Projeto STEM inspirado por quebradeiras de coco vence Solve for Tomorrow Brasil
A 12ª edição da premiação, que pela primeira vez teve mais estudantes mulheres inscritas, reconheceu 10 projetos por sua inovação e criatividade em resolver problemas locais
por Cecília Garcia
3 de dezembro de 2025
A extração de coco babaçu é um saber centenário das regiões rurais do Maranhão, praticado por mulheres quebradeiras de coco que repassam seus conhecimentos de geração em geração. A atividade consiste na quebra de coco para extração da amêndoa babaçu, que é comercializada e usada na feitura de produtos como farinha, óleo e sabão.
Pensando em como otimizar o processo de secagem do babaçu, estudantes do Instituto Estadual do Maranhão escutaram as quebradeiras e criaram o Projeto BabaçuTech, que consiste em um forno movido à luz solar. Por unir saberes tradicionais com tecnologia de maneira empática e criativa, o projeto ganhou o primeiro lugar na premiação Solve for Tomorrow Brasil, que aconteceu em São Paulo no dia 2 de dezembro.

A 12ª edição da iniciativa organizada pela Samsung reconheceu 10 projetos finalistas como expoentes da qualidade da produção científica das escolas públicas brasileiras. São mais de 225 mil estudantes e professores impactados, e a edição deste ano ainda viu um aumento de 11% na participação de professoras. Pela primeira vez, o número de estudantes mulheres inscritas também ultrapassou o de homens.
“A avaliação de projetos revela práticas consistentes e alinhadas com a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) e com o Novo Ensino Médio, demonstrando a qualidade do ensino público, o protagonismo dos estudantes e o talento e empenho dos professores”, declara Ana Helena Altenfelder, presidente do conselho de administração do CENPEC, parceiro técnico e coordenador do projeto no Brasil.
A iniciativa Solve for Tomorrow está presente em 68 países, e o Porvir cuida da gestão da plataforma Solve for Tomorrow Latam e do curso para educadores “Aprendizagem Baseada em Projetos: uma jornada da ideia à ação”.
Jovens conectados com os problemas de sua realidade
É o terceiro ano que o professor de biologia Galileu Pires chega à final da Solve for Tomorrow. O professor monitorou o Projeto Arapaina Ativo, de Manacapuru (AM), onde um grupo composto exclusivamente por alunas criou um filtro de carvão a partir da ossada do Pirarucu, peixe que é uma força econômica na região.
“Para mim o principal objetivo dessa iniciativa é botar na prática o que se aprende na sala de aula, e o estudo como caminho a seguir”, afirma o professor. “Esse ano o desafio foi maior, porque foi numa escola nova, de periferia, com poucos recursos. Também foi a primeira vez com alunas do primeiro ano. Nunca apresentaram, nunca fizeram pesquisa. Mas elas abraçaram o projeto, e aprenderam muito sobre física, química e matemática ao desenvolver o protótipo”.
Para a estudante Lohanya Guimarães, de 15 anos, uma das integrantes do Arapaina, a iniciativa deixou aprendizados que vão muito além dos da sala de aula: “É muito gratificante saber que nós não estamos tratando só de um impacto, mas sim de três: social, econômico e natural. Nosso projeto ajuda a combater o desmatamento amazônico que ocorre na produção de carvão, e também no saneamento de pessoas que não tem o essencial, que é a água potável”.
Três iniciativas foram escolhidos pelo júri popular no site da Solve For Tomorrow Brasil por sua excelência e criatividade:
- O Projeto Apollo SPX (Solid Propellant Experiment), de Cuité (PB), um foguete que espalha sementes na Caatinga;
- O Projeto Bioconcreto, de São Paulo do Potengi (RN), que reutiliza cinzas da queima de castanha-do-pará para criar um concreto sustentável,
- O Projeto Painéis Ecológicos, de Marabá (PA), que produz painéis de isolamento acústico a partir de um compósito residual formado por cascas de mandioca e de ovos de galinha, desenvolvido para atender jovens com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
O professor Denilson Leandro da Silva, do Painéis Ecológicos, relata a transformação que ela causou no território. “Hoje o projeto ganhou uma dimensão tão grande dentro da escola e do município… Quando as pessoas olham o painel e dizem: ‘Isso aqui tem casca de ovo e casca de mandioca? Não é possível, ficou tão bom, tão interessante!’, eu me sinto muito orgulhoso como professor.”
O futuro da pesquisa no Brasil
Os projetos do Solve for Tomorrow iniciam uma trajetória de pesquisa para os estudantes. Mesmo que eles não sigam carreira, a metodologia científica, que os convida a investigar coletivamente um problema, pensar em um protótipo e testá-lo, muda radicalmente suas experiências de futuro.
É como conta a estudante Marina da Páscoa, 14 anos, do projeto vencedor BabaçuTech: “Trabalhar com o Babaçu nos trouxe o interesse de pesquisar mais. Adquirimos conhecimentos durante o processo que vamos levar para o resto da nossa vida”.
No caso do projeto finalista Erva de Santa Maria, de São José dos Pinhais (PR), a iniciação científica mudou a forma como os estudantes se relacionam entre si e com a escola. Os estudantes do primeiro ano do ensino médio criaram um sabonete feito de uma erva comum na região para combater carrapatos e pulgas em animais domésticos.
