores e hackers para entender e construir ferramentas sociais

por Giulliana Bianconi ilustração relógio 22 de julho de 2013

Na sala reformada que ainda tem cheiro de nova e ganhou status de laboratório, a de número 106 no corredor da ECO (Escola de Comunicação da UFRJ), pesquisadores interessados em discussões sobre abertura e visualização de dados fazem encontros presenciais. Não tem sido raro ver essa turma também no “jardim secreto” do mesmo prédio, onde eventos noturnos abertos ao público geral estendem as conversas sobre temas intrinsecamente relacionados à web e suas redes para uma esfera menos formal e acadêmica.

É um público que está orbitando em torno do MediaLab, o novo laboratório em mídias e métodos digitais que abriu as portas no fim de 2012 e, ao longo do primeiro semestre de 2013, apresentou vocação para renovar metodologias de pesquisa e de ação. Nas duas linhas de pesquisa que estão no centro da discussão por lá, Cartografia das Controvérsias e Livro livre, há espaço para bastante coisa. Desde o acesso e visualização de dados web numa perspectiva de rede até a discussão de plataformas livres para publicação e acesso de pesquisas, artigo e livros.

crédito xiaoliangge / Fotolia.com

Essa estrutura contempla, inclusive, debates e hackdays sobre temas de muito interesse público. Em junho, enquanto a população ia às ruas mobilizada por causas diversas, o transporte, uma das bandeiras mais fortes do protesto, foi tema agregador no MediaLab UFRJ. O evento Hackday Transporte Público deu início a um levantamento de dados sobre o funcionamento da malha do Rio que segue sendo realizado agora em um grupo on-line com outros encontros presenciais

“Esse posicionamento defendido no MediaLab, de que a universidade tem que ser mais aberta e ter função mais social, é também no que eu acredito e o que orienta a forma de o grupo trabalhar”, diz Pablo de Soto, doutorando da escola e colaborador do novo espaço. Ele era um dos que estavam circulando no MediaLab no primeiro hackday do laboratório, que atraiu a atenção, inclusive, da mídia internacional. No vídeo abaixo, reportagem do The New York Times.

Arquiteto que abraçou desde cedo na sua área a ética hacker, de Soto andou bastante pelo mundo antes de chegar ao Rio. Desenvolveu projetos com o suporte das tecnologias da informação e comunicação que buscam conexões entre os espaços físico e virtual, a exemplo do WikiPlaza, um exercício de cidadania participativa realizado em praças públicas onde qualquer pessoa era convidada a interagir com instalações que faziam parte de uma infraestrutura montada para estimular a troca e a construção de conhecimento aberto nesses espaços “comuns” a todos.

Agora, junto a cerca de mais 30 pessoas, incluindo outros experientes pesquisadores da UFRJ, de Soto está compartilhando a vivência que também traz de outro laboratórios, como o MediaLab-Prado, em Madri, e os hacklabs do leste europeu. “Essas são as referências fortes para mim, pois são espaços de troca, de criatividade, de inovação, mas sem controles biométricos para entrar, sem aquele clima corporativo, sem o objetivo de desenvolver produtos comerciais”. MediaLab, é bom esclarecer, não é uma marca ou um selo que laboratórios de universidades recebem de maneira formal. É um nome do qual se apropriam espaços que têm em comum a proposta de pesquisa, experimentação e desenvolvimento de processos e produtos na cultura digital. A identidade criada entre alguns deles é orgânica, fruto de interesses comuns.

“Estamos muito acostumados a lidar com a ciência já feita, com a universidade já constituída, mas outra coisa é pegar o processo de formação, de gênese, e perceber como tudo está sendo construído.”

Exemplo disso é a linha Cartografia das Controvérsias, implementada por Fernanda Bruno, a coordenadora do MediaLab UFRJ. Há três anos, ela ocupava uma das cadeiras do curso de mesmo nome, comandado pelo filósofo e sociólogo francês Bruno Latour, em Paris. Foi de lá, do MediaLab da SciencesPo, que trouxe na bagagem conhecimento, ideias e percepções para desenvolver por aqui também as tais cartografias, alinhando o campus carioca a alguns centros de pesquisa mundo afora que estão atentos às possibilidades de trabalho a partir da busca, visualização e leitura de dados na web.

Cartografias, mapa de rastros

Qualquer um pode testar. Basta escolher um tema que apresente controvérsias e jogá-lo nas buscas da internet incluindo as redes sociais, fóruns etc. Menções diversas surgem. São opiniões, críticas, pesquisas. Mas são, antes de tudo, dados. Dados que foram produzidos por pessoas. Pessoas que provavelmente tem seus perfis ativos na rede. O que o campo das “cartografias das controvérsias” propõe é mapear esses dados, assim como os atores que os publicaram, apresentando-os de forma visual e relacionada à discussão do tema ao qual eles fazem parte. “Atores deixam rastros e saber, hoje, como encontrar rastros também é uma habilidade importante para lidarmos com essa web onde estamos todos tão expostos”, defende Fernanda Bruno, que explica ainda que a pesquisa vai bem além da construção da cartografia em si. “Estamos muito acostumados a lidar com a ciência já feita, com a universidade já constituída, mas outra coisa é pegar o processo de formação, de gênese, e perceber como tudo está sendo construído.”

No Media Lab UFRJ, o tema está fervendo, e qualquer assunto de interesse pode ser explorado com o suporte de ferramentas que permitem montar essas cartografias. “Temos aqui, por exemplo, um trabalho de cartografia que trata do assunto  ‘aquecimento global na wikipedia’ e outro que investiga as ‘controvérsias de produções autorais coletivas’”, conta Fernanda Bruno. Ela explica que está no horizonte tornar público todo o processo de pesquisas. “Os dados brutos, as ferramentas utilizadas e, claro, os resultados das pesquisas. Fazemos parte da cultura da transparência e do compartilhamento, embora isso seja algo que estamos construindo, dia a dia, pois exige infraestrutura da universidade, exige apropriação das formas de se compartilhar ciência”, completa.

Além do site do Media Lab, alguns sites são recomendados pela pesquisadora para quem quer entender melhor as cartografias:
http://www.mappingcontroversies.net/
http://medialab.sciences-po.fr/controversies/
http://www.demoscience.org/
http://mappingcontroversies.co.uk/

Multidisciplinar

Não são apenas pesquisadores e alunos da comunicação interessados em mapas, em dados, em mídias que estão no MediaLab da UFRJ. O centro já conta professores da faculdade de Psicologia, e está aberto a pesquisadores de qualquer área, inclusive de outras instituições, que possam dialogar com as pesquisas em andamento. “Hoje, o nosso trabalho aqui tem predominância dos temas internet, política e subjetividades. Tem espaço pra muita coisa”, pondera Fernanda.


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