Goldie Hawn cria aula sobre como controlar o cérebro
Fundação liderada pela atriz aposta na neurociência para tornar crianças mais felizes e preparadas para enfrentar desafios
por Tatiana Klix 13 de março de 2015
Se o cérebro é o melhor computador do mundo, por que não tem aulas para ensinar a usá-lo na escola? A frase é da atriz e dançarina Goldie Hawl, que preocupada com o desenvolvimento emocional das crianças dos Estados Unidos após o ataque de 11 de setembro de 2001 decidiu criar um programa para evitar que elas sofram, briguem, não tenham foco e percam a empatia. Nesta quinta-feira (12), a também fundadora da ONG The Hawl Foundation apresentou o projeto na sessão de encerramento do SXSWEdu, em Austin, nos Estados Unidos, que contou ao longo da semana com 400 sessões sobre temas como movimento Maker na escola, privacidade de dados de alunos, novas formas de certificação de conhecimentos e uso de tecnologias vestíveis na educação.
Para Goldie Hawl, o excesso de informação e a pressão por resultados colocada sobre as crianças as deixa assustadas e estressadas. “Pedimos para elas prestarem atenção na escola, mas elas não sabem fazer isso. Elas não sabem usar o cérebro”, afirmou.
Baseada em pesquisas na área da psicologia, meditação mindfullness (mente aberta) e neurociência, decidiu que a melhor forma de ajudar todas as crianças a aprenderem é ensinar a controlar o cérebro. O programa MindUP, criado em 2003 e já levado a milhares de escolas nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Hong Kong, China, Sérvia, Austrália e Venezuela, usa técnicas como “brain break” (intervalo para o cérebro) para ajudar alunos a entenderem e controlarem suas emoções. Os estudantes aprendem a parar para respirar e relaxar por três minutos pelo menos três vezes ao dia. “Isso os deixa mais otimistas, mais controlados e mais confiantes. Depois que eles sabem parar, repetem isso em casa, quando vão brigar com o irmão, ou antes de alguma prova, quando estão tensos”, contou a atriz em Austin.
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As técnicas de meditação de mente aberta, também usadas no programa, ajudam os alunos a focarem a atenção. Segundo Hawl, a tecnologia, os livros, a televisão, a escola e toda a informação disponível distrai muito as crianças. “E o que acontece? Todo mundo é diagnosticado com déficit de atenção e é medicado”, disse. Por isso, acredita que o trabalho de conhecimento sobre como o cérebro funciona e de como manter a atenção completa é importante para melhorar o desempenho acadêmico dos alunos. “É legal ensinar como desenvolver habilidades socioemocionais na faculdade, mas por que não podemos começar antes?”, provocou.
Para fechar o círculo do programa, os alunos também são incentivados a resolver problemas reais e desenvolver a empatia através do compartilhamento dos próprios problemas. “Eles falam dos seus problemas e todos ajudam a resolver”, relatou a atriz.
O MindUP é composto de 15 aulas e pode ser realizado em qualquer escola. Para isso, a The Hawn Foundation oferece um programa de implantação de 12 meses, que passa por workshops presenciais para coordenadores do projeto na escola, seminários online para professores, planos de aula, coaching, workshops para famílias e certificação final.
Entre os resultados obtidos pelos alunos que passam pelo programa, segundo o site da fundação, dois terços dos estudantes disseram que ficaram mais felizes e 78% se sentiram mais relaxados. Eles também melhoram seu comportamento social: ficam mais interativos (90% ajudam outras crianças a se darem bem) e desenvolvem empatia (64% dos alunos da 4a e 5a série aumentaram essa capacidade). Por último, conseguem se organizar melhor. Entre os alunos da 3a série, 75% desenvolveram competências de planejamento e um terço deles demonstraram ter mais controle emocional.
“Essas crianças estão aprendendo que nós podemos controlar o nosso cérebro, e não é o cérebro que deve nos controlar. Isso é muito poderoso”, defendeu Goldie Hawl.
O encerramento do SXSWEdu teve também as palestras de Bob Santelli, diretor executivo do Museu Grammy, em Los Angeles, que falou sobre a importância de usar a música para engajar estudantes no aprendizado, Mimi Ito, professora da Universidade da California, que chamou a atenção sobre a necessidade de ajudar alunos a encontrar boas conexões na internet e relacionar o que fazem na web com o aprendizado, e Salman Khan, que relatou como aulas gravadas para sobrinhos acabaram se transformando na plataforma que chega a Khan Academy.