Programa de ensino de IA nas escolas do Piauí ganha prêmio da Unesco
Piauí Inteligência Artificial venceu o Prêmio Unesco por sua abordagem ética e inovadora na educação pública. Conheça os detalhes do currículo, a formação docente e um caso de sucesso que mostra o impacto do projeto nas escolas
por Redação
10 de outubro de 2025
O programa Piauí Inteligência Artificial, uma iniciativa do Governo do Piauí para a rede pública estadual, foi um dos vencedores do Prêmio Unesco Rei Hamad Bin Isa Al-Khalifa, que reconhece boas práticas na adoção das TIC (tecnologias da informação e comunicação) na educação. Desenvolvido pela Seduc (Secretaria de Estado da Educação), o projeto recebeu a honraria concedida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura em parceria com o governo do Bahrein, na quinta-feira (9).
A proposta piauiense concorreu com 86 iniciativas de mais de 50 países e foi selecionada ao lado de programas da Bélgica, Egito e Reino Unido, consolidando o estado como referência no setor.
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Um prêmio para a ética na tecnologia
Criado em 2005 com o apoio do Reino do Bahrein, o Prêmio Unesco Rei Hamad Bin Isa Al-Khalifa celebra indivíduos e organizações que promovem o uso criativo das tecnologias para aprimorar o aprendizado. Na edição que marcou seu 20º aniversário, o tema foi “Preparando alunos e professores para o uso ético e responsável da inteligência artificial”.
Além do projeto brasileiro, foram reconhecidas as seguintes iniciativas:
- AI4InclusiveEducation (Bélgica): Desenvolve a consciência cívica de jovens de 10 a 18 anos por meio da IA, explorando temas como privacidade de dados e vieses algorítmicos.
- Mahara-Tech (Egito): Plataforma nacional de educação digital que oferece treinamento gratuito e inclusivo sobre IA em árabe, fortalecendo as competências digitais na região.
- Experience AI (Reino Unido): Permite o acesso global à educação em IA para jovens de 11 a 14 anos, ajudando-os a compreender como tecnologias, a exemplo de mecanismos de busca e chatbots, influenciam suas vidas.
Cada um dos quatro projetos vencedores recebeu um prêmio de US$ 25 mil (cerca de R$ 140 mil) durante a cerimônia de premiação na Universidade do Bahrein.
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Como é o programa Piauí Inteligência Artificial
O Piauí foi o primeiro território das Américas a incluir a disciplina de Inteligência Artificial no currículo da educação básica, um feito já divulgado durante a Semana da Aprendizagem Digital, realizada pela própria Unesco, na França, em 2024.
Implantado no mesmo ano, o programa já beneficia mais de 120 mil estudantes, do 9º ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio. O objetivo é preparar os jovens para os desafios do mundo contemporâneo e para as oportunidades geradas pela revolução tecnológica.
A iniciativa é resultado de uma parceria da Seduc com a Unipampa (Universidade Federal do Pampa), o IFFar (Instituto Federal Farroupilha) e a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), instituições vinculadas ao MEC (Ministério da Educação).
A arquitetura curricular do programa foi um dos aspectos avaliados para a premiação. Ela está estruturada para desenvolver o letramento em inteligência artificial a partir de uma abordagem teórica e prática. A metodologia contempla dois eixos fundamentais: “pensar com a IA”, que se refere à aplicação da tecnologia, e “pensar sobre a IA”, que propõe a compreensão do seu funcionamento e de suas implicações.
O currículo é baseado em três pilares principais:
- Letramento em dados: estudo sobre a origem, coleta, curadoria e vieses dos dados que alimentam os sistemas de inteligência artificial.
- Letramento em algoritmos: compreensão dos processos lógicos e matemáticos que regem o funcionamento dos sistemas.
- Letramento em modelos: análise da aplicação, dos limites e das implicações dos modelos de IA em diferentes contextos.
