‘O Brasil tem sede de empreendedorismo’
Para Rafael Moreira, do Ministério de Ciência e Tecnologia, não faltam boas ideias, e sim um ecossistema para transformá-las em produtos
por Patrícia Gomes 4 de fevereiro de 2013
Por aqui, boas ideias não faltam. Nem gente capaz de executá-las. O que falta mesmo é um ecossistema maduro capaz de permitir a fluidez de todo esse processo, que vai desde a idealização, planejamento e viabilização financeira até a comercialização de um produto. A opinião é de Rafael Moreira, coordenador-geral de software e serviços de tecnologia da informação do Ministério de Ciência e Tecnologia e um dos responsáveis pelo Startup Brasil, programa do governo federal lançado no fim do ano passado com o intuito de fomentar a indústria crescente de startups. “O Brasil tem sede de empreendedorismo, mas o ecossistema aqui é imaturo e desconexo, com poucas aceleradoras”, diz ele.
Tal ecossistema imaturo dificulta, por exemplo, que jovens universitários consigam captar verba para a seu projeto. “Vejo meninos da USP com ideias ótimas se esforçando muito para levantar R$ 100 mil. No Vale do Silício, ideias piores levantam US$ 1,5 milhão com mais facilidade”, diz Moreira. E mesmo quando conseguem se estabelecer e “produtizarem” sua ideia, muitos empreendedores acabam tropeçando em etapas posteriores – e às vezes não muito complexas –, como um problema básico na distribuição e na comunicação. Um bom processo de aceleração, acredita ele, poderia ajudar esses jovens a entrarem no mercado em posição de muita competitividade.
Com o Startup Brasil, portanto, a ideia é possibilitar o encontro dessa sede de empreendedorismo, vinda dos jovens das startups, com as aceleradoras, ambas as partes selecionadas pelo governo por meio de edital. Atualmente, o programa está na fase de escolha das aceleradoras; 23 se inscreveram até 31 de janeiro e as seis selecionadas devem ser anunciadas até 1o de março. Pelo edital, contarão pontos critérios como qualidade do time que faz parte da empresa, os parceiros estratégicos, os mentores.
De um lado, a aceleradora terá a missão de dar suporte às startups criadas pelo governo, oferecer mentoria, ajudar no planejamento, na gestão, no processo de financiamento e na inserção do produto no mercado. De outro, terá a seu favor fato de o chamado às startups ter tido visibilidade nacional, aumentando a chance dos portfólios dos empreendedores serem bons; terá facilidade de conexão com o setor público; e ainda o acesso a um escritório que o governo está montando no Vale do Silício.
Pelo cronograma, em março, é a vez de o ministério lançar o edital para a seleção de 40 startups. Poderão se inscrever empresas de quaisquer áreas com até três anos de existência para o processo de aceleração que começa junho e dura até um ano. Cada uma dessas jovens empresas poderá receber até R$ 200 mil para viabilizar sua ideias. Serão privilegiadas aquelas que envolverem mais de uma área do conhecimento – para evitar, segundo Moreira, que apenas empresas voltadas ao e-commerce se apresentem e estimular que outras áreas, inclusive educação, entrem no páreo. No total, 25% das escolhidas serão internacionais. “Nós queremos ser um pólo de exportação de startups. Nessa área de TI, a competição é global e trazer gente de fora enriquece o processo”, afirma Moreira. Por enquanto, não haverá distinção entre projetos que envolvam negócios sociais ou negócios tradicionais. “Nós queremos excelência.”
O objetivo do ministério, com o programa, é transformar o Brasil em referência internacional para a inovação, fomentando de maneira mais sistemática iniciativas empreendedoras. Estão previstos três processos de aceleração, que devem chegar a 150 startups e envolver R$ 40 milhões.