Sérgio Vaz: “Educador é aquele que confecciona asas e voa junto”
Para celebrar o Dia Nacional do Poeta, o Porvir entrevistou o escritor e produtor cultural Sérgio Vaz para falar da relação entre a poesia e a sala de aula
por Ruam Oliveira 20 de outubro de 2022
A sala de aula é um espaço de poesia. É nela que os estudantes podem ter contato com diferentes poemas e com autores consagrados nacional e internacionalmente. E é com a poesia que muitos podem ampliar sua forma de ver o mundo.
Este é um mês de homenagens à poesia. Em 20 de outubro de 1976, na casa do jornalista e pintor brasileiro Paulo Menotti Del Picchia, surgia o Movimento Poético Nacional. A data, que ficou conhecida como Dia Nacional do Poeta, antecede o Dia Nacional da Poesia, em 31 de outubro, em referência ao nascimento de Carlos Drummond de Andrade. Para celebrá-las, o Porvir conversou com o poeta, cronista e produtor cultural Sérgio Vaz sobre a presença – e a importância – da poesia na escola.
Sérgio acredita que a poesia no ambiente escolar ajuda a desenvolver a humanidade de crianças e jovens. “A educação é uma forte aliada da cultura, e a cultura é uma manifestação importante dentro da sala de aula”, comenta o escritor.
Fundador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), Sérgio pontua: a poesia tem condições de levar os alunos à cidadania. Para ele, o gênero literário ainda pode aparecer com mais frequência nas salas de aula, visto que, a depender de como ele é apresentado, nem sempre é associado à poesia. “Acho que todo mundo gosta de poesia, só não sabe o que gosta”, comenta.
Confira os principais destaques da conversa:
Porvir – Como você vê a potência da poesia na sala de aula e na educação?
Sérgio Vaz – Vejo a poesia como potência porque ela tem a capacidade de síntese e pode ajudar a resolver algumas questões emocionais, políticas e estruturais. Vejo que, por meio do poema, o jovem pode ler, fazer, ouvir, declamar… Ele pode entender que a arte está aliada à humanidade. A poesia tem condições de levar o aluno à cidadania, o que eu acho que é um reforço para a educação.
Porvir – De que maneira os professores, ao incluírem a poesia na sala de aula, contribuem para uma nova forma de ver e pensar o mundo?
Sérgio Vaz – É basicamente isso: desenvolver a humanidade dos jovens para que eles saibam que literatura também é uma arte, assim como funk, como o rap ou como o samba, manifestações artísticas que as pessoas aprendem a gostar dentro da sala de aula. Sempre achei que a educação é uma aliada muito forte da cultura, e a cultura é uma manifestação muito importante dentro da sala de aula para a construção do ser humano. A poesia também forma um ser humano mais crítico em relação a si e aos outros, e eu acho que isso é capaz de fazer com que o jovem entenda o momento no qual vive, para que possa desabafar e crescer com isso. Literatura é uma arte muito importante e ela tem que estar aliada à educação, sempre.
Porvir – Do seu ponto de vista, a sala de aula pode ser um local propício para o nascimento de poetas?
Sérgio Vaz – Eu acho que a sala de aula é o lugar para ser novos poetas, novos médicos, novos advogados, novas bailarinas, novas atrizes, astronautas… Eu acho que dentro da sala de aula é o lugar onde as pessoas podem querer ser o que quiserem. Também poetas. Mas a ideia da gente é formar leitores e poetas. Eu acho que a sala de aula é um lugar que pode tudo. Eu acho que a poesia dá essa asa, de as pessoas entenderem que podem tudo como ser humano, como pessoa, como jovens…
Porvir – Na escola, o que pode contribuir para que crianças e jovens se interessem por poesia?
Sérgio Vaz – Sempre que possível, acho válido colocar na escola uma mensagem de poetas, de escritores e escritoras que dizem um pouco sobre a realidade em que vivem, em qual eles querem viver. Mensagens positivas ou críticas. E que esse aluno tenha sempre ali do lado um poema – assim como ele ouve música, como ele vê um filme, que possa ter poesia em todos os lugares, para refletir sobre tudo. É difícil dar exemplos, mas vejo que muitos jovens quando leem poesia ou você explica o que ela é, de repente eles falam: “Nossa, não sabia que isso era poesia”, ou “Não sabia que eu ia gostar”, e “Não sabia que eu poderia fazer”. Então, acho que todo mundo gosta de poesia, só não sabe o que gosta.
Porvir – Qual seria seu conselho para professores e professoras que querem começar a usar poesia em sala de aula?
Sérgio Vaz – Acho que não tenho nenhum conselho para os professores e professoras que já tem tanto por fazer, tanto por reconstruir… O que eu posso dizer é que os professores são meus heróis, as professoras são minhas heroínas e que a escola é o melhor da quebrada. Eu só tenho que agradecer a educação pública: desde que comecei a ir às escolas para falar de poesia, aprendi muito com esses jovens, e aprendo muito com os professores. O meu conselho é que continuem sendo maravilhosos do jeito que eles são, porque muito mais do que respeitá-los, nós temos que protegê-los. Para mim, educador é aquele que confecciona asas e voa junto. Não tenho conselhos, só gratidão.
Porvir – Você teve algum professor que te ajudou a se interessar pela poesia?
Sérgio Vaz – A escola em que eu estudei estava em um outro momento. Era uma escola sem poesia. Então, não tive nenhum professor ou professora que colocasse poesia na lousa e que a explicasse. Eu gosto de ler por influência do meu pai e é muito importante a criança e o jovem ter sempre um livro à mão, isso vai fazer diferença no presente e no futuro dessas pessoas. A escola que eu vivi não tinha poesia e, hoje, vejo que graças aos jovens e aos professores, a escola é mais poética. Lógico que ainda há muita coisa a ser mudada em relação à educação, mas que não depende dos professores. Espero que toda escola seja uma escola poética, na qual os jovens tenham prazer de estudar e o professor tenha prazer em dar aula. A escola é um lugar maravilhoso.