Software melhora a nota de escolas rurais na China
Com apenas 20 horas de prática, estudantes de matemática aumentam sua pontuação e também a autoconfiança
por Patrícia Gomes 6 de maio de 2012
Uma equipe de Stanford conseguiu melhorar significativamente o desempenho em matemática de alunos de escolas rurais chinesas com apenas 20 horas-aula. Para tanto, levaram às escolas apenas computadores, um software e treinamento aos professores.
Durante três meses, os pesquisadores acompanharam 72 escolas rurais da província de Shaanxi, local pobre no centro do país. Metade delas foi submetida ao experimento e a outra metade serviu de grupo de controle. A intenção era mostrar que programas de aprendizagem assistida por computador (livre tradução de CAL, computer assisted learning) poderiam ajudar a diminuir a lacuna que as escolas rurais têm em relação às urbanas na China.
Os alunos foram testados antes e depois do experimento, e os que participaram do programa viram sua nota pular, em média, do conceito C para B. Ao todo, 4.320 crianças de terceira e quinta séries foram avaliadas. E a maioria quase nunca ou nunca havia tido acesso a computadores.
“Nós tivemos um resultado muito encorajador com o programa. Os estudantes melhoram sua performance em quase ‘um conceito’ inteiro, de C+ para B. Esse progresso acadêmico é de se esperar em três meses, mas nós conseguimos em apenas 20 horas-aula!”, diz James Chu, gerente de projetos do Reap (centro de Stanford responsável pelas ações na China).
Cada escola recebeu entre seis e oito computadores com um software de matemática instalado. O programa foi desenvolvido com base no currículo nacional de matemática e apresentava os conteúdos de maneira lúdica e interativa. Em seguida, o software propunha problemas de matemática em formato de game.
“Nossa intervenção se baseou na premissa de que games educacionais bem feitos podem despertar interesse e curiosidade em um ambiente não propício a isso”, disseram os pesquisadores em um dos relatórios do programa.
Os alunos tiveram duas sessões de aulas práticas por semana, e os professores fizeram um treinamento para serem capazes de ajudá-los com o uso do software. Depois de passar as instruções, a equipe de Stanford não ficou nas escolas; eles acompanharam o processo por visitas periódicas e por telefone. A ideia era que os próprios professores e alunos conseguissem caminhar sozinhos. Uma linha telefônica foi colocada à disposição para que os problemas técnicos pudessem ser prontamente resolvidos.
A pesquisa tentou ainda medir questões subjetivas sobre o impacto que teve nos alunos. O resultado mostrou que 98% tiveram melhora na autoconfiança, sendo que em 52% dos casos a melhora foi muito significativa. Além disso, 63% dos alunos que participaram do programa tiveram um aumento no interesse pelos estudos. Neste ano, a pesquisa terá sua segunda edição e, devido aos resultados que já lacançou, será replicada com estrutura três vezes maior.
Cidade X Campo
No sistema educacional chinês, a maioria das escolas é rural. Cerca de 80% dos alunos de áreas urbanas têm acesso à internet em casa. Nas áreas rurais, esse número é de apenas 2%. Nas escolas do campo, os computadores, quando existem, são obsoletos.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, o Brasil também enfrenta disparidades educacionais entre escolas nas áreas rurais e urbanas. No campo brasileiro, há 76 mil escolas com 6,3 milhões de estudantes, o que corresponde a pouco mais de 12% das matrículas no país. Desse contingente, 15% nem sequer têm luz elétrica, mas outros 10% já contam com internet via satélite.
Para melhorar a qualidade da educação oferecida em áreas rurais, o governo federal divulgou em março deste ano o Pronacampo, um programa nacional de investimento nas escolas rurais brasileiras. O programa vai agir em três frentes: construir e reformar escolas, melhorar condições de transporte e formar professores. A meta do governo é implantar laboratórios de informática em 20.000 escolas e garantir o acesso à internet para 10.000 escolas.