“Quando começaram o projeto, não estavam com o desempenho acadêmico ideal. Agora tem um rendimento excelente, são finalistas de um prêmio nacional. Hoje eles podem se dizer pesquisadores, sabem pesquisar, ler um artigo científico. Eram tímidos, hoje todo mundo fala, grava e edita vídeo”, diz Pauline Henrique, professora mediadora do projeto.
“Quero que um dia tenha tantos alunos que queiram desenvolver pesquisa que eu não consiga dar conta de orientar”, acrescenta o professor Denilson. “Esse trabalho gera impacto, porque o aluno que vem do ensino fundamental olha para a premiação dos mais velhos e já vem com outra perspectiva, com outro olhar. E é esse olhar de pesquisador que vai fazer com que a educação da escola em si melhore, que o desempenho desses alunos melhore e com que nós tenhamos um ambiente mais agradável para trabalhar, para conviver e impactar”.
Vencedores nacionais
1º lugar: BabaçuTech: Soluções sustentáveis e tecnológicas para transformação social da Amazônia Maranhense
A equipe construiu um forno que utiliza tecnologia de captação de energia solar para secagem do mesocarpo do coco babaçu, contribuindo para a produção sustentável de farinha pelas quebradeiras de coco das comunidades quilombolas.
Professor: Felipe Borges Pereira
Instituição de ensino: IEMA – Unidade Plena Itaqui Bacanga
Cidade: São Luís – MA
2º lugar – Efeito de extratos vegetais em Aedes aegypti visando uso em estações disseminadoras de larvicidas
Utilizando larvicida natural e de baixo custo, a equipe elaborou estações disseminadoras que transformam o mosquito Aedes aegypti em agente de controle.
Professora: Ayanda Ferreira Nascimento Lima
Instituição de ensino: Centro de Ensino em Período Integral Dom Veloso
Cidade: Itumbiara – GO
EcoLuz Trap – Tecnologia de baixo-custo contra vetores na Amazônia
Para combater mosquitos e promover saúde e autonomia na comunidade, o grupo criou uma armadilha luminosa de baixo custo feita com materiais reciclados.
Professor: Riguel Feltrin Contente
Instituição de ensino: IFPA – Campus Industrial de Marabá
Cidade: Marabá – PA
Vencedores pelo júri popular
Apollo SPX (Solid Propellant Experiment)
A equipe construiu um foguete sustentável de baixo custo para lançar sementes e fertilizantes em áreas degradadas, promovendo o reflorestamento e a agricultura familiar no semiárido.
Professores: Priscila da Silva Santos e Hilton Sabino de Araújo Junior
Instituição de ensino: ECIT Jornalista José Itamar da Rocha Cândido
Cidade: Cuité – PB
Bioconcreto
A equipe criou um bloco sustentável utilizando cinza da castanha de caju, com os objetivos de reduzir a poluição e promover economia circular no semiárido.
Professor: Neuber Araújo
Instituição de ensino: IFRN – Campus São Paulo do Potengi
Cidade: São Paulo do Potengi – RN
Produção de painéis ecológicos a partir de compósito residual formado pelas cascas da mandioca e de ovos de galinha
Com o objetivo de promover a sustentabilidade, a equipe desenvolveu painéis ecológicos para revestimento de interiores utilizando resíduos orgânicos.
Professor: Antonio Denilson Leandro da Silva
Instituição de ensino: EEEM Padre Marino Contti
Cidade: Mãe do Rio – PA
Menção Honrosa
ArapainaAtivo – Um biofiltro de água com a produção de carvão ativado da ossada do pirarucu com tecnologia sustentável
Com os objetivos de purificar água e gerar renda em comunidades ribeirinhas, o grupo produziu um biofiltro de carvão ativado a partir de ossadas de pirarucu.
Professor: Galileu da Silva Pires
Instituição de ensino: EE José Mota
Cidade: Manacapuru – AM
Demais finalistas
Erva de Santa Maria: sabonetes antipulgas sustentável e natural
A equipe desenvolveu um sabonete natural à base de erva-de-santa-maria para repelir pulgas de forma acessível e sustentável.
Professora: Pauline Henrique Fernandes
Instituição de ensino: C E EF M Herbert De Souza
Cidade: São José dos Pinhais – PR
FiltrOcre: Filtro mineral para tratamento de água feito dos rejeitos do granito Ocre
Para purificar água e reduzir o impacto ambiental, a equipe construiu um filtro mineral de baixo custo utilizando rejeitos de granito ocre.
Professor: Francisco Renato Moreira da Silva
Instituição de ensino: EEEP Antonio Rodrigues de Oliveira
Cidade: Pedra Branca – CE
Projeto-occhio
A equipe desenvolveu óculos inteligentes que utilizam Inteligência Artificial para descrever o ambiente em áudio, promovendo autonomia para pessoas com deficiência visual.
Professoras: Keila Diniz e Rosângela Panace Menino
Instituição de ensino: ETEC Lauro Gomes
Cidade: São Bernardo do Campo – SP






