Série documental aborda abusos e violências no ensino superior
Os 5 episódios abordam estupro, trote, discriminação e outros tipos de violência ocorridos dentro dos campi universitários
por Ruam Oliveira 11 de novembro de 2021
É um grande passo sair da educação básica e ingressar no ensino superior. Geralmente, a grande maioria dos que entram na faculdade são jovens recém-saídos do ensino médio. Todas as inseguranças e incertezas estão ali presentes. Assim como a alta expectativa em relação à vida profissional.
E iniciar esse processo pode ser ainda mais complexo quando dentro da universidade acontecem os mais diversos processos que dificultam a permanência de muitos estudantes, como assédio moral e sexual, abusos de variados tipos, violência e discriminação.
É sobre esses temas que se debruça a série documental brasileira “Rompendo o Silêncio“. Em cinco episódios, a produção passa por essas questões, trazendo depoimentos reais de vítimas dessas violências ocorridas nos campi universitários.
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“A universidade é um reflexo da sociedade. Acontecem violências de todo o tipo, dentro e fora do âmbito universitário. Infelizmente, assim como na sociedade, as mulheres, os LGBTQIA+, os negros e todos os outros grupos minoritários são mais vulneráveis a abusos e violências. O documentário advoga por um ambiente universitário mais saudável, mais igualitário, mais seguro e mais justo em todos os aspectos, essa é a nossa intenção ao fazer essa série”, afirma Marina Person, que dirige a produção ao lado de Giuliano Cedroni.
São questões que levam a refletir sobre o lugar da universidade na hora de lidar com esses assuntos. Em muitos aspectos, há relatos de que a imagem da universidade por vezes aparenta estar acima do bem e da segurança dos alunos.
Ingressar na faculdade, por si só, já é algo que gera muita ansiedade, principalmente porque envolve outras pressões sociais. Ter que lidar com trotes violentos e humilhantes, por exemplo, não deveria fazer parte da trajetória educacional de jovens adultos. Mas, em muitos casos, faz.
Um dos episódios da série aborda a prática de trotes, que é proibida por lei em São Paulo, mas que continua acontecendo. Há também histórias sobre discriminação a estudantes negros, estudantes LGBTQIA+ e mulheres.
O trote, por exemplo, é um tipo de atividade que muitos ingressantes decidem participar por medo de não serem aceitos pelo grupo onde estão chegando. A psicopedagoga Telma Pantano aponta que essa realidade acaba sendo suscetível para que surjam quadros de depressão e ansiedade em um grupo que já vive certa fragilidade emocional.
Os impactos das violências sofridas pelos estudantes também podem aparecer de maneira física, como privação, alteração de sono, uso e abuso de álcool entre outros. São comuns os relatos na série que apontam a vontade de desistir do curso e abandonar a faculdade devido às violências como discriminação, assédio ou até mesmo abuso sexual.
Grande parte dos entrevistados comenta que ao realizarem denúncias, a universidade nem sempre responde com clareza ou rapidez. Aqui, de novo, há uma certa preocupação com a própria imagem da instituição. A arquiteta Stephanie Ribeiro, que participa do episódio sobre discriminação, contou que por vezes ouvia que seus posicionamentos online, quando apontava situações de racismo vividas dentro do campus, estavam “sujando a imagem da escola” e “atrapalhando o currículo”.
“Acreditamos que a melhor maneira de lidar com as violências cometidas no âmbito universitário é investigando e punindo os agressores, sejam eles alunos, professores ou até reitores”, diz Marina. “Enquanto o nome da instituição estiver acima das vítimas, e proteger a reputação da universidade for mais importante do que apurar as violências cometidas dentro dela, os abusos vão continuar acontecendo”, completa.
Para a diretora, é importante lutar pela existência do ensino superior de qualidade, tanto em instituições públicas quanto privadas. “Valorizar o conhecimento, o ensino. Num contexto político como o atual, em que o governo trabalha para desacreditar a ciência, a cultura e a verdade, a universidade tem um papel fundamental para produzir intelectuais e profissionais”, conta.
Serviço
Rompendo o Silêncio
Onde assistir
HBO Max
Quantos episódios
5 episódios