Tecnologia e educação midiática são ferramentas para a formação de novos leitores - PORVIR
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Inovações em Educação

Tecnologia e educação midiática são ferramentas para a formação de novos leitores

Uso de celular e tablets para promover a leitura entre crianças e jovens na escola depende de intencionalidade e planejamento pedagógico.

Parceria com Árvore

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 27 de agosto de 2021

Durante muito tempo, os aparelhos de retroprojetor (quem lembra?), e posteriormente, os chamados data-show, eram o mais perto de tecnologia em algumas salas de aula, uma vez que escolas proibiam o uso de celulares, alegando que isso seria uma distração. A pandemia de Covid-19 veio para mudar essa concepção e mostrar que é possível desenvolver propostas que unem o mundo tecnológico, os interesses dos alunos e o aprendizado de conteúdos previstos nos planos pedagógicos, como a promoção da leitura.

Para essa missão ser bem-sucedida, entretanto, um dos pontos fundamentais é considerar o mundo do estudante e, assim, realizar propostas que combinem o conteúdo pedagógico com o que crianças e jovens estão vendo e utilizando em aplicativos e nas redes sociais. Para Letícia Reina, gestora educacional da Árvore, esse processo envolve tentar compreender o que existe na tela que faz com que fiquem conectados durante tanto tempo.

“É uma coisa engraçada, um sentimento de pertencimento, uma informação passada de modo simples e fluido? O que tem ali? As escolas precisam olhar para isso para oportunizar a escuta de seus estudantes e conhecer o que eles consomem. Dessa forma, é possível transformar a escola nesse local de conexão e relação entre os conteúdos que devem ser aprendidos de acordo com o currículo e os conhecimentos prévios dos alunos”, explica.

Segundo a gestora, para promover aprendizagem é necessário relacionar conhecimentos ou gostos prévios com o novo. Além disso, para fazer o salto entre o conceito já aprendido e um novo conteúdo deve-se acionar a zona de desenvolvimento entre eles. Por isso, professores e demais educadores devem promover que as salas de aula sejam espaços de relação entre esses conhecimentos, promovendo o levantamento e checagem de hipóteses para que as relações de ensino e aprendizagem se tornem cada vez mais significativas.


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Diversidade e personalização
João Leal, CEO da Árvore, chama a atenção para dois pontos que envolvem tecnologia. Um deles é a disponibilidade e diversidade de conteúdo na palma da mão: com um tablet ou celular, é possível acessar diversas ferramentas, plataformas e múltiplos tipos de textos.

“O aluno já está no celular, tablet e novas mídias digitais. Se ele passa ao menos parte do seu tempo nessas mídias realizando uma leitura, já temos um saldo positivo. Além disso, ferramentas inovadoras, gamificadas e de acompanhamento personalizado podem ajudar a proporcionar uma aprendizagem significativa e, consequentemente, a formação de novos leitores”, explica.

Tecnologia e projeto pedagógico
Se professores que não ainda não utilizam tecnologia em sala de aula acreditam que liberar o uso de celulares dá conta do recado, estão enganados. Por mais que os alunos já estejam familiarizados com o mundo online, o uso de aparelhos, redes sociais e navegadores de busca nas aulas é muito diferente do que estudantes fazem fora da escola.

Esse movimento demanda método e que as propostas estejam previstas e de acordo com o projeto pedagógico do professor ou da escola. É o que explica a educomunicadora e especialista em educação literária e midiática, Januária Alves. “Na escola, a abordagem desse universo digital, dos aplicativos, dos games e das próprias redes sociais tem um objetivo educativo. Em seu projeto pedagógico, o professor deve incluir o que se pode ensinar e aprender por meio desses instrumentos.”

Mais do que planejar a forma com que a tecnologia será usada, Letícia reforça a importância das práticas e ferramentas escolhidas estarem a serviço da construção da aprendizagem, e que não sejam o objetivo central da proposta.

“Se o educador quiser explorar o Tik Tok com os alunos, essa rede não deve ser um fim ou objetivo, mas a ferramenta de comunicação entre aquilo que se deseja que o aluno aprenda e o que ele já conhece e sabe. Um exemplo é propor uma reflexão sobre os conteúdos que circulam no aplicativo, o tempo de execução, a relação entre imagem, texto, música e humor. Quem sabe explorar essa linguagem com estudantes do ensino fundamental, de modo a convidá-los a criar e editar vídeos que tragam resenhas de obras lidas em sala de aula?”, exemplifica a gestora.

