Milton Santos: exposição e curso gratuito apresentam a obra do geógrafo brasileiro - PORVIR
Claudio Rossi/Abril Comunicações S.A.

Inovações em Educação

Milton Santos: exposição e curso gratuito apresentam a obra do geógrafo brasileiro

Aberta até o dia 8 de outubro, a Ocupação Milton Santos, em São Paulo, traz atividades educativas combinadas à exposição e que refletem quem foi o geógrafo e professor brasileiro

por Ruam Oliveira ilustração relógio 14 de agosto de 2023

Milton Santos (1926-2001), um dos cientistas e geógrafos negros mais importantes do Brasil e do mundo ganhou recentemente uma exposição que homenageia sua vida e produção científica. Com uma vasta obra que reúne colaborações em universidades nacionais e internacionais, ele escreveu mais de 40 livros e publicou mais de 300 artigos científicos em periódicos de renome.

A Ocupação Milton Santos, produzida pelo Itaú Cultural e aberta ao público em São Paulo (SP), traz 150 peças variadas – entre fotos, vídeos e documentos – que contextualizam a figura do professor baiano e ampliam as chances de estar em contato com o pensamento dele. Entre os pontos abordados pelo cientista, está a relação dos espaços com questões culturais, econômicas e filosóficas. 

Filho e neto de professores da educação básica, Milton Santos nasceu em Brotas de Macaúba, na região da Chapada Diamantina, na Bahia. Formado em Direito, começou sua vida como professor dando aulas de geografia no município baiano de Ilhéus onde também atuou como jornalista, sendo correspondente do jornal A Tarde. 

Milton passou por diversas universidades brasileiras, entre elas a UFBA (Universidade Federal da Bahia) e ocupou cargos importantes como, por exemplo, o de subchefe da Casa Civil na Bahia durante o governo de Jânio Quadros.

Durante o período da ditadura militar, viveu um exílio que durou 13 anos. Ao longo deste período ele atuou como professor visitante e pesquisador em universidades na França, como a Sorbonne, em Paris. Também lecionou no MIT, nos Estados Unidos, na Venezuela, no Peru, Canadá e na Tanzânia. Na volta do exílio, o professor lecionou na USP (Universidade de São Paulo) e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Luciana Modé, coordenadora do Observatório Itaú Cultural, considera que o legado de Milton é de extrema importância para pensar o papel do pensamento científico dos países do hemisfério sul. “O Milton, assim como outros intelectuais negros, passou por processos de esquecimento e desvalorização, e ele produziu uma obra que se pretende verdadeiramente transformadora, que faz bastante sentido nos dias de hoje”, afirma. 

A relevância da obra de Milton Santos, para a coordenadora, é também a capacidade de diálogo com o que acontece atualmente no mundo, principalmente em relação às desigualdades sociais e aos modelos de desenvolvimento excludentes.

Materiais para a prática pedagógica

Suas contribuições também são basilares para o debate dentro da sala de aula: o geógrafo não se restringiu ao espaço geográfico de “onde” as sociedades vivem, mas sim “como” vivem. Assim,estudantes podem se reconhecer e os educadores conseguem investir em protagonismo para pensarem, em conjunto, vida e aspectos locais da comunidade escolar. 

Entre as atividades possíveis baseadas no trabalho de Milton Santos, sugere Luciana, a escola promover com a turma um reconhecimento de território, conhecendo o espaço físico e, a partir disso, construir um debate sobre o bairro onde a escola está inserida e até mesmo pensar projetos nessas áreas que estejam alinhados com as disciplinas. 

Como uma extensão à exposição, está disponível gratuitamente na plataforma Polo um curso sobre quem foi o geógrafo. Intitulado  “Milton Santos: cidadão do mundo e geógrafo das quebradas”, a formação é autoinstrucional e possui carga horária de 10h e é conduzida por um dos ex-alunos de Milton Santos, o ativista social Billy Malachias.

“O curso segue a trajetória socioespacial de Milton Santos e os principais conceitos desenvolvidos em sua perspectiva teórica. Apresenta aspectos da vida e obra dele e mostra alguns dos principais conceitos e ideias do autor, para contribuir e fornecer subsídios para as práticas pedagógicas em sala de aula”, afirma o texto de apresentação do curso. Ao todo, são cinco módulos temáticos: A trajetória socioespacial; O espaço geográfico; Os circuitos espaciais da economia; O lugar do cidadão e A globalização. 

Além dessa formação online, haverá encontros presenciais no dia 19 de agosto e 2 de setembro. Clique aqui para conferir a agenda.

Arte e poesia 

As iniciativas que falam sobre o geógrafo também abrem espaço para discutir arte e poesia de maneira transversal à obra do professor brasileiro. Para a exposição, o poeta Sérgio Vaz produziu o poema “Miltongrafia”, exclusivo para a atividade. 

No mapa-múndi  

Ele Brota em Macaúbas  

E colhe África onde se planta  

Periferia.  

Na superfície da pele

cor de petróleo  

–  terreno fértil para estudar o passado

e entender o futuro,  

escorre o suor da  

sabedoria.

Além disso, a atividade Territórios Culturais Periféricos, que faz parte do projeto Arte na Rua, complementa a Ocupação Milton Santos. Ela acontece aos domingos, às 15, com apresentações abertas ao público que passeia pela Avenida Paulista, em frente ao Itaú Cultural. Grupos artísticos e de dança das periferias de São Paulo buscam traduzir o conceito de território cunhado por Milton em coreografias e outras intervenções artísticas.


TAGS

competências para o século 21, ensino fundamental, ensino médio

Cadastre-se para receber notificações
Tipo de notificação
guest

4 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais votados
Comentários dentro do conteúdo
Ver todos comentários
4
0
É a sua vez de comentar!x
Por que todo educador precisa conhecer Milton Santos