Química une alunos de escolas pública e particular
Estudantes da Canuto do Val e do Colégio Bandeirantes estão criando moléculas tridimensionais a partir de garrafas PET
por Vagner de Alencar 31 de agosto de 2012
Garrafas PET e conduítes fazem parte da cadeira de química de duas escolas de São Paulo, uma pública e outra particular. Engana-se quem acha que os alunos de ensino médio estão aprendendo apenas os componentes químicos desses materiais. Pelo contrário, estão indo além: reciclam e transformam os produtos em moléculas tridimensionais de até 2 metros de altura.
O projeto experimental Inovação no Ensino de Química: Construção de Modelos Moleculares Utilizando Garrafas PET foi criado em março deste ano por dois alunos do Colégio Bandeirantes, na região sul de São Paulo, que se uniram a sete estudantes da escola estadual Canuto do Val – que fica num local pouco povoado, em frente a um fórum criminal, no Bom Retiro, na região central de SP.
Os estudantes das duas escolas dividem as atividades, que incluem aprender os conceitos teóricos de química orgânica e, em seguida, literalmente, construir as moléculas estudadas. A mobilização surgiu depois que eles descobriram que a compra de kits tradicionais de estruturas de moléculas, de 40 cm, custavam em média US$ 100, cada, e seriam necessários vários kits para atender todos os alunos de uma turma. Curiosos, os alunos resolveram pesquisar outras formas de simular as moléculas em sala de aula e chegaram a modelos feitos com PET e que tinham 2 metros de altura.
A criação dos modelos pretende ser o mais real possível. As garrafas são coloridas de acordo com a cor associada a cada átomo de uma determinada molécula: o carbono simbolizado sempre pela cor preta, o oxigênio pela vermelha e o hidrogênio pela branca. No caso da fabricação de molécula de água, por exemplo, a parte vermelha da garrafa representa o oxigênio, enquanto os tubinhos brancos – feitos dos potinhos utilizados para guardar filmes de máquinas fotográficas analógicas – simulam o hidrogênio.
A ideia é que os modelos ajudem os alunos a quebrar os estereótipos da disciplina que, muitas vezes, acaba se tornando muito complexa, se trabalhada apenas de modo teórico. “Quando a gente constrói uma molécula, acaba se tornando bem mais claro a sua funcionalidade. O que era muito abstrato passa a fazer sentido, se torna concreto”, afirma Rafaela Casanova de Alcântara, 16, que estuda o 2o ano do Colégio Bandeirantes, ao mostrar uma molécula de gás carbônico.
É o que também reforça a Elisabeth Pontes, professora de química do Colégio Bandeirantes: “Muitas vezes no ensino médio explorar determinados conteúdos apenas falando é complicado, quando o professor leva um modelo tridimensional, fica muito mais claro o conceito para o aluno”.
Cada estrutura gasta até 400 garrafas PET, por isso, para criá-las , os estudantes receberam a doação de 1.000 garrafas da Coca-Cola. “Quando passamos para a parte da montagem, fomos atrás de patrocínio, até porque para a quantidade de moléculas que queremos, precisamos de muitas garrafas”, afirma Rafaela.
Interesse pela química
Renato Sampaio Gobashigawa, 15, que estuda o 1o ano na escola estadual Canuto do Val, afirma que o interesse pela química tem sido despertado também nos demais colegas. “Os meninos do ensino fundamental II, principalmente, ficaram curiosos. Depois que começamos a participar do projeto, sempre fazem perguntas e querem saber o que estamos fazendo”, diz.
Os alunos vão montar oito estruturas gigantes que serão apresentadas e outubro na Feira de Ciências no Colégio Bandeirantes. Para José Ricardo Almeida, coordenador da feira, o principal objetivo dessa iniciativa é levar à sala de aula, tanto da escola privada quanto da pública, novas metodologias e outros formatos para o ensino da disciplina, considerado “árduo”. “O que a gente precisa, de fato, é encontrar formas alternativas de ensinar, sempre de modo mais lúdico e interativo”, afirma.
Após a exposição, os modelos serão divididos entre as duas escolas para serem utilizadas em sala de aula. “Essa é uma alternativa interessante para que a escola pública possa fazer coisas muito mais baratas que podem implantadas com muita facilidade”, afirma Rosa Maria Teixeira, professora de química na escola Canuto do Val.