Veja a lista de professores e gestores premiados no 24º Prêmio Educador Nota 10
Das 10 experiências pedagógicas reconhecidas, cinco são realizadas com alunos do ensino fundamental, duas são de gestão, duas de educação infantil e uma de ensino médio
por Redação 2 de março de 2022
A Fundação Victor Civita anunciou na última sexta-feira (25) os vencedores da 24ª edição do Prêmio Educador Nota 10. Os projetos selecionados foram desenvolvidos durante 2020 e 2021, em meio às incertezas e dificuldades de ensinar em aulas remotas enquanto as escolas estiveram fechadas por conta da pandemia de Covid-19.
Os ganhadores são representantes de escolas em sete estados: Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Das 10 experiências pedagógicas campeãs, cinco são trabalhos realizados com alunos do ensino fundamental (somando anos finais e iniciais), dois são de gestão, dois de educação infantil (2 a 3 anos e 4 a 5 anos) e um do ensino médio. Entre os componentes curriculares aparecem matemática, história, geografia, língua estrangeira, ciências da natureza e educação física.
A 24ª edição do Prêmio Educador Nota 10 teve cerca de 2,5 mil inscritos. A seleção dos projetos ficou por conta da Academia de Selecionadores, grupo que reúne especialistas em didáticas específicas, pesquisadores das principais universidades do país, orientadores de graduação e pós-graduação, além de formadores de gestores e de professores.
A premiação conta com a parceria de mídia da Abril, Globo e Fundação Roberto Marinho, tem o patrocínio da SOMOS Educação e BDO, e o apoio da Nova Escola, Instituto Rodrigo Mendes e Unicef. Desde 2018, o Prêmio Educador Nota 10 é associado ao Global Teacher Prize, realizado pela Varkey Foundation.
Cristiele Borges dos Santos Cardoso
Educação Infantil – crianças bem pequenas (2 e 3 anos)
Projeto “A voz das crianças: conexões que aproximam”
Escola: EMEI Joaninha – Novo Hamburgo (RS)
Quem lida diariamente com crianças pequenas sabe que desenvolver um bom trabalho inteiramente a distância, durante a pandemia, foi um desafio enorme. Mas a professora Cristiele conseguiu uma comunicação que fez sentido e foi respeitosa com a faixa etária de 2 anos. De março de 2020 até janeiro de 2021, sua turma acompanhou o crescimento da batata doce, o que possibilitou integrar conhecimento científico, cuidado com as plantas e registros, em especial o desenho. Como a maioria das famílias só tinha o celular, as conversas e atividades aconteciam individualmente, em duplas ou trios. O WhatsApp permitiu divulgar imagens e áudios, revelando que a linguagem oral das crianças deu um salto no período. O projeto destaca as especificidades da Educação Infantil, que envolve compreender como as crianças pensam, constroem conhecimento e se comunicam. Além disso, é um lindo exemplo de como os adultos – professora(es), gestoras e famílias – podem preparar um entorno delicado e cuidadoso para que elas aprendam.
Daniela Cardoso da Silva
Coordenadora pedagógica – Ensino Fundamental (Educação de Jovens e Adultos)
Projeto “Manual de sobrevivência da EPA – Escola de Porto Alegre”
Escola: Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre – Porto Alegre (RS)
A escola onde Daniela atua, uma das poucas no país dedicada às pessoas em situação de rua, é um espaço de acolhimento e aprendizagem que vai além do currículo convencional. O trabalho pedagógico se concretiza em ações de cidadania, valorização das experiências de vida dos estudantes, incentivo à expressão oral e escrita e à leitura, além de conteúdos de relevância para eles, como cuidados com a saúde física e mental. O clipe da música “Manual de Sobrevivência”, de Bruno Amaral, foi o ponto de partida para um projeto interdisciplinar construído por educadores, estudantes e colaboradores externos. Depois do clip, o texto “Manual de Sobrevivência do Fábio”, escrito por um dos alunos, viralizou nas redes sociais e, em seguida, aconteceram muitas ações importantes, algumas previstas e outras não. O livro “A Filha do Dilúvio”, de Miguel da Costa Franco, inspirou propostas de leitura e escrita, conversa com o autor, fotografia, teatro, oficina de cinema, produção de textos autobiográficos e de um memorial da rua, motivando registros em vídeos e em um livro elaborado por estudantes e professores.
