A escola que preserva e cuida do seu entorno
Estimular a pesquisa e busca de soluções para problemas sociais é abordagem pedagógica que muda hábitos e desenvolve empatia
por Fernanda Kalena 20 de março de 2015
A escola estatual Ilza Irma M. Coppio fica no município de São José dos Campos, interior de São Paulo, às margens do Rio Paraíba do Sul, que sofre com os altos níveis de poluição de suas águas e da mata ciliar. Com o intuito de conscientizar os alunos sobre a situação do rio e formar essa nova geração de moradores da região para ter uma educação e postura voltada à sustentabilidade, a professora de geografia Rosa Sousa realiza um projeto chamado Água Educa, que envolve alunos em atividades que vão desde pesquisa na área ambiental até ações práticas.
O trabalho é realizado em uma disciplina eletiva para estudantes do ensino médio, mas também envolve a comunidade local. “Começamos a estudar o ciclo hidrológico e qual era a interferência do homem no ciclo. Estudamos em sala toda a parte teórica, para depois realizarmos o trabalho nas margens do rio”, conta a professora.
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Primeiro, ela conta, foi feito um diagnóstico da situação do Paraíba do Sul e dos conceitos de conservação ambiental, como a importância da mata ciliar, o reuso da água e os tipos de energia sustentável. Depois, foi montado um projeto, com a participação ativa dos alunos, que além de relacionar os conteúdos curriculares com essas questões, resultou em um plano de ação a ser executado pela turma.
Com esse plano desenhado, era hora de explorar o ambiente que estavam estudando. Os alunos visitaram algumas vezes o rio para monitorar a qualidade da água. “Esse momento de tira-los da classe é bastante importante. Andar pelos caminhos do bairro deles e instigar a reflexão sobre o lugar: se está legal, o que está faltando, até chegar no rio e ver na prática o que estamos estudando em sala de aula”, explica Sousa.
Durante o percurso, equipados de sacos, luvas e máscaras, os estudantes recolhiam todo o lixo encontrado. “É um trabalho de conscientização. Quando eles recolhem o lixo que encontram no caminho, começam a questionar os próprios hábitos”, diz a professora, que ainda conta que os alunos começaram a perceber que é possível, a partir de um planejamento, fazer alguma coisa em relação ao bairro onde moram. “Temos que despertar esse olhar em nossos alunos, mostrar que eles podem fazer muitas coisas e, o que sair da alçada da escola, deve ser cobrado dos responsáveis”, analisa Sousa.
A professora conta que, durante a fase de planejamento, surgiu o desejo por parte dos alunos de plantar mais árvores na região, o que envolvia custos que a escola não teria como arcar. A partir disso a instituição articulou uma visita de um funcionário da prefeitura à escola para conversar e tirar dúvidas dos alunos. Desse encontro nasceu uma parceria, e a prefeitura plantou mais de 300 árvores no local – tanto alunos quanto moradores da região participaram do plantio.
Esse tipo de abordagem pedagógica praticada em São José dos Campos é chamada de resolução de problemas sociais (ou Social Problem Solving, em inglês) e é uma tendência na educação que ganha espaço em instituições de ensino pelo mundo que se propõem a desenvolver competências como empatia e colaboração estimulando que alunos pesquisem e busquem soluções para problemas sociais de seu entorno.
Mais problemas e soluções
Os desafios trabalhados podem ser diversos, como de saúde, econômico ou de relacionamento. Em Sumaré, também no interior de São Paulo, alunos do ensino médio da escola estadual Dom Jayme Barros Câmara estão desenvolvendo um novo tipo de cola escolar, que não é tóxica e portanto pode ser usada por crianças de faixa etária mais baixa. O produto está sendo desenvolvido a partir da baba do quiabo, um alimento que devido ao seu sabor peculiar sempre despertou a curiosidade dos estudantes, conta o professor de biologia e química, Sergio Giuspo Korniski.
“A baba do quiabo tem uma consistência gosmenta e os alunos vieram me perguntar se ela poderia ser usada como cola, se era aderente. Foi pelo questionamento deles que tive a ideia de leva-los ao laboratório para fazermos testes”, relembra Korniski.
Os alunos, então, testaram a quantidade de água a ser misturada com a baba, a temperatura que devia ser feita a mistura e, agora, estão investigando maneiras de aumentar a durabilidade da cola. Assim que o produto estiver pronto, vai ser patenteado e lançado no mercado para comercialização.
Já no colégio Visconde de Porto Seguro, na zona sul da capital paulista, um curso extracurricular de inovação social levou estudantes do ensino médio a conhecer as diferentes realidades das comunidades de seu entorno – a região é conhecida pela sua concentrada disparidade social.
Em um primeiro momento, os alunos fizeram atividades para despertar a empatia e entender o próximo. “Exibimos filmes e trechos de documentários que mostravam, por exemplo, a dificuldade que comunidades africanas enfrentam para encontrar água, pessoas que tem que andar 3 quilômetros para pegar água e levar para casa. Depois, realizamos uma atividade no pátio onde os alunos tinham que transportar água de um lado para o outro. Com isso eles começaram a se ambientar com as dificuldades do próximo”, conta Renata Pastore, diretora de tecnologia educacional do colégio.
Essas atividades tinham como objetivo prepara-los para a próxima etapa do projeto, de aproximação com as comunidades do entorno. Moradores de bairros vizinhos foram à escola para serem entrevistados pelos alunos, que tinham como missão entender a história de vida de cada um. Somente depois disso os estudantes visitaram essas comunidades. “Com essa construção, eles foram com um olhar diferente, entrevistaram pessoas e visitaram casas. Puderam perceber as dificuldades enfrentadas por essas pessoas”, conta a diretora.
De volta ao colégio, os alunos foram instigados a pensar em soluções e ideias para amenizar essas dificuldades. Por exemplo, como o chão de muitas das residências é de terra, quando chove vira barro. Os alunos perceberam uma grande quantidade de pneus abandonados e foram testar um tipo de piso que aproveitasse esse material. O protótipo foi apresentado para uma líder comunitária, que aproveitou a ideia para construir bancos para a praça da região.
“Queremos incentivar os alunos a se enxergarem como transformadores sociais, a pensarem em soluções para problemas sociais”, explica Pastore.