A virada de Foz do Iguaçu - PORVIR

Inovações em Educação

A virada de Foz do Iguaçu

Cidade desenvolveu série de ações para que nenhuma criança ficasse para trás; agora, Ideb está entre os melhores do país

por Patrícia Gomes ilustração relógio 18 de fevereiro de 2013

Dia desses, uma passageira pegou um táxi ao chegar em Foz do Iguaçu, no Paraná. Foi recebida por um motorista prestativo, que, ao lhe apresentar a cidade, falou das cataratas e das belezas naturais da região. Mas deixou claro que seu motivo de orgulho mesmo era outro: “O nosso Ideb é um dos melhores do país”, disse ele. O passageiro, mal sabia o taxista, era um técnico do MEC (Ministério da Educação) em diligência na cidade e que não estava acostumado a ver os indicadores educacionais do governo na boca do povo. Depois dessas boas-vindas, o técnico percebeu que não era só o taxista que sabia o que se passava com a educação. O assunto tinha virado um tema recorrente nas rodas de conversa, entre pessoas comuns e, claro, mais ainda entre pais e alunos.

Não era para menos. De 2007 para 2011, o Ideb dos anos iniciais das escolas da rede municipal da cidade passou de 4,8 para 7, ultrapassando a meta projetada para 2021. Em todo o país, a escola com a média mais alta nessa avaliação, um belo 8,6, também é de lá. A que vai pior tem nota 6,2, índice muito maior do que o que alcançaram as melhores escolas das grandes capitais. Recentemente, uma escola da cidade, a Professora Suzana Moraes Balen, foi apontada pela pesquisa Excelência com Equidade, feita pela Fundação Lemann, como um dos destaques brasileiros ao ter tido um salto de qualidade no Ideb oferecendo ensino de qualidade a alunos de nível socioeconômico baixo e fazendo isso com equidade. Isso quer dizer que, na escola, que viu seu Ideb saltar de 4,7 em 2007 para 7,5 em 2011, 90% dos alunos do 5o ano têm conhecimento adequado em português e 80% em matemática. Nenhum aluno apresentou nível de conhecimento insuficiente. Apenas a título de comparação, no Brasil, 37% nessa série aprenderam o adequado em português e 33% em matemática (para ver mais, acesse o QEdu).

crédito Daniel Wiedemann / Fotolia.com

Tão boas notas e tanta evolução, acredita Joane Vilela, que foi secretária de Educação da cidade até o ano passado e capitaneou essa guinada, não podem ser atribuídas a um só ponto. O que explica tudo isso está nas ações rápidas para garantir que nenhum aluno ficasse para trás, no engajamento dos professores, inclusive com pagamento de 14o salário, e nos investimentos em gestão escolar e na infraestrutura. “A gente não fez um trabalho para melhorar o Ideb. Trabalhar só com vistas à avaliação não adianta. Educar é algo muito maior, mas o Ideb chancelou nossa melhoria no ensino”, diz Joane, que começou a dar aula na rede na década de 80 quando tinha apenas 15 anos – época em que apenas o magistério era exigido –, foi professora, sindicalista, diretora e integrou o corpo pedagógico da Secretaria de Educação. Em 2008, foi apontada por seus pares como a melhor pessoa para assumir a secretaria quando a então titular da pasta precisou se afastar do cargo. Começava ali, um trabalho de restruturação das 51 escolas da rede.

Na época, Joane encontrou um cenário pouco alentador. O índice de reprovação era alto, chegando a 15% em algumas séries. A distorção idade-série era outro problema, agravado pelo fato de muitas crianças mais velhas chegarem do Paraguai sem escolarização e sem nem falarem português. A evasão também era recorrente, principalmente atrelada a questões intrafamiliares, necessidade de ajudar os pais a complementar a renda, reprovações repetidas e, em alguns casos, problemas de saúde. Assim, os índices de reprovação, distorção idade-série e evasão formavam um círculo vicioso que puxavam a qualidade da educação para baixo.

Quando um aluno começava a faltar, a equipe intervinha, via o que estava acontecendo caso a caso e tentava ajudar, já com a ideia de não deixar nenhum aluno para trás.

O primeiro passo de Joane foi tentar encontrar uma forma de erradicar a evasão. Formou uma equipe multidisciplinar, composta por fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais e pedagogos, que visitava semanalmente as escolas. Quando um aluno começava a faltar, a equipe intervinha, via o que estava acontecendo caso a caso e tentava ajudar, já com a ideia de não deixar nenhum aluno para trás. Assim, o problema não evoluía a ponto de chegar ao Conselho Tutelar em uma fase avançada e já sem volta. O número de 606 alunos que deixavam a rede em 2001 caiu para três em 2011 e zero para 2012. “Com essas equipes, conseguimos zerar a evasão”, orgulha-se Joane, que começou a perceber uma mudança de clima dentro das escolas. “Quando eu visitava as escolas, eu entrava em sala de aula e perguntava: ‘quem aqui gosta de estudar?’ Todo mundo levantava a mão.”

Para cuidar do índice de reprovação e também seguindo a filosofia de que nenhum aluno poderia ficar pelo caminho, estabeleceu-se um sistema de recuperação no contraturno. Ao menor sinal de que um aluno estava tendo dificuldades, ele passava a frequentar um trabalho complementar e individualizado na parte da tarde, que só dura enquanto o problema não for sanado. “Eu sou professora, eu passei pela sala de aula. Eu sei que cada aluno tem um tempo. O contraturno oportuniza um espaço para o desenvolvimento da criança, ali ela tem experiências de empoderamento”, diz Joane. Com essas ações, o índice de reprovação que chegava a 44% em uma escola em 2001 passou para 5% em 2011. “A gente não espera chegar no fim do ano para resolver um problema”, afirma ela, que tem todos os números na ponta da língua e fez da observação e da análise dos indicadores uma constante de sua gestão.

Joane sabe de cabeça números, investimentos, índices, taxas. Em 2009, quando o Ideb da cidade passou de 4,8 para 6,2, ela desfilou pelas ruas de Foz do Iguaçu no carro do Corpo de Bombeiros para comemorar. Em 2011, por ser época eleitoral, achou melhor não. Mas, no feriado de 7 de Setembro, todas as escolas levaram para o desfile cívico tradicional da cidade suas notas, exibindo sua melhora. “As pessoas assumiram a educação como responsabilidade de todos. E isso é muito bonito”, diz Joane, que ainda torce para conhecer o taxista que recebeu o técnico do MEC.


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