Pensamento científico começa com a curiosidade e ganha impulso com a tecnologia
Com o apoio tecnológico, processo de experimentação e erro se torna mais fácil e desenvolve, ainda mais, as premissas da curiosidade e investigação em sala de aula
por Ana Luísa D'Maschio 1 de abril de 2022
Plantar um grãozinho de feijão para acompanhar cada etapa da germinação é algo bastante comum no ensino infantil. Perceber a evolução da semente no dia a dia, registrando as mudanças em fotografias, por exemplo, envolve curiosidade e expectativa. Uma atividade simples, mas que retrata um assunto cada vez mais comum nas escolas: o pensamento científico. Investigar, elaborar e testar hipóteses, de maneira crítica e criativa, a fim de desenvolver o raciocínio com base em conhecimentos de diferentes áreas, pode – e deve – ser trabalhado desde os primeiros anos na escola. O pensamento científico é, também, uma das competências listadas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
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“Associada ao pensamento científico, a resolução de problemas é uma das competências mais importantes que se estabelece em cada um de nós”, reflete o professor Alberto Cunha, criador e apresentador do canal Aprendiz 21. “Com a tecnologia, a possibilidade do desenvolvimento do pensamento científico se multiplica muito. Principalmente a tecnologia de comunicação, que nos dá acesso a áreas, estruturas, conceitos, experimentações e simulações que antes nós não conseguiríamos”, afirma.
A metodologia científica envolve todas as áreas do conhecimento, e a tecnologia é grande auxiliar no processo de pesquisa, ao oferecer acessos que um livro, por exemplo, não consegue, comenta Alberto. “Acredito que nós precisamos perder um pouco o medo de usar a tecnologia. Precisamos levá-la ao nosso trabalho científico, com cada uma das nossas disciplinas”, sugere o professor.
Analista pedagógico da APDZ – Educação e Tecnologia, Gabriel Fernandes destaca que o pensamento científico é pautado em algumas características, como racionalidade, objetividade, acumulação de noções e ideias. “Devemos pensar que a tecnologia vem ao encontro a este pensamento e corrobora com o seu desenvolvimento, auxiliando a construção de linearidade no pensamento das pessoas”, diz. “Além disso, a tecnologia ajuda no processo de compreensão de conceitos, leis e fenômenos que são mais ratificados com o seu uso”, complementa.
Curiosidade e criatividade
Em um mundo com excesso de informações rápidas, como despertar o senso crítico dos alunos? E como relacioná-lo com a tecnologia? Essas são perguntas que a professora Débora Zerbinatti Ferreira, do Colégio Senemby, em São Paulo (SP), costuma fazer. E a resposta é usada com sua turma do 5º ano: “Precisamos explorar os conhecimentos dos estudantes, aguçando a criatividade, fazendo perguntas certeiras, que instiguem a vontade de achar a solução, de experimentar, de criar, de buscar a resposta. E o uso da tecnologia como fonte de pesquisa e criação veio para proporcionar o pensamento crítico e científico, por meio da solução de problemas, colocando o aluno como protagonista.”
Com a pandemia e o ensino híbrido, a tecnologia “invadiu o dia a dia da escola” no sentido positivo, observa Débora, e esse processo apoiou fortemente a autonomia dos alunos que puderam ter acesso a equipamentos e boa conexão. “Eles procuram soluções, erram, acertam, apresentam o resultado para os amigos e, através da troca de experiências, chegam a conclusões. Os projetos fazem parte do dia a dia, o levantamento dos temas, bem como as hipóteses, as soluções e a troca. Usar a tecnologia na escola, para os alunos, é falar a língua deles”, diz.
Professor de robótica do mesmo colégio, Victor Cortes Santana concorda com Débora. “As aulas precisam ser interessantes para os alunos e, para isso, é importante pensar em estratégias para solucionar problemas variados. Isso fortalece a criatividade”, comenta o educador. “A tecnologia está diretamente relacionada ao pensamento científico, pois conseguimos testar e mostrar na prática uma afirmação e validar a mesma na hora”, pontua Victor, lembrando o quanto a tecnologia chama a atenção dos estudantes, além de ser um apoio para qualquer disciplina.
Espaço de experimentação
O pensamento científico começa a partir da curiosidade – e ela abre portas para diferentes possibilidades no ensino e na aprendizagem, acredita a professora Débora. “É aí que entra a tecnologia, como instrumento facilitador de solucionar enigmas, buscar respostas, acertar, errar, tentar novamente. Tecnologia e pensamento científico caminham juntos”, pontua.
O erro, inclusive, não deve ser tratado como algo ruim em sala de aula, analisa Gabriel Fernandes, da APDZ. “Pelo contrário, a partir de ideias que fujam da normalidade, e até mesmo do que é correto, podemos trabalhar para que cheguemos à resposta correta junto com os alunos. Para isso, porém, é necessário que o professor deixe claro aos discentes que a sala de aula é um momento de experimentação e descobertas, e que eles precisam trabalhar em conjunto, uns com os outros e com a tecnologia, para construírem da melhor forma possível o seu conhecimento”, comenta Gabriel.
O assistente pedagógico deixa algumas ideias para professores que ainda não usam, mas pretendem trabalhar com tecnologia e pensamento científico em suas classes. “Apropriem-se do recurso tecnológico que vocês utilizarão, façam um planejamento onde o aluno consiga conectar o tema trabalhado com a tecnologia. Além disso, deixem que ele explore e ofereçam subsídios para que ele tenha capacidade de desenvolver o proposto de maneira autônoma”, sugere Gabriel.
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