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Diário de Inovações

Alunos aprendem escrevendo cartas para Cabo Verde

Projeto Cantos Distantes, desenvolvido por professora em Brasília, aposta em trocas culturais e gênero textual antigo, para desenvolver habilidades de leitura e escrita

por Maria Verúcia de Souza ilustração relógio 10 de setembro de 2015

Na escola que eu atuo como professora formadora, todos os educadores são convidados semestralmente a participar de algumas formações que possam agregar mais conhecimento. Foi dessa forma que eu conheci o curso online de formação de educadores Caminhos da Escrita**, que possibilitou que uma simples ideia que eu tinha se concretizasse.

Depois de morar um tempo em Cabo Verde, eu achava que a questão do letramento no Brasil estava mais avançada. Mas, infelizmente, essa não era a realidade. Por isso, quando voltei para cá, criei o projeto Cantos Distantes. Basicamente, a ideia é ensinar os alunos a escreverem outros tipos de gêneros textuais a partir da aprendizagem da carta.

A proposta é que alunos do terceiro ano do ensino fundamental da escola Classe 308 Sul, de Brasília (DF), troquem correspondência com os alunos da mesma idade da Escola São Francisco na Ilha de Santiago Praia, em Cabo Verde.

Romper um pouco com a rotina de sala de aula é a grande cartada quando queremos que uma ideia traga bons frutos

Eu escolhi esse gênero porque, apesar da carta ter sido substituída pelas formas de comunicação mais rápidas, como o email, ela exige um trabalho mais sistematizado com a linguagem, além do processo que envolve organização do texto, saudação, estrutura, paragrafação e outros elementos. A principal motivação é ensinar os alunos a estruturar um texto. Eles conseguem perceber a diferença com relação à linguagem mais dinâmica de hoje em dia.

Como coordenadora, eu também me preocupei em como poderia incentivar o interesse dos professores pela pedagogia dos projetos, ao invés de desenvolver apenas atividades isoladas.

O primeiro momento desse processo todo foi uma visita à embaixada de Cabo Verde no Brasil, onde a turma teve aulas ricas em história, geografia e costumes cabo-verdianos. Em um segundo momento, os alunos escreveram e trocaram cartas entre si, como uma forma de diagnóstico, para que as professoras soubessem o quanto eles entendiam do gênero. Eles sabiam muito pouco sobre a estrutura e linguagem adequada para esse tipo de texto. As educadoras, então, fizeram todo um trabalho de sistematização e, depois, em grupo, a sala elaborou uma carta de agradecimento ao embaixador de Cabo Verde pela recepção na embaixada. Só depois eles escreveram para os alunos cabo-verdianos.

Quando nós vencemos os muros da escola, a motivação dos alunos fica muito mais a flor da pele

Foi curioso perceber que, em linhas gerais, as mesmas dificuldades dos alunos identificadas aqui foram também identificadas lá. Eu faço um trabalho de acompanhamento semanal com as três professoras brasileiras e a professora de Cabo Verde. A evolução dos alunos é visível. Alguns, que escreveram dois parágrafos no diagnóstico, conseguiram escrever um discurso tranquilo de uma página na versão final. Todo o trajeto foi orientado da mesma forma e eu fiquei encantada com as cartas que foram escritas.

Com essa caminhada, eu percebi que quando nós vencemos os muros da escola, a motivação dos alunos fica muito mais a flor da pele. Isso me leva a crer que romper um pouco com a rotina de sala de aula é a grande cartada quando queremos que uma ideia traga bons frutos. O curso Caminhos da Escrita foi fundamental nessa jornada. Eu acredito que levar o professor a fazer uma formação que o ajude a entender mais sobre letramento e gêneros textuais, a fim de que ele se porte melhor em sala de aula, já está valendo.

 

** Caminhos da Escrita é um curso online para formação de professores, que faz parte da Olimpíada de Língua Portuguesa “Escrevendo o Futuro”, iniciativa da Fundação Itaú Social e do Ministério da Educação (MEC), sob coordenação do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).


Maria Verúcia de Souza

Maria Verúcia de Souza é mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília e mestre em Educação e Desenvolvimento Humano pela Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Atualmente é professora formadora na Escola de Aperfeiçoamento dos profissionais de Educação do DF. Já atuou como docente em vários níveis de ensino e nos últimos 12 anos vem se dedicando à formação de professores. De 2004 a 2011, atuou na formação de professores no Instituto Pedagógico de Cabo Verde e na Universidade Pública de Cabo Verde.

TAGS

ensino fundamental, interdisciplinaridade, uso do território

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