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Transformar

Personalizando o aprendizado com e sem tecnologia

Rede Summit, no Vale do Silício, usa ensino híbrido e faz mentoria 1:1 para dar a seus alunos a chance de ir para a universidade

por Patrícia Gomes ilustração relógio 27 de março de 2013

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Olhando de longe, a infraestrutura simples de duas construções encrustadas no campus de uma universidade particular do Vale do Silício não dá a menor pista do que está acontecendo por ali. Fundadas há menos de dois anos, as escolas Summit em San Jose têm ajudado a transformar a vida de centenas de alunos de baixa renda, oriundos majoritariamente de famílias imigrantes, ao lhes dar condições de entrar em um bom curso universitário, acompanhar as aulas e, o que é tem se mostrado mais desafiador, concluir os estudos no tempo certo. O modelo bem sucedido adotado pela rede Summit, formada por quatro escolas, com mais duas a caminho para o próximo semestre e outras no planejamento, aposta em uma receita cheia de condimentos, mas que gira em torno de um elemento central: a personalização do ensino. Com e sem tecnologia.

As escolas Summit são charters, instituições públicas (por isso, sem mensalidade) administradas por uma entidade privada, livre para propor inovações e levantar recursos, desde que respeite as normas locais para a educação. No campus de San Jose, ficam duas escolas de ensino médio a poucos metros de distância uma da outra – “é confuso, mas foi o jeito que demos para atender a mais jovens”, diz Jon Deane, um dos diretores da rede. Cada instituição deve prestar contas separadamente, mas, na prática, para os alunos, funcionam como uma coisa só. Juntas, elas recebem 400 jovens do 9o ao 12o ano (sim, ali o ensino médio engloba o 9o ano, mas isso varia um pouco de região em região nos EUA).

Para abrigar o piloto de ensino híbrido (blended learning) de matemática, uma das escolas teve as paredes das salas derrubada e se tornou um grande salão, com mesas para trabalho em dupla, em grupo e para atendimento individual. No canto, restou uma sala mais convencional, menor, para as aulas de aprofundamento. A outra escola permaneceu com uma estrutura tradicional para receber as aulas que ainda não começaram a implantar o blended learning. Assim, na hora da aula de matemática, os alunos vão para um prédio; nas demais, vão para o outro. Diferentemente do que ocorre no Brasil, onde os alunos de ensino médio têm de lidar com uma grade curricular que pode ter mais de 12 disciplinas, na Summit, os alunos têm apenas seis. No 9o ano, por exemplo, eles têm aulas de espanhol, inglês, biologia, história e matemática. E só.

Todos os dias os alunos têm aulas de todas as disciplinas, mas matemática vem em dobro. São duas horas: na primeira, eles ficam diante do computador estudando com a plataforma adotada pela escola e enriquecida com atividades inseridas no ambiente on-line pelos professores da própria Summit ou com atividades livres virtuais, como a Khan Academy. Alguns professores ficam circulando no salão para tentar sanar dúvidas mais rápidas. Se a questão é mais complexa, o aluno vai para o “cantinho da tutoria”, uma mesa localizada bem no centro do ambiente, e lá recebem atenção individualizada de um professor.

Nós nos preocupamos em criar um espaço seguro para que os alunos conversem com os professores sobre seus problemas, de qualquer natureza

Na segunda hora, eles se dedicam a um conhecimento mais aprofundado. É o momento de tentar trazer para a vida real e dar sentido aos aprendizados que reuniram de maneira digital por meio de projetos. Os professores propõem desafios, orientam o desenvolvimento das atividades e acompanham os resultados que são obtidos ao longo dos processos. Em uma plataforma on-line chamada Show Evidence, os educadores inserem dados que ajudam na avaliação progressiva. mantêm rubricas, espécie de tabela em que mostram, nas linhas, o que estão avaliando – do conteúdo tradicional às habilidades não cognitivas – e, nas colunas, o avanço dos alunos.

