Robô jabuti leva programação e jogos a escolas
Projeto colaborativo usa software livre para promover o raciocínio lógico e cultura digital na educação infantil
por Fernanda Kalena e Vinicius de Oliveira 5 de fevereiro de 2015
Com ajuda de uma comunidade de programadores, professores e adolescentes loucos por robótica, o projeto Jabuti Edu pretende divertir crianças enquanto elas desenvolvem o raciocínio lógico e tomam contato com a programação. O pequeno animal formado por placas, rodinhas e muitos fios tem uma tecnologia dupla: serve tanto como um computador recheado com centenas de softwares educacionas, como uma plataforma para aprendizado da linguagem de máquina.
“O Jabuti Edu nasce da lacuna que temos na educação infantil para o trabalho com robótica educacional. Ela deveria ser trabalhada em todas as escolas, porque hoje a automação está em todos os lugares e precisamos desenvolver uma cultura digital”, explica Eloir José Rockenbach, idealizador da comunidade Jabuti Edu, em entrevista ao Porvir, durante a Campus Party Brasil, que acontece em São Paulo.
O primeiro animal robótico surgiu após três anos de pesquisa e teve a colaboração de professores, pedagogos e programadores de vários estados do país, que traziam peculiaridades locais. “Esses cenários regionais diferentes fizeram o projeto se adaptar. Por exemplo, o pessoal do Pará nos levantou uma questão importante sobre a bateria, que é importada. Eles têm dificuldade para consegui-la e, imediatamente, começamos a pensar em uma forma para resolver o problema”, explica Rockenbach.
Cada jabuti possui uma placa Raspberry Pi e aceita conexões USB, HDMI e Wi-Fi, o que permite que ele seja comandado por computadores, celulares ou tablets com a ajuda de um navegador. No primeiro módulo de programação, é possível movimentá-lo com cliques em setas na tela. Em níveis de dificuldade mais altos, começam a ser exigidos comandos de programação e cálculos matemáticos para provocar alguma reação do robô. Com uma outra funcionalidade pedagógica, ele deixa professores e pais acessarem uma infinidade de softwares livres de matemática, física e programação disponíveis em sua memória e transmiti-los para TVs ou monitores.
Os primeiros exemplares já começaram a entrar em escolas particulares de Porto Alegre e da rede municipal de Cascavel, no Paraná, em projeto piloto. Para formação de professores, a comunidade Jabuti Edu tem preparado videoaulas e aposta no compartilhamento de experiências em seu site para que novos animais entrem em mais salas de aula e FabLabs pelo país.
Robótica livre
Projetos como o Jabuti Edu são criados a partir de uma filosofia de total liberdade. Tanto a plataforma como os recursos digitais instalados são abertos para personalização. Ao darem vida às linhas de código, através da construção de pequenos robôs inteligentes, é feita a ponte entre a produção e o consumo de conhecimento.
“O projeto em si é educativo, trabalha a construção do artefato, que muitas vezes é mais educacional do que seu uso propriamente dito. O aluno sai do papel de consumidor e passa a ser desenvolvedor”, diz Frederico Gonçalves Guimarães, professor de ciências na rede municipal de Belo Horizonte (MG).
Para ele, a educação deve estimular a solidariedade, o compartilhamento e a construção de conhecimento, mas isso é impossível com software propretário, que funciona de acordo com as regras da empresa que o criou. “Com o software livre, você faz o que quiser. Além de usar, pode transformá-lo e fazer dessa transformação uma atividade pedagógica”, conclui.