Projeto escolar leva saneamento à comunidade ribeirinha do Amazonas - PORVIR
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Diário de Inovações

Projeto escolar leva saneamento à comunidade ribeirinha do Amazonas

Professor de ciências da zona rural de Parintins mobiliza alunos em prol da construção de catalisadores ambientais para impedir a contaminação da água

por Valter Pereira de Menezes ilustração relógio 17 de maio de 2017

Sou professor há 22 anos, e a minha experiência profissional sempre foi em escolas do campo da região amazônica. Quando trabalhamos com o ensino de ciências, sempre temos que ficar atentos para responder questionamentos e hipóteses da turma. Outro dia, um aluno me perguntou por que a nossa comunidade tinha tantos casos de diarreia.

Como moro em uma região ribeirinha, eu tinha que dar uma resposta para o meu aluno. Aqui no Amazonas, temos duas estações do ano bem críticas: a enchente e a vazante. Durante a seca, o rio fica raso e causa problemas. Quando está cheio, ele costuma ser contaminado pelas enxurradas. Com isso, a população que consome a sua água começa a ter sintomas de diarreia e verminose.

Quando falei sobre isso com a turma, comecei a pensar em uma solução para o problema da falta de saneamento básico da nossa região. Foi aí que, junto com a comunidade, escola, professores e alunos, criamos o projeto “Água limpa para os Currumins do Tracajá”.

Fomos atrás de parcerias e conseguimos o apoio das ONGs Asas de Socorro e Tearfund para instalar filtros bioativos pela região, composta por cerca de dez comunidades. Depois também conseguimos ajuda para construir 20 novas fossas, já que tínhamos muitos problemas de saneamento básico.

A partir daí, buscamos novos apoios. Fizemos uma avaliação da nossa região e chegamos à conclusão de que em dez anos teríamos muitas fossas cheias. O que iríamos fazer quando isso acontecesse? Tivemos que pensar em uma alternativa e começamos usar fossas biológicas que não agridem o lençol freático. Fomos a primeira comunidade do Amazonas a plantar bananeiras para isolar os detritos humanos e filtrar a água.

Com toda essa prática pedagógica, conseguimos trabalhar em sala de aula a questão da verminose, do lixo e da proteção do lençol freático. O grande diferencial desse projeto foi conseguir sair da teoria para a prática. Trabalhamos em um espaço não formal, e isso eu acredito que é fazer educação de qualidade. Você sai das quatro paredes e consegue atingir a realidade do aluno.

Os alunos ficaram muito engajados durante todo o projeto. Eu fui apenas um intermediador, mas foram eles que correram atrás de parcerias e organizaram pesquisas de campo. Nós até criamos um grupo chamado “Agentes da Água”.

Temos o compromisso de preservar um ambiente que é nosso. A Amazônia é tão falada como o pulmão do mundo, mas precisamos conscientizar os alunos de que é preciso cuidar desse espaço. Hoje posso até dizer que temos uma comunidade ecológica.


Valter Pereira de Menezes

Possui graduação em ciências naturais pela Universidade Federal do Amazonas (2004) e especialização em metodologia do ensino de ciências biológicas pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Atualmente é professor efetivo da Prefeitura Municipal de Parintins. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação em Ciências a 19 anos, na região do Rio Tracajá, na Comunidade de Santo Antônio. Hoje também já trabalho com o ensino médio com mediação tecnológica do governo do Estado. Foi premiado entre os 10 Professores Nota 10 do Brasil, em 2015, com o Projeto Água limpa para os Curumins do Tracajá. Em dezembro de 2016, também foi indicado como um dos Top 50 Finalista do Prêmio Global Teacher Prize, da Fundação Varkey, de Dubai. Com essa classificação foi nomeado como Embaixador da Fundação Varkey no Brasil.

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, ciências, projetos sociais, sustentabilidade

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