Novas metodologias de ensino usam situações reais para formar professores - PORVIR
Crédito: pagnacco / Fotolia.com

Como Inovar

Novas metodologias de ensino usam situações reais para formar professores

Como universidades dos EUA e da Finlândia usam novos métodos para levar à sala de aula um profissional capaz de promover uma educação integral

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 25 de fevereiro de 2016

S
Este conteúdo faz parte da
Série Formação de Professores

Na missão de tornar a carreira do professor mais atrativa e formá-lo para lidar com um aluno cuja vida é mediada pela tecnologia, universidades internacionais também se veem diante da pressão de mudar suas metodologias de ensino adotadas nas faculdades de educação. Em conversas com o Porvir, representantes da Universidade de Harvard, de Michigan State e da Relay Graduate School of Education, todas nos Estados Unidos, além da Universidade de Helsinque, na Finlândia, detalharam como estão se movimentando para adequar seus cursos à realidade do século 21.

Uma primeira constatação: novas metodologias dependem de um currículo flexível. Na Relay Graduate School of Education, instituição com sede em Nova York e com unidades em outros sete estados dos EUA, a discussão começou assim. Criada em 2007 por líderes de três escolas charter (públicas com administração privada) em uma parceria com a Hunter College (parte da Universidade da Cidade de Nova York), a instituição começou a atuar de forma independente em 2011, oferecendo cursos de mestrado, requisito para trabalhar na rede pública de ensino. Com passe livre, o programa abandonou as disciplinas tradicionais.

Vamos criar cursos menores que durem o quanto for necessário

“Instituímos cursos muito menores, chamados módulos. Na média, os cursos duram 45 horas, oferecem três créditos, com um ou dois encontros semanais. Dissemos não. Vamos criar cursos menores que durem o quanto for necessário”, diz o reitor Brent Maddin. Com essa filosofia, um curso pode durar um semestre, três semanas ou um mês.

A partir desse momento, a Relay começou a mexer as peças dentro das duas únicas exigências da lei, ou seja, 75 horas de letramento e 37,5 horas de especialização no ensino para crianças com deficiência. “Meu deus, precisamos gastar a mesma quantidade de tempo em história da educação do que em como ensinar crianças a aprender fundamentos de matemática? Isso é loucura. E a resposta é não, nós não precisamos fazer isso”, diz Maddin.

Dentre outras inovações trazidas pela Relay, está a criação de uma biblioteca digital, com vídeos gravados em escolas reais, que pode ser consultada de acordo com a necessidade. “Gravamos por centenas de horas, separamos e classificamos esses vídeos de acordo com nosso currículo. Quando os alunos precisam saber mais sobre o que estamos falando, não fica só na teoria, eles podem ver em ação”, diz. Esse formato é especialmente útil pelo formato híbrido adotado para as aulas: 40% do conteúdo é apresentado online e o restante, presencial. Após assistir a um modelo de aula em casa, o aluno pratica em sala de aula e recebe feedback de professores.

Para concluir o curso, deve-se apresentar uma comprovação de que seus alunos na educação primária ou secundária apresentam melhora no letramento e evidências de mudanças em características socioemocionais, como determinação e autocontrole. “As pessoas sempre acharam que tirar sete seria suficiente, mas agora se não aprenderem 35 competências, não conseguem se graduar”.

No lugar do outro

Em Harvard, a pedagogia usada em cursos de negócios e de direito inspirou a escola de educação a usar o método de estudo de casos. “Eles tratam de situações reais e de escolas reais, permitindo ao professor trazer uma questão que pode ser muito complexa para o debate dentro da sala de aula”, diz a diretora Katherine Merseth. Para ela, uma das principais vantagens do método é poder contrapor experiências de diferentes filosofias de ensino e escolas, sejam mais progressistas ou linha dura.

“A aula acontece duas vezes por semana. Eu não falo durante todo o tempo e sempre tenho atividades onde os alunos debatem entre si um texto específico. Existe muita vocalização pelo lado deles porque sinto que é parte do meu trabalho colocá-los para refletir”.

Minha ideia, ao final, não é dizer ‘este é o melhor caminho’, mas perguntar aos estudantes onde estes diferentes métodos seriam os mais produtivos

Quando conversou com o Porvir, no começo do mês, Merseth antecipou um pouco da aula que daria no dia seguinte. “Vou apresentar duas abordagens diferentes. Em uma delas, professores comandam a aula e, na outra, estudantes fazem perguntas e guiam a discussão. Minha ideia, ao final, não é dizer ‘este é o melhor caminho’, mas perguntar aos estudantes onde estes diferentes métodos seriam os mais produtivos e fazer com que discutam tendo em vista seus próprios valores”.

