Quais as tecnologias mínimas para metodologias ativas? - PORVIR
Crédito: Antonio Suarez Vega/iStockPhoto

Inovações em Educação

Quais as tecnologias mínimas para metodologias ativas?

Durante o 1º Congresso Brasileiro de Metodologias Ativas, especialistas afirmam que a estratégia começa a ter efeito quando o educador entende que aluno é o centro do processo

Parceria com Instituto iungo

por Luciana Alvarez ilustração relógio 11 de novembro de 2021

Quem estava esperando uma matéria com uma lista de softwares e dispositivos vai se frustrar. Tecnologias que permitem interação e colaboração podem ajudar, mas o foco do trabalho com metodologias ativas precisa estar no trabalho do criativo do professor e de sua abertura para colocar o aluno no centro do processo.

Na verdade, segundo explica o professor Ulisses Araújo, presidente da PANPBL (Association of Problem-Based Learning and Active Learning Methodologies), trata-se mais de reconhecer o protagonismo do estudante, pois só se aprende por atitude própria.

“O estudante toma a iniciativa de conhecer, a partir de seus desejos e necessidades. Ninguém conhece por ninguém. É o sujeito que age para conhecer”, disse Ulisses em palestra do 1º Congresso Brasileiro de Metodologias Ativas, realizado em outubro. O evento é uma iniciativa do Núcleo de Pesquisas em Novas Arquiteturas Pedagógicas da Universidade de São Paulo (NAP/USP), da PANPBL e do Instituto iungo.


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A nomenclatura “metodologias ativas” é um guarda-chuva que engloba uma série de abordagens, como aprendizagem baseada em problemas, sala de aula invertida, cultura maker. Porém, o mais importante, explica Ulisses, são os princípios de centralidade e ação do estudante. E só quem pode promover tais princípios é um professor.

O palestrante alerta que é preciso tomar cuidado com a busca excessiva por tecnologias. “Existe um fetiche da máquina de ensinar; o sonho de muitos é fazer uma máquina que substitua o professor, para tirá-lo do processo. Já ouvi gente dizendo que o professor atrapalha o aprendizado”, critica. Segundo ele, trata-se de uma visão capitalista que ignora como o aprendizado se dá.

“Professor não é máquina de ensinar, é um sujeito que media o processo, um sujeito com conhecimentos, sentimentos e vida”, afirma. Portanto, as melhores tecnologias educacionais – sim, elas podem ajudar – são as interativas e que contem com grande mediação docente. Tecnologias que buscam fazer mera transmissão de conhecimento sem interação não servem.

Ativas, integrais e coletivas 

Além de uma abordagem ativa, boas metodologias promovem o desenvolvimento integral do estudante: intelectual, emocional, física e humana, ressalta Alcielle Santos, doutora em educação e líder de implementação do Instituto iungo, que também participou do evento. A professora explica que o olhar integral implica também um olhar coletivo, porque ninguém se desenvolve integralmente estando sozinho. “A prática de sala de aula vai ser muito mais rica quando coletiva, porque ela dá espaço para aprenderem conteúdos processuais e atitudinais. O trabalho individual não permite desafios como conflitos”, diz.

Tendo o trabalho coletivo como princípio norteador, deve-se buscar uma tecnologia que ajude no processo de colaboração e que esteja disponível para cada realidade. “Mais de 80% dos estudantes da educação básica estão na rede pública. Temos que trabalhar com a escassez”, destaca.

Ela defendeu que muitos dos problemas de falta de recursos podem ser contornados, mais uma vez, com trabalho coletivo. “A gente tem a opção de ficar preso à escassez, ou buscar dar um salto. Esse salto só é possível com a inteligência coletiva, com a mobilização dos alunos. A gestão da escola tem que se fazer com a comunidade, buscando juntos não soluções mirabolantes, mas no cotidiano”, disse Alcielle.

Uma boa tecnologia tem ainda de ser inclusiva. Alexandra Santos, especialista de Implementação e Desenvolvimento da Fundação Itaú, alerta que há muito a se discutir para além da questão do acesso. “O planejamento de uma atividade precisa ser repensado e adaptado ao contexto real. De que forma o projeto alcançaria todos os participantes? Um olhar menos atento talvez focasse no acesso, porque muitas vezes isso é empecilho. Mas nem sempre é só o acesso”, ressalta.

Alexandra também reforça que a intencionalidade e o elo entre professor e alunos estão acima dos instrumentos tecnológicos. “A tecnologia está a serviço de auxiliar o trabalho; não é o cerne. No contexto de desigualdade, eu preciso ter a intencionalidade de atuar numa perspectiva significativa e utilizar ferramentas que existem. Se minha realidade não permite ferramentas tecnológicas, ainda assim é possível fazer trabalho potente com ferramentas factíveis”, garante, citando post-it, cadernos e livros.

Formação docente ativa e autoral 

Para que os professores tenham conhecimentos de formas e ferramentas para propor metodologias ativas mesmo em situações adversas, o ideal seria que fossem formados dessa maneira, vivendo uma nova experiência de aprendizado. “A gente está falando de mudança de paradigma educacional, da mudança do lugar dos estudantes nos processos de ensino e aprendizagem. Eles saem de uma posição periférica e vão para a central. Recursos tecnológicos são possibilidades. O professor vai fazendo escolhas que contemplem a realidade, considere as condições objetivas onde vivem”, disse Cléa Ferreira, líder de currículo e Formação do Instituto Reúna.

Viver a aprendizagem ativa ajuda os docentes a ampliar o repertório e serem autores de novos projetos educacionais. “A posição do professor é de sujeito aprendente. Para colocar os estudantes no centro, como coautores, e professor como mediador, a homologia de processos nos convida a promover intencionalmente processos de formação docente que coloquem o professor no centro, de forma que ele experimente na condição de estudante”, conta Cléa.

Não se trata de simplesmente repetir com seus alunos as metodologias pelas quais passaram, mas usá-las de inspiração. “A gente não está falando de um processo automático, transpor literalmente para a sala de aula, mas das possibilidades que essas experiências gerem novos caminhos de autoria pedagógica”, explica a representante do Instituto Reúna. Segundo ela, reconhecendo e valorizando seus contextos, os professores conseguem fazer com que a diferença de acesso a tecnologias não se traduza em desigualdades de aprendizagem.

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