A dimensão ética é um componente transversal, integrado a todos os módulos do programa, em consonância com o tema proposto pela premiação da Unesco. Durante as aulas, os professores trabalham temas importantes, como curadoria de dados, aprendizado de máquina e processamento de linguagem natural. A proposta pedagógica combina teoria e prática em planos de aula diversificados. O júri internacional destacou a iniciativa como um modelo abrangente e inclusivo, capaz de empoderar educadores para o uso ético e responsável da inteligência artificial.
Estratégia de formação docente
O programa de formação docente teve a participação de centenas de professores, muitos vindos de áreas não tecnológicas, que passaram a ministrar a nova disciplina obrigatória. No início do programa, cerca de 800 professores foram capacitados para atuar no ensino de inteligência artificial, incluindo docentes de áreas como física, matemática, biologia, entre outros. A formação, com carga horária de 60 horas ao longo de oito semanas, adotou metodologia híbrida e a estratégia de sala de aula invertida. As atividades ocorreram por meio do Canal Educação (plataforma da Seduc) e de sessões via Microsoft Teams.
A capacitação foi conduzida por uma equipe composta por sete formadores, uma supervisora de tutoria e vinte tutores. Ao final do curso, os participantes receberam certificação da Unipampa, conferindo reconhecimento acadêmico à formação.
O conteúdo do curso foi elaborado para que os professores compreendessem a inteligência artificial de forma crítica, indo além do uso básico de ferramentas. Durante a formação, os educadores foram convidados a explorar três dimensões principais: entender como os dados funcionam, como os sistemas de IA tomam decisões e como os modelos são criados e utilizados.
Boas práticas com IA
A introdução de inteligência artificial no ambiente escolar tem levantado um debate: como avançar com a tecnologia quando muitos estudantes ainda precisam desenvolver habilidades básicas essenciais, como interpretação de texto, operações matemáticas ou diferentes tipos de letramento?
Durante evento realizado pelo MEC em julho, Rodrigo Torres, superintendente da Secretaria de Educação do Piauí, disse que a resposta não está em esperar, mas sim em um processo de transformação simultânea. “Não tem como resolver um [aspecto] para esperar e resolver o outro. A gente tem que fazer tudo ao mesmo tempo”, afirmou. A solução encontrada para conciliar essas demandas tem sido o investimento em escolas de tempo integral, onde a jornada ampliada favorece o desenvolvimento de projetos interdisciplinares.
Um dos casos de destaque ocorre no CETI (Centro Estadual de Tempo Integral) Paulo Freire, em Guaribas. No município, marcado por desafios socioeconômicos e climáticos, estudantes, com orientação da professora Amanda Sousa, criaram o protótipo de um aplicativo para catalogar e distribuir sementes a agricultores familiares. A iniciativa integrou os componentes de inteligência artificial, biologia e projeto de vida, demonstrando o potencial da IA na resolução de problemas locais.
Além da aplicação prática em projetos, o engajamento dos estudantes em IA tem se traduzido em sucesso em avaliações e competições externas. Um indicador da eficácia do ensino obrigatório é o desempenho do Piauí em eventos nacionais. Mais de mil estudantes do estado foram classificados para a 3ª fase da Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial.
Apesar do sucesso e do reconhecimento internacional, o modelo de ensino de inteligência artificial no Piauí ainda enfrenta desafios para se expandir na rede pública. Manter a qualidade da formação dos novos professores e garantir infraestrutura tecnológica nas mais de 540 escolas que atualmente oferecem a disciplina, especialmente nas áreas remotas, são obstáculos importantes.
O estado tem avançado na conectividade escolar: 74,9% das 3.699 escolas estão conectadas à internet, acima da média nacional de 59,65%, segundo relatório recente do programa Escolas Conectadas, do governo federal. No entanto, levar internet estável e equipamentos adequados a todas as regiões continua sendo um desafio e é importante não perder de vista a garantia de acesso igualitário à tecnologia em toda a rede.
Saiba mais: o site IA@Escola reúne depoimentos de educadores participantes do projeto






eu sempreExcelente reportagem! É inspirador ver como o programa do Secretaria de Estado da Educação do Piauí — “Piauí Inteligência Artificial” — está transformando a educação pública ao introduzir o letramento em IA de forma ética e estruturada. busco me atualizar.
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