“Socioemocionais aumentarão produtividade do país”
Brasileira mestranda na Universidade de Colúmbia defende inclusão de competências não cognitivas no currículo brasileiro
por Tatiana Klix 28 de julho de 2014
A administradora de empresas Tonia Casarin, 30, já trabalhou no setor privado, no público e em consultoria, mas foi a partir da experiência como coach de carreira que descobriu o potencial da inteligência emocional, tema que agora estuda em seu mestrado em Educação, na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos. Enquanto esquenta o debate no Brasil sobre a importância do desenvolvimento de características como curiosidade, tolerância e organização na escola, Tônia trabalha em um projeto de pesquisa bem ambicioso: desenvolver um currículo de competências sociais e emocionais que toda a criança deveria aprender.
“Eu trabalho com coaching, já desenvolvo essas competências em profissionais e líderes, e quero continuar fazendo isso para adolescentes e crianças, que também vão começar a trabalhar em algum momento”, contou a mestranda em conversa por Skype com o Porvir. A importância de habilidades como perseverança e autoestima ficou clara para ela quando começou a estudar e pesquisar ferramentas para o trabalho de orientação de carreira. “Vi que o que diferencia os líderes de alta performance de outros profissionais é a inteligência emocional e social”, completa.
Ao relembrar ainda mais para trás seu currículo acadêmico e profissional, a mestranda consegue identificar como essas competências foram determinantes para a própria trajetória. Oriunda de Petrópolis, no Rio de Janeiro, Tonia é de uma família que não tinha condições de pagar uma faculdade para ela, mas batalhou e conseguiu uma bolsa de estudos integral para estudar na PUC-Rio. “Eu tinha um foguinho dentro de mim que fazia com que corresse atrás das coisas, agora eu sei o que esse fogo significa”, brinca.
Outra vez com bolsa, desta vez da Fundação Lemann, em Colúmbia, a administradora de empresas está tendo a oportunidade de estudar, ler, debater e conhecer experiências que valorizam o aprendizado de socioemocionais para fazer sua pesquisa. Uma de suas atividades atuais é um estágio na KIPP Infinity Middle School, no Harlem, em Nova York, uma das instituições da rede de escolas charter (pública de administração privada) que atua em regiões de vulnerabilidade social para levar estudantes ao ensino superior. Tonia acompanha um projeto-piloto inédito no mundo de aulas específicas de socioemocionais.
Segundo relatou, as crianças discutem o que sentem em determinadas situações, fazem exercícios, meditam, às vezes fazem yoga, debatem filmes em aulas semanais. Embora a cultura emocional e social seja presente em toda a escola, essa é a primeira vez que a inclusão dessas atividades de forma regular na grade de disciplinas está sendo testada.
O resultado da experiência servirá de apoio no modelo de currículo que Tonia está montando e que espera ver disseminado no Brasil. Ela pretende mapear quais são as competências relevantes para melhorar o aprendizado, quais as pesquisas que existem em torno delas e que podem ser aproveitadas.
“Estar em uma Kipp School é interessantíssimo, porque você vê como toda a comunidade – professores, alunos, funcionários e pais – se engaja e como eles conseguem ser produtivos com o tempo, como até as crianças ajudam nisso. Nós temos um problema no Brasil de produtividade. O PIB cresce, mas a produtividade, não. No limite, o meu grande objetivo é impactar a produtividade no Brasil”, diz.
Dentro desse contexto, a pesquisadora é uma defensora da criação de um currículo único no país, que deve incluir todas as matérias normalmente ensinadas nas escolas, como português, matemática e ciências, e as competências para o século 21. Para ela, esses dois tipos de conteúdo estão diretamente conectados com o resultado acadêmico porque, se as crianças tiverem oportunidade de desenvolver habilidades não cognitivas, vão também tirar melhores notas no colégio e transpor as dificuldades que têm. “Essa é uma agenda relevante, que vai ter impacto não apenas na vida das pessoas, no micromundo, mas também para o país como um todo. Quando eu penso que isso vai melhorar a atitude das pessoas diante da vida, quer dizer que vai fazer com que elas trabalhem mais e produzam mais”, defende.