Repórter do Porvir apresenta livro sobre Paraisópolis
por Redação 18 de junho de 2012
Na última semana, o repórter do Porvir, Vagner de Alencar, apresentou como projeto de conclusão do curso de jornalismo o livro A cidade do Paraíso – Há vida na segunda maior favela de São Paulo. No texto, ele e a coautora, Bruna Belazi, apresentam as riquezas e os desafios de Paraisópolis por meio das histórias dos moradores da comunidade.
Vagner é baiano, de Barra do Choça, e mudou-se para São Paulo, mais precisamente para Paraisópolis, em 1995. No ano passado, ele foi um dos vencedores do 3º Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, ao escrever um projeto de reportagem sobre o cenário da educação na comunidade. É repórter do blog Mural, na Folha.com, e desde março integra a equipe do Porvir.
Veja abaixo entrevista com o jornalista publicada pelo Portal Aprendiz
Estudantes revelam peculiaridades da vida na segunda maior favela de SP
por Priscila Cardoso dos Santos, do Portal Aprendiz
Desconstruir uma visão cheia de preconceitos e mostrar as peculiaridades dos moradores de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, com 100 mil habitantes. Este foi o objetivo de Vagner de Alencar, 25 anos, e Bruna Belazi, 22 anos, recém-formados em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. A cidade do Paraíso – Há vida na segunda maior favela de São Paulo é um livro-reportagem escrito pelos estudantes e apresentado como trabalho de conclusão de curso.
Em entrevista ao Portal Aprendiz, Vagner, que é morador de Paraisópolis, falou sobre sua relação com a comunidade e o interesse por mostrar como é a vida no local. Incomodado com o olhar estereotipado com que, comumente, a periferia é retratada, o jovem elegeu alguns moradores como personagens e debruçou-se sobre suas vidas.
“O senso comum trata a periferia apenas pelo recorte da violência, do tráfico e da miséria. Quem não mora nela ou não tem o olhar viciado pelo que passa na TV, sabe que a favela vai muito além disso. A favela está ligada à identidade de seus moradores, o que é bem representado pelos personagens do livro.”
Como começa sua relação com Paraisópolis?
Nasci na Bahia e vim para São Paulo aos três anos, com sete voltei para o meu lugar de origem e, depois, aos nove, retornei para São Paulo porque minha mãe estava doente e aqui as opções de tratamento eram melhores. A referência de lugar para morar era uma favela na região do Brooklin, que, justamente nesse período, tinha sido removida. Os moradores de lá acabaram migrando para Paraisópolis. Foi assim que cheguei lá.
Como surgiu o seu interesse em escrever sobre a comunidade?
Na minha adolescência, fiquei mais três anos na Bahia. Quando voltei a Paraisópolis, a transformação havia sido muito evidente. O comércio tinha crescido, o número de casas era maior, e elas estavam bem mais estruturadas. Foi aí que veio o pontapé para eu querer mostrar como é a vida na periferia por trás dos olhos estereotipados da grande mídia.
Quando você começa a usar os meios de comunicação para falar de Paraisópolis?
Uma vez eu estava em um salão de cabeleireiro quando vi o jornal comunitário, o Paraisópolis News. Achei que seria uma boa oportunidade para colaborar. No início, as pautas eram um pouco “bestinhas”, até porque eu havia acabado de entrar no jornalismo. A coisa engrenou mesmo quando eu entrei para o Blog Mural da Folha.com. A partir daí veio a possibilidade de falar da periferia dando maior visibilidade para os personagens locais.
Qual a importância de produzir conhecimento sobre a periferia?
Infelizmente, a periferia, aos olhos de muitos, ainda é vista como um lugar às margens da sociedade, sempre ali nas beiradas. Quando, na verdade, ela é parte fundamental dentro de qualquer contexto social. A cidade é um organismo vivo, é preciso conhecer a periferia para entender como ela funciona.
Como a periferia é retratada pela maioria das pessoas?
O senso comum trata a periferia apenas pelo recorte da violência, do tráfico e da miséria. Quem não mora nela ou não tem o olhar viciado pelo que passa na TV, sabe que a favela vai muito além disso. O que observo como morador e protagonista da periferia é que a favela está ligada à identidade de seus moradores, o que é bem representado pelos personagens do livro. A periferia luta para mostrar seu valor e sua identidade.
Por que você optou por contar histórias de pessoas para falar sobre Paraisópolis?
Conhecer a história do outro colabora para descobrir onde podemos chegar. Sempre parti da premissa de que “se você pode, por que eu não posso?”. Imagine uma criança, estudante de Paraisópolis que tenha gosto pela leitura e escrita, mas acha que, por viver ali, não pode um dia escrever um livro. Daí ela conhece a Jussara, escritora da comunidade. Ou então um aposentado que usa marca-passo no coração e se sente impotente, mas descobre que existe outra pessoa com os mesmos problemas de saúde que construiu uma casa com mais de 20 mil garrafas PET e que seu talento já virou notícia na grande mídia. Essas histórias servem de estímulo, fazem com que as pessoas acreditem em si mesmas, permite que elas transformem a sua própria realidade.