As escolas Summit se preparam para, no próximo ano letivo (que começa no segundo semestre), oferecerem esse modelo híbrido em todas as disciplinas. John não esconde a ansiedade. “Nossas expectativas são altas, queremos ver como os alunos respondem”, diz ele. Isso porque um típico dia na Summit vai mudar radicalmente. Em vez das aulas tradicionais, as manhãs e parte das tardes serão ocupadas de maneira diferente: primeiro virá um momento de estudo personalizado pelas plataformas digitais; em seguida, será dedicado um tempo para compartilhamento coletivo de problemas e bons resultados; depois, virá o pedaço do dia, que é proporcionalmente o maior, voltado ao aprofundamento; por último, mais atividades on-line.

Deane diz que, em princípio, os alunos vão escolher, todos os dias, sua playlist de estudos para os momentos de trabalho individual. Professores acompanharão esse momento de escolha, mas são eles, os jovens, que definirão o tempo que dedicarão a cada componente curricular. Na hora do aprofundamento, a intenção é que os projetos ocorram transdisciplinarmente, envolvendo as áreas do conhecimento necessárias em cada fase do aprendizado.

Para Pam Lamcke, diretora assistente das duas escolas de San Jose, uma das partes mais difíceis do processo não envolve os professores – “muito qualificados e dedicados” –, mas os próprios alunos. A maioria deles chega à Summit sem nunca terem tido a oportunidade de estudar em um modelo que lhes desse tanta autonomia. “É muito difícil para os alunos. É uma forma diferente, mais empoderada, de pensar sobre o próprio aprendizado”, diz a diretora. Nesse momento de transição, os tutores são fundamentais. É a personalização off-line do ensino entrando em cena.

crédito Divulgação

 

Mentoria 1:1

Cada aluno da Summit tem um tutor e cada tutor cuida, no máximo, de 18 alunos. São eles que vão ajudar os jovens a vencer as dificuldades com o modelo de ensino híbrido e que vão servir de interface entre o mundo que está dentro dos muros da escola e o que está fora. Todos os dias, por 15 minutos, os alunos se encontram com seu tutor. “Nós nos preocupamos em criar um espaço seguro para que os alunos conversem com os professores sobre seus problemas, de qualquer natureza”, afirma Lacke.

Assim, são os tutores os responsáveis por ajudar os alunos a encontrar atividades extracurriculares que mexam com suas paixões e interesses pessoais. Todos eles são encorajados a procurar estágios e voluntariados para ir testando seus talentos e, ao chegar o momento de tentar uma vaga em um curso universitário, fazerem isso com mais consciência. Duas vezes por ano, nos meses de janeiro e maio, enquanto os professores saem para seus próprios programas de capacitação, a escola traz parte dessas atividades para seu espaço dá lugar a “programas de intercessão”. São cursos curtos sobre assuntos que os alunos demonstraram interesse, por exemplo, como produção de vídeos ou aulas de programação.

A primeira escola Summit surgiu há dez anos e, aos poucos, a rede foi aumentando conforme a demanda da região requeria. Nesse tempo, eles conseguiram fazer com que 100% de seus alunos cumprissem plenamente os pré-requisitos para se candidatar a uma vaga em um curso superior de quatro anos, enquanto esse número no estado da Califórnia é de 24% entre alunos de escola pública – nos EUA, é comum que alunos de mais baixa renda só consigam ser aceitos nos chamados community colleges, que duram apenas dois anos. Já quando se analisa a performande dos ex-alunos da Summit na universidade, 55% terminaram seu curso no tempo esperado, taxa que é o dobro da média nacional. “Mas ainda não estamos satisfeitos”, diz Deane, prometendo melhores resultados para os próximos anos.


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ensino híbrido, ensino médio, escolas inovadoras, mentoria, novos espaços, personalização, projeto de vida, tecnologia

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