Jovens preparados para a participação democrática
Instituições dos EUA, Mikva Challenge e Generation Citizen, deixam estudantes mais próximos do poder e incentivam líderes locais
por Patrícia Gomes 27 de setembro de 2012
Em tempos de eleição, nunca é demais perguntar: como é que estamos preparando os nossos jovens para que eles se tornem cidadãos conscientes de seus direitos e deveres políticos? Nos Estados Unidos, algumas instituições sem fins lucrativos, como Mikva Challenge e Generation Citizen, perceberam que tratar de democracia apenas no período pré-eleitoral não era algo capaz de desenvolver nos jovens engajamento cívico, liderança e sentimento de responsabilidade por suas comunidades.
Começaram, então, a propor programas mais longos e estruturados, que aproximam os jovens do poder e da tomada de decisão, explicam como os sistemas eleitorais funcionam e defendem que, apesar da idade, esses estudantes de ensino médio podem e devem ser líderes locais. “Nós acreditamos que a melhor forma de aprender sobre liderança e democracia é experimentando”, disse Meghan Goldenstein, coordenadora de comunicação e extensão do Mikva Challenge, projeto que, desde o fim da década de 90, já recebeu mais de 20 mil estudantes de Chicago e arredores.
Para fazer com que os jovens tenham essa experiência, o Mikva propõe atividades essencialmente práticas, divididas em seis grandes programas: ativismo em sala de aula, concurso de discurso, participação eleitoral, juízes eleitorais, conselhos da juventude e conselhos de paz e liderança. Cada um tem um foco específico e uma duração diferente. O ativismo em sala de aula (Classroom Activism), por exemplo, dura o ano inteiro e, nele, os alunos se reúnem para identificar problemas da escola e da comunidade, desenvolver soluções e até implantá-las. Um dos produtos desse projeto leva ao segundo, chamado de Soapbox, em que os alunos participam de uma competição de uma semana que escolhe aqueles que melhor escrevem e proferem discursos.
No participação eleitoral (Campaing Program), eles analisam as propostas dos candidatos, escolhem os que melhor se adequam ao que acreditam e põem a mão na massa – de verdade – na campanha. Já no Citywide Youth Councils, ou conselhos juvenis da cidade, os estudantes se reúnem com gestores públicos para propor melhorias em diversos temas, como saúde e educação. Mais detalhes, em inglês, podem ser obtidos ao se clicar nos nomes dos programas. “[Com essas atividades] nós procuramos desenvolver nos jovens as habilidades de liderança e de engajamento cívico, atitudes necessárias para a vida democrática. Isso inclui comunicação, colaboração, resolução criativa de problemas, pensamento crítico”, diz Meghan.
A maior parte dos programas, explica a coordenadora de comunicação, se apoia na figura do professor. A organização vai até escolas, diretores e professores, e apresenta o Mikva. Aos que aceitam participar de um ou mais programas, a iniciativa dá uma capacitação e fornece material de apoio. As atividades ocorrem no horário normal das aulas, no contraturno ou na sede da organização. Hoje são quase 100 professores envolvidos, a maior parte deles ensina alguma disciplina da área de humanas, como história ou governo (sim, existem escolas norte-americanas que dão aula de governo). Mas há também professores de inglês, artes e ciência.
Generation Citizen
Mas o Mikva Challenge não está sozinho. O Generation Citizen, fundado em 2008 por dois então alunos da Brown University, também se dedica a mostrar aos jovens que eles podem participar ativamente da política a partir de uma abordagem prática. A organização faz parcerias com escolas e professores para que mostrar aos estudantes como resolver problemas que eles estão enfrentando em suas próprias comunidades. “Apesar de o governo dizer que todos os cidadãos podem desempenhar um papel no futuro do país, a maior parte das pessoas não participa ativamente da democracia”, diz a ONG em seu site.
Você conhece alguma organização no Brasil que ensine democracia de um jeito inovador? Em que esta seja uma preocupação sistemática, e não apenas uma atividade realizada em período pré-eleitoral? Se sim, conte para o Porvir.