A ideia, portanto, é unir tecnologia e conteúdo. Nas aulas de língua portuguesa, uma possibilidade é comparar as diferentes narrativas e linguagens – oral e escrita – usadas no app e as marcas de oralidade presente nos vídeos.

A relação com educação midiática
De acordo com João, a educação midiática pode ser uma forma de promover essa integração entre conteúdo, tecnologia e propostas que façam sentido nesse mundo midiático e informacional de hoje. “É a partir da educação midiática que o aluno recebe apoio necessário para fazer um uso consciente das novas mídias e, principalmente, ter repertório e senso crítico para analisar as informações que recebem pelos meios digitais”.

Ele explica que, ao tratar a importância da leitura para a formação do cidadão, a Árvore reforça o quanto ler ajuda a formar um repertório cultural e visão de mundo, tornando a  leitura um ato de extrema importância para uma educação midiática completa.

Enquanto especialista em educação midiática, Januária concorda e defende que, hoje em dia, não basta ser alfabetizado e letrado: as pessoas precisam também ser midiaticamente alfabetizadas, ou seja, saber trafegar pelas mídias. Esse trabalho pode ser desenvolvido na escola usando as práticas da educação midiática, como ler e decodificar notícias do interesse dos alunos, como porta de entrada para o mundo da leitura.

Para isso, ela cita o pedagogo francês Célestin Freinet, que, no início do século 20, criou o método Freinet, que inclui a leitura e a produção de notícias pelos alunos.

“As notícias são introduzidas como literatura informativa e a seleção de notícias que interessem para as crianças e expliquem o que está acontecendo no mundo é um exercício extremamente interessante que já era utilizado na escola principalmente por meio dos jornais impressos e, agora, com o uso de jornais e mídias digitais.”

Leitura para todas as idades
O uso das notícias em sala de aula como forma de fazer a ponte entre conteúdo pedagógico – nesse caso, a leitura e habilidades midiáticas –, o que acontece no mundo e os interesses dos alunos é uma estratégia compatível com todas as idades, como explica Januária.

“Sabemos que uma notícia não é só o texto escrito, e pode ser uma foto, vídeo, um meme. Todas essas linguagens já perpassam a vida da criança desde a Educação Infantil.” Nesse sentido, a educadora defende que a ideia não é traduzir ou simplificar a linguagem das notícias, mas sim selecionar conteúdos de acordo com o interesse da faixa etária em questão e que estejam relacionados ao conteúdo previsto no projeto pedagógico.

Além disso, enquanto coautora do livro “Como não ser enganado pelas fake news”, Januária reforça que considerando o nível de mediatização do mundo atualmente, é imprescindível realizar um percurso com as crianças e jovens, isto é, ensiná-las a pesquisar e questionar, fazer muitas perguntas e não aceitar tudo o que lhes é apresentado na mídia como uma verdade.

“Formar um leitor crítico competente é formar um leitor curioso, capaz de formar o seu próprio repertório, e isso acontece por meio da pesquisa, da investigação e de todas essas essas ferramentas que o mundo das notícias e do jornalismo só tem a contribuir.”

Múltiplos aprendizados
Além de promover aprendizados que se relacionam à área de linguagens, a literatura também se relaciona ao campo socioemocional. Segundo Januária, a leitura literária é importante não apenas porque exige competências e habilidades como reflexão, imaginação, mais paciência, constância e concentração, mas também por promover o desenvolvimento da empatia.

“Quando conseguimos ler com cuidado e com tempo, nós conseguimos entender a história  e as dores do outro. Em muitos casos, isso é mais complicado quando se trata de um filme, porque a velocidade das imagens acaba nos distraindo. A leitura literária, o que os especialistas chamam de leitura profunda, convida ao desenvolvimento de outras habilidades, e pesquisadores já andam dizendo que a perda dessa leitura profunda, vai ter consequências na construção do raciocínio, pensamento e argumentação de crianças e jovens”, reforça.

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base nacional comum curricular, educação midiática, interdisciplinaridade, leitura

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