Quem é culpado pela disparidade entre gêneros?
Visão deturpada de pais, professores e empregadores dificulta a entrada de meninas em carreiras de tecnologias e ciências
por Vinícius de Oliveira 8 de março de 2015
Apesar do progresso para diminuir a distância no desempenho escolar de meninos e meninas, a estrutura dos sistemas educativos ainda é vista como a maior causa da baixa presença de alunas em carreiras de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Segundo o estudo The ABC of Gender Equality in Education: Aptitude, Behaviour and Confidence (ABC da igualdade de gêneros na educação: aptidão, comportamento e confiança), da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a escolha da carreira tem sido feita mais cedo do que se pensava e pais, professores e empregadores têm responsabilidade pelo tratamento desigual.
Para a OCDE, é necessário achar novas maneiras para tratar o lado socioemocional e abrir mentes a novas habilidades e futuras carreiras. “A parte boa é que essas novas descobertas mostram que não é preciso uma restruturação longa e cara, mas um esforço concentrado de pais, professores e empregadores”, diz Stefan Kapferer vice-secretário geral da OCDE.
O estudo detectou ainda que menos de uma em cada 20 meninas pensam em seguir carreira nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. No caso dos meninos, essa proporção aumenta para um em cada cinco, apesar do desempenho de ambos os sexos ser similar no PISA (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos). A OCDE reforça que esse cenário merece atenção porque essas carreiras são aquelas com maior demanda e melhores salários.
Responsabilidade dos pais
O resultado do PISA também mostra, por exemplo, que meninas têm a mesma falta de confiança de meninos em ciência e matemática, mas recentes pesquisas apontam que o baixo incentivo vindo dos pais reforça o problema. Os familiares são muito mais propensos a esperar que seus filhos sigam por essas carreiras, mesmo quando eles mostram as mesmas habilidades das filhas. Em países como Chile, Hungria e Portugal, 50% dos parentes esperam que seus filhos optem por esse caminho profissional, mas só 20% sugerem o mesmo para suas filhas. Na Coreia, um dos países no topo do ranking mundial, a diferença cai para apenas sete pontos.
A nova pesquisa também mostra que meninos tem maior probabilidade de ter baixo rendimento na escola do que meninas, o que leva à falta de motivação e maior taxa de evasão. No PISA, seis em cada 10 estudantes com nota ruim em leitura, matemática e ciências são meninos.
A OCDE defende que melhorar a leitura é essencial. Meninos e meninas possuem diferentes gostos, com elas preferindo ler romances e revistas, enquanto eles optam por revistas em quadrinhos e jornais. Pais e professores devem levar isso em consideração, diz a entidade, dando às crianças mais opções de leitura na escola e em casa. Um outro ponto de destaque: o uso moderado de videogame também garantiu uma melhora nas notas de meninos quando foi avaliada a leitura em formato digital.
Responsabilidade de professores
Segundo o documento, professores poderiam fazer mais para melhorar o desempenho de ambos os grupos em matemática, apesar do resultado parecido no PISA. Entre as evidências encontradas está o fato de meninas serem mais atentas e se comportarem melhor em sala de aula. No entanto, no longo prazo essa impressão mais prejudica do que ajuda, porque recrutadores acabam recompensando candidatos pelo que sabem e não pelas notas na escola.
Responsabilidade de empregadores
Os empregadores também mostram uma propensão maior a contratar candidatos do sexo masculino: enquanto meninas buscam carreiras pela internet, eles teriam maior tendência a buscar experiências “mão na massa”, trabalhar como estagiários, visitar feiras ou falar com consultores vocacionais fora da escola. Como solução, o estudo pede um esforço maior de empregadores para conscientizar garotas sobre carreiras com potencial.