Na EJA, professora realiza trabalho com fotos para demonstrar o papel da escola
Imagens ganharam exposição e debates sobre as questões educacionais e os desafios da modalidade de ensino em colégio no Rio Grande do Sul
por Katiuci Pavei 7 de outubro de 2021
Sou professora de Sociologia na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp/UFRGS). Ao pensar em uma atividade sobre imagens de estudantes da educação básica, ensino fundamental e ensino médio, fiz uma busca na internet e o algoritmo me apresentou apenas crianças e adolescentes. Porém, nas salas de aula, o corpo estudantil revela a adultez das trajetórias de suas vidas.
Inquietações surgiram: por que jovens, adultos e idosos não são (re)conhecidos no imaginário social como estudantes de educação básica? Poderiam esses(as) alunos(as) ter uma reduzida visualidade social associada à invisibilidade social por seus corpos denunciarem o rompimento de seus itinerários escolares iniciais, causado por questões que extrapolam as suas vontades individuais? Ao não vê-los(las), permanece na obscuridade a denúncia da estrutura social brasileira, historicamente pautada na violência, na desigualdade, na exclusão. Como propor um (re)pensar acerca dessa específica condição estudantil e de sua relação com o ambiente escolar, por meio de uma linguagem atrativa, interativa e de partilha de experiências?
Surgiu então o Projeto “Visualidades da EJA”. Escolhi o uso da fotografia como dispositivo de ampliação da visibilidade do mundo escolar e das relações estabelecidas sob o foco dos atores sociais envolvidos, enquanto sujeitos de ação e criação de visualidades e de conhecimentos. Foram realizados encontros de formação e de prática fotográfica, ambos sob a mediação do fotógrafo convidado.
Como resultados dessa ação pedagógica posso destacar um forte engajamento, totalizando 697 fotografias. Ao analisar o conjunto de imagens, percebi a retratação da natureza, sendo que, acompanhando os(as) participantes durante os seus registros, pude ouvir como achavam belo o lugar, longe do barulho da cidade.
A estrutura da escola chamou a atenção pelos inúmeros registros, porém para além das construções e a estética física, a questão simbólica engendrava um sentido maior e mais profundo para àquele conjunto arquitetônico e de objetos escolares, uma vez que representavam o recomeço dos estudos e a identidade discente.
Diversas fotografias envolviam cenas nas quais os(as) estudantes estavam demonstrando os seus saberes potencializados pela/na escola, como lendo, escrevendo ou pesquisando em computadores, sendo que nas conversas foi destacado que o colégio representava o momento de busca por mais conhecimento e projetos futuros poderiam ser traçados. Encontrei retratados trabalhos escolares como grafites e instalações, ou ainda, cena de teatro, instrumento musical, indicando a autoria vinculada ao melhoramento da autoestima e o autorreconhecimento.
Foram promovidas situações nas quais produções dos(as) alunos(as) puderam ser compartilhadas com a comunidade escolar: miniexposição montada em painel físico na escola; exibição durante a festa de aniversário do colégio realizada junto com a EJA, convite à participação no Concurso Fotográfico Olhares do CAp (Colégio de Aplicação), cujas imagens selecionadas ficaram ilustrando o banner do site da instituição durante todo o ano e os(as) estudantes receberam certificados.
Se a fotografia materializa as imagens mediante exposição luminosa, também ela poderá lançar luz sobre questões, provocando reflexões e narrativas sobre os sujeitos da EJA, seus lugares na educação, seus espaços no ambiente escolar, seus olhares sobre a escola, seus entendimentos do coletivo estudantil, e de si, criando a história e se fazendo seres histórico-sociais no sentido que esses grupos podem se reconhecer e serem percebidos como construtores ativos de sua trajetória escolar e cidadã.
Clique na seta amarela ao lado da foto abaixo para conferir a galeria de imagens:
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Katiuci Pavei
Professora de Sociologia da Educação de Jovens e Adultos do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Licenciada e bacharel em ciências sociais, mestre em educação pela UFRGS.