Transformar 2013: ‘A oportunidade do Brasil na educação é agora’
Durante o Transformar 2013, referências internacionais destacaram que o país vive momento-chave para melhorar educação
por Redação 5 de abril de 2013
“Quem sabe, no ano que vem, não sou eu quem convida vocês para irem aos EUA falar de suas experiências?”, perguntou Dianne Tavenner, cofundadora da rede Summit Public Schools, um grupo de escolas na Califórnia que está ajudando jovens de famílias pobres a entrar na universidade, na tarde de ontem em frente a um auditório cheio de professores. Para ela, o país vive um momento único, que une prosperidade econômica e a vontade geral de mudar a educação, opinião compartilhada por Joel Rose, da NewClassrooms, e José Ferreira, da Knewton, que estiveram no país pela primeira vez para apresentar suas iniciativas no Transformar, evento realizado pelo Inspirare/Porvir e pela Fundação Lemann, que trouxe a São Paulo cases nacionais e internacionais de pessoas que estão reformulando a educação na prática.
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“Estou com uma inveja boa, o Brasil tem uma energia incrível”, afirmou Nicole Hinostro, diretora pedagógica da High Tech High, outra rede de escolas americana que tem reinventado a educação pública, principalmente a partir do uso do aprendizado baseado em projetos. A metodologia já havia sido apresentada mais cedo por Melissa Agudelo, parceira de Nicole. Dividido em uma grande plenária na parte da manhã com cinco apresentações, salas paralelas durante a tarde e mais uma conferência de encerramento, o evento reuniu mais de 800 pessoas, entre gestores, educadores, empreendedores, investidores e representantes de organizações sociais. “Vocês têm aqui pessoas com potenciais diferentes e mesmos objetivos”, completou ela.
A metodologia baseada em projetos tem se mostrado uma forte tendência na educação básica e também é usada pela Summit. Suas quatro escolas, que são públicas de administração privada, procuram personalizar o ensino por meio de uma aproximação entre os objetivos do aluno e o que a escola lhe pode oferecer. Entre outras estratégias, a escola aposta numa abordagem individualizada, em que ajuda os estudantes a definirem suas metas e estabelecerem um plano para alcançá-las. Ambientes virtuais de aprendizado e o acompanhamento próximo de um tutor fazem com que os alunos tenham a exata noção de onde estão e para onde pretendem ir. “Temos que formar alunos que direcionem seu próprio aprendizado, que aprendam para o resto da vida, mesmo quando estiverem sem a escola”, disse Dianne.
O engajamento dos alunos, para Brian Waniewski, que também apresentou sua iniciativa durante a manhã no Transformar, é o essencial para qualquer aprendizado. Brian é um dos responsáveis pelo Institute of Play, instituição que promove o aprendizado a partir de games, tanto aqueles que são criados por educadores para utilização em sala de aula, quanto os que são desenvolvidos pelos próprios alunos. “A natureza dos games em muito se parece com o ambiente que precisamos para o aprendizado. Temos flexibilidade, vontade de avançar e, principalmente, não vemos o erro como algo grave”, afirmou.
Joel Rose, cofundador da NewClassrooms, ONG que leva ensino personalizado de matemática para escolas dos EUA, também compartilhou sua experiência no Transformar. Ele sugere uma nova divisão espacial da sala de aula, na qual alunos podem trabalhar individualmente, em dupla ou em grupos. Nesses novos espaços, os jovens contam com uma plataforma inteligente em que podem acessar o conteúdo e estudar da forma como melhor aprendem. “Existem alunos que aprendem colaborativamente; outros, com tutores virtuais; outros ainda, sozinhos, com material impresso ou não. Respeitamos isso”, disse Joel.
Completou o time de palestrantes da manhã José Ferreira, fundador da Knewton, plataforma adaptativa que entrega conteúdo de matemática conforme a necessidade de cada aluno. Ele impressionou a plateia ao apresentar o volume de dados – em maior número que o Facebook, garante o empresário – e o cruzamento de informações que o algoritmo de sua plataforma é capaz de fazer. É assim que ele tem impactado profundamente as salas de aula e o papel do professor. “Educação on-line tem potencial para revolucionar a própria história do mundo”, afirma.
Nas sessões da tarde do Transformar, os palestrantes puderam aprofundar as informações para diferentes segmentos de público. Os educadores se reuniram com Dianne e Nicole e puderem entender um pouco mais sobre as metodologias que vem revolucionando as salas de aula da Summit e da High Tech High.
Na segunda sessão, empreendedores brasileiros que estão começando a desenvolver soluções inovadoras para melhorar a educação no nosso país tiveram a oportunidade de apresentar suas ideias, durante cinco minutos, a uma banca composta por especialistas, gestores educacionais públicos e privados e investidores de impacto. Além de dar feedbacks sobre como melhorar seus planos de negócio, a escabilidade dos seus produtos e serviços e a sua sustentabilidade financeira, os membros da banca levantaram propostas para fortalecer o setor dos negócios sociais em educação no Brasil.
Na terceira sessão, gestores públicos assistiram a um bate-bola entre Cláudia Costin, Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro, e Seth Schoenfeld, chefe de inovação do Instituto de Inovação (iZone) do Departamento de Educação de Nova York. Cláudia salientou a importância de entender a inovação dentro de uma estratégia global, que integre as políticas públicas. “Gasta-se muito dinheiro. Investe-se, mas, muitas vezes, nas coisas erradas”, afirma. As principais iniciativas do município são os Ginásios Experimentais, que oferecem educação integral por meio de professores que assumem um papel polivalente, desenvolvem metodologias que interligam as disciplinas e ajudam os alunos a desenharem seus projetos de vida. Já o iZone, em Nova York, incentiva 250 escolas da sua rede a ousarem e experimentarem. “As escolas são laboratórios de incubação, protótipos e pilotos que contribuem com melhores práticas e inspiram as outras 1.700 escolas da cidade. Pensamos em sustentabilidade e escalabilidade”, disse Schoenfeld.
Anant Agarwal, presidente do edX, que encerrou o evento, analisou a revolução que os Moocs (Massive Open On-line Course, cursos on-line gratuitos e em grande escala) estão trazendo para o ensino superior. O professor estima que, nos próximos dez anos, cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo assistam aulas por meio dos Moocs. Um reflexo do que já vem acontecendo. O seu primeiro curso, por exemplo – de uma disciplina considerada complexa: circuitos eletrônicos –,teve 155 mil estudantes inscritos de 192 países. “Gosto de pensar que o edX é o acelerador de partículas do aprendizado”, disse. “No futuro, os alunos vão usar cada vez mais modelos híbridos, assistindo videoaulas, se encontrando em grupos de discussão fora da sala de aula.”
Bernardo Gradin, presidente do Inspirare, compartilhou o desejo de realizar mais edições do Transformar. “Tem uma fagulha crescendo no Brasil e precisando de protagonistas empreendendo e investindo, tomando responsabilidades. Acho que tudo isso acabou criando um desejo de um próximo encontro como esse.”
Todas as sessões do Transformar estarão disponíveis para exibição no canal do Porvir no YouTube a partir das próximas semanas. Aguarde!