Francilda Fonseca Machado
História – 6º ano
Projeto “Meu quintal meu campo de pesquisa”
Escola: Escola Municipal Santa Bárbara – São Bento (MA)
Como os alunos de Francilda moram em comunidades quilombolas, sem acesso à internet, ela organizou roteiros dialogados, explicando conteúdos e propondo atividades de produção, pesquisa e vivências para serem cumpridas no quintal de casa. Nos meses seguintes, o estudo aconteceu em ritmo de descoberta e aventura. Após leituras sobre sítios arqueológicos, por exemplo, a professora orientou a escavação de vestígios de antigos habitantes. Os estudantes demarcaram uma área, improvisaram pincéis e encontraram pedaços de porcelana, restos de sandálias, raízes e rochas. O material chegava à escola trazido pelos pais, que levavam de volta novos roteiros e instruções para os alunos. Em outro momento, para celebrar o domínio do fogo no período Paleolítico, fizeram uma fogueira com ajuda dos adultos e sentaram-se em volta dela para contar histórias, o que gerou relatos escritos encantadores, coletados por Francilda. De volta às aulas presenciais, a turma simulou a escrita dos sumérios com barro e um objeto pontiagudo e escreveu mensagens codificadas com os símbolos do alfabeto fenício.
Janete Emília Dourado Santos
Matemática – 5º ano
Projeto “O pulo do gato”
Escola: Educandário Anísio de Souza Marques – Iraquara (BA)
Não deixar ninguém para trás e ainda promover a aprendizagem! Diante das agruras da pandemia, entre elas a falta ou a precariedade do acesso à internet, Janete e os demais professores montaram um esquema para entregar blocos de atividades nas casas dos alunos quinzenalmente. Ao analisar os materiais recolhidos nas quinze comunidades atendidas pela escola, a professora observava os conteúdos de Matemática que se mostravam mais difíceis para as crianças e tratava deles nos próximos blocos. As diversas estratégias de resolução e também os erros cometidos foram incluídos em atividades para análise e reflexão. Desse modo, ainda que os estudantes não tenham se encontrado, pois não houve aulas síncronas, tiveram possibilidade de interagir com diferentes soluções elaboradas pelos colegas. Para garantir o aprendizado, Janete tirava dúvidas por chamadas de áudio e vídeo. O esforço e o investimento de tempo valeram a pena, já que a turma superou as expectativas e avançou muito nas estratégias de resolução de problemas.
Jaqueline Maria Alexandre Weiler
Educação Infantil – Crianças pequenas (4 e 5 anos)
Projeto “A pesquisa como prática educativa: aprendendo a aprender com os quero-queros”
Escola: Núcleo de Educação Infantil Taquaras – Balneário Camboriú (SC)
Crianças pequenas pesquisam, têm hipóteses consistentes e são potentes em suas investigações – se o que observam fizer sentido para elas. A escuta ativa e sensível da professora levou a verificar que a cada dia crescia o interesse da turma pelos quero-queros. As aves faziam barulho no campo de futebol em frente à janela da sala, despertando a atenção das crianças. Jaqueline então estruturou um projeto de investigação que potencializou as aprendizagens em todos os campos de experiência, com espaço para as práticas de linguagem envolvidas em procedimentos de pesquisa, a observação dos comportamentos dos pássaros e o contato com diversas linguagens artísticas como literatura, teatro de sombras, modelagem, desenho e pintura. Durante o período de ensino remoto, as famílias participaram ativamente, incentivando e oportunizando situações de pesquisa. Suas contribuições foram valorizadas, pois no decorrer do ano a professora aprendeu a usar aplicativos e a criar materiais informativos com fotos e trabalhos das crianças, divulgando para a comunidade o percurso de aprendizagem do grupo.
Jaqueline Rodrigues dos Santos
Língua Estrangeira – 2º ano do Ensino Médio
Projeto “Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”
Escola: Etesp São Paulo Centro Paula Souza – São Paulo (SP)
Jaqueline partiu de um material em língua inglesa sobre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), disponível no site das Organizações das Nações Unidas (ONU), para ampliar habilidades dos adolescentes e incentivar sua formação como cidadãos conscientes dos problemas contemporâneos. Reconhecendo que os estudantes têm diferentes níveis de proficiência e conhecimento do idioma, ela investiu em um projeto contextualizado que permitiu a todos se desenvolverem de acordo com seus saberes. A professora incentivou a formação de duplas ou trios e sorteou temas (um ODS por grupo) para que preparassem um seminário. O trabalho aconteceu no formato virtual e envolveu estratégias de leitura, construção e revisão de um PPT e organização da parte oral. Jaqueline se reuniu com os grupos separadamente para dar feedback, encaminhar correções e fazer comentários. No processo, as quatro habilidades linguísticas – speaking listening, reading and writing – foram mobilizadas de modo orgânico e coerente para apresentar as atitudes necessárias diante dos desafios do mundo atual.
João Paulo Pereira de Araújo
Diretor escolar – Ensino Fundamental e Médio
Projeto “Escola fechada, Educação em movimento!”
