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Inovações em Educação

Redes sociais para fazer o bem na cidade e no mundo

Plataformas conectam pessoas para conscientizar sobre a importância de cada um no bom funcionamento do lugar em que vivem

por Vinícius Bopprê ilustração relógio 10 de maio de 2013

A revista Time dessa semana dedica sua capa aos jovens Millenials, ou a geração “Me Me Me” (Eu Eu Eu, em livre tradução), e traz uma pesquisa do National Institute of Health para provar que eles são egoístas, preguiçosos, superficiais e que gastam todo o tempo tirando fotos de si mesmos para postar nas redes sociais. Entretanto, um artigo dessa mesma revista diz que essa turma, nascida entre os anos 1980 e 2000, vai nos salvar. Por quê? Basicamente porque eles acreditam que podem mudar o mundo. E visivelmente têm feito isso por meio de plataformas digitais que os convidam a aprender mais sobre determinadas causas e agir em prol do que acreditam.

Para o jornalista Joel Stein, autor do artigo, todo esse narcisismo faz com que os jovens tenham autoconfiança e por isso aponta cinco argumentos para provar que eles vão salvar a humanidade. O primeiro não poderia deixar de ser a crença de que podem salvar o mundo; o segundo é o fato de que eles não acreditam em hierarquias e não permitem que elas os impeçam de ousar e avançar alguns degraus; em seguida vem a capacidade de criar e se adaptar, principalmente nesse turbilhão de novidades que a tecnologia cria todos os dias; depois a vontade de tornar tudo uma missão, deixando o propósito da sua inciativa à frente de conquistas financeiras e, por fim, o ato de pensar antes de agir, analisando cada uma de suas escolhas.

Plataformas conectam pessoas para conscientizar sobre a importância de cada um no bom funcionamento do lugar em que vivemcrédito Sergiy Serdyuk / Fotolia.com

 

Por fim, Joel diz que os Millenials não têm medo de criar aquilo que precisam porque sempre acreditam que merecem algo melhor e, por isso, eles são “a geração mais ameaçadora e excitante”. Exemplo de como os jovens unem forças para melhorar o lugar em que vivem está numa noite fria do dia 1o de junho de 2011, em Porto Alegre, quando 2.000 pessoas se encontraram no Parque Farroupilha para realizar a Serenata Iluminada, cada um com sua vela nas mãos  cantando ao som de diversos violões.

“Um evento como a Serenata, além de cultural, acaba trabalhando uma série de problemas, como a educação para o uso do espaço público, a convivência e o lixo. Queremos conscientizar as pessoas sobre essas questões quando fazemos esse tipo de evento”, explica Domingos Secco, um dos fundadores da Porto Alegre CC, plataforma organizadora do evento e que trabalha com o conceito de WikiCidade – que usa a internet para mapear não só problemas, mas também destacar pontos turísticos.

“Não adianta ter a lei, a gente precisa fazer essa mudança culturalmente por parte dos cidadãos. Queremos propor uma mudança de consciência, da convivência como um todo”.

Para o próximo 1o de junho – comemorando 1 ano da cantoria – a plataforma vai iniciar as novas discussões para o Código da Convivência Urbana, que vão reunir os cidadãos ao ar livre para fazer uma agenda paralela à do poder público para discutir temas como poluição visual e sonora, por exemplo. “Não adianta ter a lei, a gente precisa fazer essa mudança culturalmente por parte dos cidadãos. Queremos propor uma mudança de consciência, da convivência como um todo”, explica Domingos.

Do outro lado do país, em Pernambuco, o Colab.re oferece três opções para os cidadãos melhorarem sua cidade. Na opção Fiscalize, o usuário envia uma foto de algum problema que encontrou na rua, como estacionamento ilegal ou um buraco; como apontar defeitos não é a única maneira de ajudar, a aba Proponha convida a pensar projetos que poderiam mudar a dinâmica de algo que não vai bem e, por fim, na Avalie, é possível escolher uma categoria e dar uma nota para um serviço público oferecido.  “A ideia foi criar uma rede social que seja uma ponte entre cidadão e cidade. Nós observávamos que muitas pessoas denunciavam algum problema nas redes, mas, como o poder público não tinha como organizar, essa informação morria nesse mundo gigante”, explica Bruno Aracaty, um dos fundadores da plataforma.

crédito Divulgação / Porto Alegre CC

Serenata Iluminada, que reuniu mais de 2.000 pessoas na Praça Farroupilha, em Porto Alegre

Apesar de estarem em lugares distantes do Brasil, ambas têm o objetivo de fazer com que o cidadão tenha consciência da importância que seus atos têm para o bem-estar coletivo. Como exemplo disso, o gaúcho Domingos aponta uma coleta colaborativa de lixo que foi organizada em parceria com o governo. “Visamos sensibilizar as pessoas de que não foi a prefeitura que jogou aquele lixo, fomos nós que jogamos de maneira errada. Fizemos todo o trabalho em parceria com o governo. Imagina, tirar uma tonelada de lixo e levar para onde?”

Esta proximidade com o poder público tem a mesma importância para Bruno. “O nome Colab vem de colaboração porque a ideia é que as prefeituras façam a gestão colaborativa de toda essa informação. O cidadão fala o que pensa, em termos de problema, solução e avaliação e a prefeitura vai estar lá para ouvir e atuar em cima disso”, diz. Ele explica que já existem conversas com órgãos públicos para que exista uma espécie de administrador desse conteúdo, que leia todos os relatórios, organize e aponte o que ainda falta resolver.

…”Cidades inteligentes não são nada sem a inteligência dos cidadãos, que participam, colaboram e fazem, eles próprios, a cidade ficar melhor”

Juntas, essas iniciativas ajudariam a realizar um sonho comum, mas muito bem expresso nas palavras de Bruno. “Existe o conceito de smart-city (cidade inteligente), mas a gente defende  o smart-citizen (cidadão inteligente). Cidades inteligentes não são nada sem a inteligência dos cidadãos, que participam, colaboram e fazem, eles próprios, a cidade ficar melhor.”

Da cidade para o mundo

Para quem quer mais que mudar a cidade, quer mudar o mundo, outras plataformas conectam as pessoas engajadas em uma (ou várias) causas, para que elas aprendam mais sobre ela e descubram meios de agir para transformar a realidade. A GoodNet, é uma plataforma sem fins lucrativos que se define como um portão para fazer o bem. A plataforma funciona como uma curadoria de conteúdo, atualizada diariamente, com organizações, iniciativas, produtos, sites e aplicativos que abordam causas como a escassez de água, a transformação do lixo em tesouro e formas alternativas para o consumo de energia elétrica.

Outra fundação sem fins lucrativos é a DoSomething, que tem mais de 1,5 milhão de membros. Por meio dela, jovens se conectam para realizar atos para as causas que se preocupam, como o bullying, a crueldade com os animais e a falta de abrigo para as pessoas. Assim como a GoodNet, todo o conteúdo e as causas podem ser compartilhadas nas redes sociais, que é onde eles gostam de estar, já que o lema da plataforma é confiar nos jovens, acreditar que o engajamento de uma pessoa de 13 anos, sem um adulto ou um carro por perto, pode fazer a diferença. E tudo isso, por quê? Eles mesmos explicam: “Porque a apatia é uma droga”.


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redes sociais, sustentabilidade, tecnologia

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