O Feijão e o sonho - PORVIR

Inovações em Educação

O Feijão e o sonho

Ele tem no currículo ITA, BID, presidência de três ONGs e agora, aos 22 anos, investe em blended learning

por Patrícia Gomes ilustração relógio 24 de maio de 2012

As ideias rapidamente desencadeadas e as orelhas que ficam vermelhas conforme a empolgação são reflexos de uma mente que não para um segundo. Thiago Feijão, 22, tem uma biografia que não cabe na sua idade. O aluno de engenharia mecânica do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) já trabalhou em banco de investimento, foi consultor do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), deu aula em escola pública, foi presidente da Casd, uma ONG que prepara jovens que não têm acesso à educação de qualidade para o vestibular, e fundou outras duas – a Casdinho, para alunos do ensino fundamental, e o Instituto Semear, que ajuda a população de baixa renda a se manter na universidade. Quase tudo ao mesmo tempo.

No auge do acúmulo de projetos paralelos, um mentor seu da Fundação Estudar, de onde também era bolsista, lhe fez uma pergunta: por que ele acordava todos os dias de manhã para fazer tudo isso? Feijão não sabia. O banqueiro carioca que lhe dava dicas para a carreira disse que enquanto ele não soubesse a resposta, não o receberia. Feijão entendeu então que, se focasse sua energia em um só projeto, teria a possibilidade de fazer algo maior. Seis meses depois, o jovem voltou com a resposta ao seu mentor. Ele fazia tudo aquilo porque queria promover impacto social. E que, sim, ele reuniria sua capacidade em um só esforço, o QMágico.

“Foi uma das melhores experiências que eu tive. Ali [na Casd] eu percebi que eu tinha a capacidade de resolver problemas.”

Lançado há uma semana, o QMágico é um site que oferece 700 vídeos gratuitos com todo o conteúdo do ensino básico de matemática. Além de oferecer os vídeos, o QMágico tem dois produtos que são comercializados e que garantem a sustentabilidade do negócio. Uma é uma plataforma com ferramentas digitais que potencializam o aprendizado dos estudantes e pode ser adquirida por escolas e governos. A outra é um serviço de treinamento para capacitar os professores a usarem as tecnologias da informação em sala de aula. (leia detalhes sobre o QMágico em matéria do Porvir) “Meu negócio é social business. Eu queria dar aos outros as oportunidades que eu tive”, diz o jovem todas as vezes que é possível, repetindo sua preocupação com a melhoria da educação brasileira.

O fracasso e a chance

Para entender as motivações de Feijão, é preciso voltar no tempo. Mais precisamente para o início dos anos 2000, no Colégio Militar do Ceará. Na época, o garoto que tirava notas altas e tocava vários instrumentos musicais conheceu um professor que lhe apresentou Che Guevara, Einstein e Pink Floyd. As novas inspirações influenciaram o adolescente, que se tornou mais questionador, inclusive na escola, que tem tradição de valorizar a hierarquia. “Eu fui meio que expulso na oitava série”, conta, mais uma vez com as orelhas vermelhas.

A saída do Colégio Militar, que era bom e público, coincidiu com uma época de dificuldade financeira na família. Mas por conta das boas notas, Feijão conseguiu bolsa integral para ele e para a irmã, sete anos mais nova, em um dos melhores colégios particulares do Ceará, onde começou a participar de olimpíadas nacionais de matemática e física. Na época, seu grande sonho era ir à Olimpíada Internacional de Física. Estudou, se esforçou, mas não conseguiu. “Foi meu primeiro grande fracasso”, diverte-se Feijão com a desgraça de outro tempo. O que tinha aprendido para as olimpíadas pode não ter lhe carimbado o passaporte para a competição em outro país, mas acabou fazendo com que ele passasse sem dificuldades para o vestibular do ITA, em 2008.

Já em São José dos Campos, para aplacar a falta da família, Feijão resolveu se ocupar. Começou a dar aulas na Casd, virou diretor de recursos humanos e, na sequência, presidente da ONG. “Foi uma das melhores experiências que eu tive. Ali eu percebi que eu tinha a capacidade de resolver problemas”. Todo o tipo de problema, diga-se de passagem. Com menos de 20 anos, as atribuições de Feijão iam desde capacitar os professores até aconselhar – ou achar quem pudesse fazer isso melhor que ele – a menina do pré-vestibular que queria fazer um aborto.

Hoje, por conta do QMágico, precisou trancar o ITA, mas pretende se formar no ano que vem. “Falta um semestre só e poucas disciplinas. Acho que vai ser tranquilo”, diz Feijão.


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educação online, ensino híbrido, videoaulas

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