Que ensinamentos levar de 2020 - PORVIR
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Que ensinamentos levar de 2020

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 18 de dezembro de 2020

As consequências de 2020, o ano que será lembrado como aquele em que a escola parou e a educação teve que continuar, ainda vão ser conhecidas no longo prazo. Uma avaliação precoce, no entanto, já permite dizer que a pandemia do coronavírus (Covid-19) evidenciou as desigualdades presentes na educação brasileira e como a inovação nas práticas pedagógicas e a adoção do uso da tecnologia são um caminho possível e necessário para superá-las.

Sempre que tratamos de temas como atualização nos programas de formação de professores e de melhoria da conectividade nas escolas, os prazos para implementação de projetos falavam em dois ou três anos. A realidade de 2020, porém, cobrou respostas imediatas.

Ao longo da cobertura “Educação em Tempos de Coronavírus“, iniciada em março, assim que as aulas presenciais foram suspensas, estivemos em contato constante com educadores, diretores de escolas públicas e privadas, integrantes de secretarias e especialistas. Todos nos contaram que a situação exigiu uma rápida “virada de chave”, só que para estudantes da rede pública e especialmente jovens negros, estudar em casa se mostrou uma tarefa difícil diante de dificuldades socioeconômicas anteriores e também acentuadas pela própria pandemia. Para estes, que já apresentam resultados abaixo do esperado (por inúmeros fatores, a começar pelo racismo), a pandemia e a falta de programas de proteção social cobram um valor dobrado, que pode sair ainda mais caro quando considerado o risco de evasão.

É importante lembrar que, em 2019, só 14% das escolas públicas tinham um ambiente virtual de aprendizagem disponível. Pela falta da infraestrutura adequada para trazer a tecnologia para o dia a dia de professores e alunos dentro das escolas, nenhum dos lados estava pronto para enfrentar um ano letivo tão intenso quando a escola saiu de cena. Aprender online exigiu novas dinâmicas e trouxe um enorme peso para os ombros de professores. Principalmente nos primeiros meses dessa experiência, antes de preparar a aula, boa parte do tempo era usado para a escolha dos recursos ideais. Instintivamente, começou-se a reproduzir o presencial no online e a rotina de aulas remotas parecia não caber mais no horário que antes era dedicado à atividade profissional. As competências digitais que se diziam necessárias para o “professor do futuro” começaram a ser cobradas diariamente.

O isolamento social também exigiu um olhar para o que acontecia com o aluno quando a câmera estava desligada. Professores começaram o ano no escuro. A interrupção das aulas ainda nas primeiras semanas de março, antes mesmo que fosse criado algum vínculo entre o professor e o aluno, trouxe à tona a importância de cuidar do lado socioemocional da educação, e não apenas do conteúdo acadêmico. A conta de 7 milhões de casos e de 180 mil vítimas da pandemia assusta e muitos foram os estudantes ou professores que tiveram que lidar com perdas e com o luto.

Neste contexto, novas questões se apresentaram aos profissionais de educação: É sério mesmo que vamos falar apenas de conteúdo nestas circunstâncias? Como se aproximar e entender o progresso do aluno neste cenário? Assim como no caso do uso sistemático da tecnologia, nem todos os integrantes do que se chama por comunidade escolar estavam aptos a lidar com o tema.

Dar conta de olhar para as características de cada aluno e seu ritmo de aprendizagem já era algo que professores tinham alguma dificuldade quando estavam em sala de aula. Por isso, a escuta ativa era algo incentivado no Porvir tanto pelo guia Participação dos Estudantes quanto pela plataforma Nossa Escola em (Re)Construção, mas entender a dinâmica de estudos do estudante e seu contexto familiar precisou ser levado cada vez mais em consideração. Não por acaso, as diferentes publicações feitas ao longo da pandemia sobre acolhimento e escuta dos diferentes atores da comunidade escolar também ocuparam o topo de interações em nossos perfis nas redes sociais.

Apesar de todos esses esforços ao longo de 2020, que não foram poucos – é bom que se ressalte –, a educação sofreu muitas perdas e as desigualdades foram aprofundadas . No próximo ano, serão necessárias  novas estratégias para  tornar  a escola um lugar acolhedor e que faça sentido na vida do estudante, pois sabemos que muitos dos jovens não vão retornar à sala de aula. Se a tecnologia sair de cena, se a pressa pela recuperação de fórmulas, datas e provas for maior que a vontade de estreitar o vínculo entre professores e alunos, que no fim vai potencializar a nova experiência educacional, ficará claro que de fato não aprendemos nada em 2020.

O Porvir, que nasceu em 2012 com o slogan “O futuro se aprende”, entende que superar as barreiras colocadas pela pandemia passa por inovar para o presente. Mais do que nunca, a escola (presencial ou remota) e todos ligados a ela vão precisar se reinventar para garantir que o presente exista, que os estudantes continuem aprendendo dia após dia para que as desigualdades não sejam no fim das contas a tradução do “novo normal”.


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