Projeto Âncora se inspira na Escola da Ponte - PORVIR
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Inovações em Educação

Projeto Âncora se inspira na Escola da Ponte

Em Cotia, São Paulo, 180 crianças estudam nos mesmos moldes da escola portuguesa, sem disciplinas ou divisão por séries

por Redação ilustração relógio 10 de agosto de 2012

O modelo revolucionário da Escola da Ponte, referência mundial em educação, foi a inspiração para o Projeto Âncora – ONG em Cotia, São Paulo, com 17 anos de atuação na área social – lançar sua escola de educação básica. Assim como a portuguesa, a Escola Projeto Âncora não tem séries; alunos de 6 a 10 anos estudam juntos, desenvolvem projetos de pesquisa de acordo com suas afinidades e são orientados por professores e pedagogos.

Na escola, os alunos são colocados em contato com diferentes atividades: música, informática, esportes, circo, artes e culinária. Para se matricular, é necessário cumprir algumas exigências, como morar em um raio de até 3 km de distância da escola e ter renda familiar de até três salários mínimos – não há custo algum para os pais.

crédito Divulgação

 

O conhecimento é desenvolvido por meio de projetos de pesquisa. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, um grupo de alunos escolheu estudar a escravidão africana no Brasil. A pesquisa abordou as viagens nos navios negreiros, as leis de abolição, a relação entre escravos e senhores de engenho e as heranças culturais africanas: a música, a dança, a capoeira, a culinária e a religião. Também foram pesquisados temas geográficos, como o clima africano e o brasileiro, para entender como se deu a adaptação a outro ambiente. Por fim, os estudantes fizeram paralelos com o preconceito existente até hoje contra os negros.

Quando os alunos apresentam o trabalho, eles ensinam aos colegas o que aprenderam, utilizando imagens, som, cartazes e slides. Como a busca pelo conhecimento parte das próprias crianças, de um interesse genuíno, segundo os organizadores da escola, a aprendizagem é mais eficiente e melhor absorvida.

Apoio de José Pacheco

O projeto pedagógico conta com a colaboração do educador português José Pacheco, idealizador e ex-diretor da Escola da Ponte. Pacheco começou a trabalhar com a equipe brasileira em abril de 2011. No começo deste ano, a escola iniciou suas atividades com sete educadores e 180 alunos no equivalente ao ensino fundamental I (1o ao 5o ano). Na educação infantil, outras 52 crianças são atendidas.

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A coordenadora-geral do Projeto Âncora, Suzana Maria de Camargo Ribeiro, conta que o trabalho é uma construção coletiva e prática. “O José Pacheco é nosso parceiro e nos faz as provocações. Temos quatro horas semanais de reunião no sentido de construir a nossa forma de trabalho. A transformação acontece realmente enquanto você faz. É como ele diz, estamos embasados na lei, na teoria e na comunidade”, diz.

Em entrevista ao Porvir, publicada em maio deste ano, José Pacheco mencionou a necessidade de “instituir novas e autônomas formas de organização das escolas”, mas também recuperar práticas antigas, sem cair na tentação de “clonar a escola da Ponte ou adotar modismos”. O educador, estudioso da realidade educacional brasileira, também destacou a importância de se buscar uma escola do conhecimento e abandonar um ensino meramente transmissivo.

A ONG

Criado em 1995 e localizado em um espaço de 11 mil metros quadrados, o Projeto Âncora já atendeu cerca de 5.000 crianças, em cursos profissionalizantes, artísticos e atividades de lazer. A estrutura conta com quadras de esportes, refeitórios, pista de skate, jardins e uma biblioteca com mais de 10 mil livros. Fundado pelo empresário Walter Steurer, o projeto é mantido pela iniciativa privada, com a colaboração de empresas, fundações e demais doadores.

Em uma região na qual luxuosos condomínios fechados contrastam com inúmeras favelas, o projeto busca oferecer às comunidades próximas uma educação para o exercício da cidadania de forma ativa. Para a coordenadora-geral, com a implantação da escola inicia-se um trabalho bem mais profundo. “O projeto trabalhou durante 16 anos no contraturno. Há algum tempo começamos a sentir que estávamos enxugando gelo, porque quando a criança ia para a escola, antes ou depois das aulas no projeto, parecia que todo o trabalho que a gente fazia derretia”, conta Suzana.


TAGS

aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem colaborativa, autonomia, ensino fundamental, escolas inovadoras, personalização

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