Leitura ganha vida com alunos vestidos de personalidades famosas
Professora se inspira na curiosidade dos alunos para criar projeto interdisciplinar que pesquisa a trajetória de personagens históricos e atuais
por Cynara Aparecida Lenzi Veronezi 18 de janeiro de 2017
Eu trabalho muito com leitura infantil e nas horas vagas também escrevo histórias. Há trinta anos como professora na rede estadual de São Paulo, minha área de atuação sempre foi nos anos iniciais do ensino fundamental, do primeiro ao quinto ano. No último semestre, a partir do interesse e da curiosidade dos alunos, desenvolvemos um projeto sobre personalidades.
Quem me conhece sabe que, além dos projetos sugeridos pelo governo, a turma sempre passa pelo quinto ano com mais alguma atividade de leitura e escrita. E, no ano passado, não poderia ser diferente. Como fazemos semanalmente uma roda de conversa, percebi que os alunos gostavam muito de ler e comentar sobre “O Guia dos Curiosos”, do Marcelo Duarte. Eles tinham curiosidade em conhecer diferentes aspectos e personalidades.
A classe sempre foi muito ativa e leitora. Quando eu vi o interesse deles pelas personalidades, perguntei o que achavam de fazer uma pesquisa mais profunda, já que guia trazia apenas três ou quatro linhas sobre as pessoas. Daí começaram a surgir mil ideias. Cada aluno escolheu uma pessoa para estudar. Teve Hitler, Napoleão, Cora Coralina, D. Pedro I, Marquesa de Santos, Michael Jackson, Tarsila do Amaral e tantos outros.
Depois da pesquisa, começamos a usar a roda de conversa como um momento de contação de histórias sobre as personalidades. Eles se divertiram muito com essa interação e integração, queriam contar o que cada pessoa tinha feito e faziam conexões com os conteúdos vistos na sala de aula. Se eu estava falando de Carlos Drummond de Andrade, uma aluna levantava a mão para contar que Cora Coralina já tinha sido elogiada por ele.
Durante o semestre inteiro, começamos a fazer links em todas as áreas de conhecimento. Os alunos escreviam sobre sua personalidade na aula de português, aprendiam história enquanto pesquisavam suas vidas, usavam a matemática para fazer a linha do tempo de cada pessoa e conheciam pontos mundiais.
Os alunos fizeram buscas sobre o que as suas personalidades tinham feito de positivo ou negativo para a sociedade. Nesse período, eles ficaram apaixonados por Charles Chaplin e seus filmes. Quando assistimos ao filme “A menina que roubava livros”, por exemplo, eles também conseguiram notar a forte presença de Hitler na história.
Os alunos ficaram tão empolgados que sugeriram vir para a escola caracterizados. No final do ano, combinamos que cada um iria se vestir como a sua personalidade. Não demorou muito para eles começarem a trazer sacolinhas com perucas, roupas e até bigodes para guardar no meu armário ou emprestar para os colegas. Eles realmente queriam ficar parecidos com aquelas pessoas.
O projeto teve uma abrangência global, envolvendo todas as áreas de conhecimento. Percebi que eles ficaram muito animados com essa atividade. O principal ganho foi perceber o quanto eles também se ajudaram. Eles queriam mostrar o seu personagem, mas também queriam conhecer o que estava sendo representado pelos colegas. Os alunos se divertiram, mas ao mesmo tempo aprenderam.
Cynara Aparecida Lenzi Veronezi
Formada no magistério/pedagogia, possui 30 anos de experiência. Trabalha como professora efetiva no ensino fundamental 1, da Escola Estadual Profª Maria Constança de Miranda Campos, em Salto (SP). Escritora infantil, já lançou “Historinhas”, em 2010, e “Histórias pra Contar”, em 2014. Tem uma coluna no Jornal Taperá, escreve histórias infantis no blog E foi assim e compõe a Academia Saltense de Letras.