Escola: EE Doutor Pompílio Guimarães – Leopoldina (MG)
João Paulo foi aluno, professor e, desde 2019, dirige essa escola que atende 160 estudantes da zona rural. Em poucos meses, motivou professores e funcionários, organizou manutenções na estrutura e incentivou a participação na Prova Brasil/Saeb, tanto que a unidade obteve o Ideb pela primeira vez. O direito à aprendizagem é garantido, levando os egressos a seguirem os estudos em instituições de renome, como o Instituto Federal. O fortalecimento do vínculo dos alunos com a escola e a articulação com os pais foram os eixos centrais do projeto realizado durante a pandemia. As visitas de gestores e docentes para entregar materiais impressos nas casas das famílias ajudaram a entender melhor a realidade de cada um. Os professores contaram com acompanhamento e apoio por causa da pouca familiaridade com a tecnologia e prepararam kits para estudo remoto considerando os diferentes percursos de aprendizagem dos alunos. Estratégias de acolhimento permitiram a cada estudante expressar seus sentimentos em um diário e em retalhos de tecido, auxiliando a todos na superação de tempos difíceis.
Linaldo Luiz de Oliveira
Ciências da Natureza – 9º ano
Projeto “Um ensaio Biocultural”
Escola: EMEF Iraci Rodrigues de Farias Melo – Mogeiro (PB)
Para dinamizar as aulas de Ciências, o professor Linaldo colocou a turma para investigar o conhecimento ecológico dos residentes no município, situado no agreste paraibano. As entrevistas, realizadas de modo remoto com integrantes das famílias, geraram informações sobre as espécies de animais silvestres que eles costumam caçar, seus usos para alimentação e medicamentos e em “causos” do folclore da região. Para promover a divulgação científica das descobertas, os alunos criaram “Pokemons” com base nos animais citados pelos caçadores. Cada um dos seres imaginados, ilustrado por um desenho artístico, recebeu uma ficha técnica com informações ecológicas e bioculturais da espécie que o inspirou. O material foi divulgado pelas redes sociais e integrou um e-book. Para ampliar ainda mais os saberes dos estudantes, o professor convidou um acadêmico de referência da área de zoologia cultural para debater sobre as relações entre as pessoas e a natureza ao seu redor.
Paulo Roberto Magalhães
Geografia – 6º ano
Projeto “A escola pulou o muro em vídeos e quadrinhos”
Escola: EMEF Duque de Caxias – São Paulo (SP)
O conhecido geógrafo Milton Santos costumava dizer que “o mundo está nos lugares”. A pandemia impediu o professor Paulo de desenvolver suas aulas públicas na rua e nos espaços urbanos do bairro paulistano do Glicério. Mas nem por isso ele deixou de transportar a cidade para o ambiente virtual. Recorreu a um novo suporte: os quadrinhos digitais, uma forma viva de situar a paisagem urbana e ainda valorizar a identidade dos estudantes. As aulas, acessíveis no Tour Creator (Google), guiaram os alunos por ruas e vielas do bairro por meio de uma plataforma virtual. O viaduto do Chá, as enchentes na região central e os parques urbanos foram alguns dos temas abordados no estudo da paisagem e território urbano. Além de produções que valorizam a linguagem espacial, como croquis, mapas mentais, desenhos em perspectiva e maquetes, os estudantes se envolveram na autoria dos quadrinhos digitais, alguns criados a partir de registros fotográficos das aulas presenciais (antes de março de 2020). Dessa forma, mesmo à distância, continuaram ligados à escola e próximos de sua realidade.
Rosalina de Lázaro
Educação Física – 2º a 5º ano
Projeto “Projeto brincadeiras de quintal”
Escola: EE José dos Santos – Aspásia (SP)
Um tema comum – os jogos e brincadeiras tradicionais – se desdobrou em um trabalho de educação integral, aliando as dimensões física, intelectual, emocional, social e cultural. A professora, conhecida como Rosinha, acertou na escolha de estratégias, nas formas de participação das crianças e das famílias. Pais, irmãos e avós tiveram oportunidade de ensinar e aprender uns com os outros. Já nas primeiras entrevistas, as pessoas idosas foram valorizadas por suas vivências, histórias de objetos infantis e espaços lúdicos de outros tempos. As gravações estão no blog sobre o projeto, que traz registros de diferentes etapas, desde as propostas presenciais desenvolvidas na escola até vídeos sobre brincadeiras realizadas em casa, produções escritas sobre as preferidas da família, autoavaliações e depoimentos dos alunos. As crianças estiveram sempre no centro do planejamento de Rosinha, que pediu a elas que também buscassem práticas lúdicas de origem indígena e africana, ampliando o repertório de todos que participaram das brincadeiras no quintal.