Merseth promete revisitar o assunto em sua visita ao Brasil, em evento no Instituto Singularidades, em São Paulo, no mês de março. “Veremos como engajar educadores e como escrever casos a respeito de salas de aulas brasileiras que podem ser usados no ensino superior e na formação inicial e nas próprias escolas”.

Atenção à diversidade

Para conectar o que é ensinado com a realidade de sala de aula em Michigan, o curso de formação da Universidade de Michigan State enfatiza métodos que capacitem o futuro profissional a entender o aluno de forma integral. De acordo o diretora Corey Drake, ao longo do programa que dura cinco anos é feito um trabalho específico para que o professor saiba lidar com a diversidade, seja ela racial ou socioeconômica.

“Fazemos um grande trabalho entrevistando crianças, trabalhando com pequenos grupos e, depois, tentamos adaptar o material didático às necessidades daquela turma”, afirma Drake. Para ela, o tema é relevante porque muitos alunos do curso chegam sem experiência para falar do assunto porque não presenciaram isso na cidade de origem ou ao longo de sua trajetória acadêmica.

No curso descrito como essencialmente “prático” com 1.1150 horas de trabalho de campo, as seções de microteaching são destaque. Assim como na Relay, o aluno apresenta uma aula de curta duração e interage com um grupo de colegas e tudo é gravado em vídeo. Mais tarde, junto com professores, cada ponto é analisado antes que o aluno enfrente a “fogueira” de uma sala de verdade.

Foco em competências

Prestes a implantar um novo currículo, a Finlândia vê as universidades se movimentando para atender à exigência de um professor com novo perfil. Na Universidade de Helsinque, o diretor Jari Lavonen conta que os esforços estão direcionados ao processo de ensino de competências para o século 21, e não mais ao conteúdo das disciplinas. “Os professores que saem das faculdades de educação precisam saber como ajudar alunos a desenvolver habilidades como criatividade, pensamento crítico e colaboração”, descreve Lavonen, que também atua como docente na licenciatura de física e de química.

Nós evitamos mudanças drásticas porque sabemos que as escolas são resistentes

Como relatou a secretária de educação da capital finlandesa em entrevista ao Porvir em 2014, a nova diretriz nacional para as escolas não nasceu da noite para o dia. Lavonen diz que isso veio de uma constatação sobre o que acontece longe dos gabinetes. “Nós evitamos mudanças drásticas porque sabemos que as escolas são resistentes e [se fosse assim] nada iria acontecer”. No entanto, o diretor admite que por mais que se fale em continuidade, o novo modelo representa ruptura para o que acontece dentro das faculdades de educação. “Aumentamos o número de aulas práticas, multiculturais e para o planejamento de atividades. Para isso, existem mais e mais atividades em grupo, alunos estão aprendendo mais juntos e em conjunto com professores das etapas primária e secundária. Eles precisam aprender a resolver problemas com pessoas com diferentes pontos de vista e trajetórias de vida”, comenta.

Para apoiar o planejamento dos conteúdos transdisciplinares, Lavonen cita um estudo (clique para baixar o PDF) em que participou que buscava detectar, com a ajuda de respostas preenchidas em smartphones, quais atividades são as preferidas dos estudantes. “Fizemos essa pesquisa nos últimos quatro anos com alunos de ensino fundamental e médio. O que descobrimos é que as situações em que alunos estão fazendo perguntas, planejando e decidindo o que vão aprender são as mais engajadoras”, disse Lavonen. Agora, os resultados da pesquisa servem como insumo nas aulas faculdade de educação em que é discutida a nova pedagogia que vai dominar as aulas nas escolas finlandesas a partir de agosto.


TAGS

competências para o século 21, educação integral, ensino híbrido, ensino superior, formação inicial, série formação de professores, videoaulas

Cadastre-se para receber notificações
Tipo de notificação
guest

2 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais votados
Comentários dentro do conteúdo
Ver todos comentários
Canal do Porvir no WhatsApp: notícias sobre educação e inovação sempre ao seu alcanceInscreva-se
2
0
É a sua vez de comentar!x