VAR, Verifique Antes de Repassar, é tema de oficina de educação midiática
Projeto do EducaMídia oferece materiais gratuitos para que professores possam criar grupos de checagem sobre fake news
por Ana Luísa D'Maschio 12 de setembro de 2022
Quando começaram os burburinhos sobre a gravidade de saúde da rainha Elizabeth II, na manhã da quinta-feira, 8 de setembro, a turma da EMEF M’Boi Mirim II, localizada na zona sul de São Paulo (SP), já ligou o alerta: “Será que é verdade?”. O caminho foi checar a informação. Pela manhã, os grandes jornais e portais de notícias acompanhavam de perto os informes oficiais do Palácio de Buckingham, em Londres (Inglaterra), reforçando a preocupação médica em mantê-la em vigilância.
Até o anúncio oficial de sua morte, por volta das 14h (horário de Brasília), muito se especulou sobre o estado da rainha de 96 anos: há meses cancelando aparições por motivos pouco esclarecidos pela monarquia — falava-se, apenas, sobre “problemas de mobilidade” —, as notícias falsas começaram a circular. Sites de checagem relembraram que até mesmo publicações de grande circulação e confiabilidade já haviam publicado, por engano, o obituário da monarca, como o fez a Folha de S. Paulo, no mês de abril.
“É preciso ligar o alerta, estar seguro da informação, verificar se é verdadeira em um site de confiança antes de repassar qualquer notícia”, ensina Rita de Cássia Baccari, professora de educação digital da escola e responsável, na EMEF, pelo projeto “Imprensa Jovem”, que acontece no contraturno da escola, uma vez por semana. Ao todo, 60 alunos, do 5º ao 9º ano, participam da atividade. Ao lado de Andrea Luna Dourado, professora de história, ambas também aplicam um projeto de combate às fake news nas aulas regulares.
“Uma das primeiras notícias falsas com a qual trabalhamos é aquela sobre o Brasil ter sido descoberto em 1500. Foi, na verdade, uma invasão das terras indígenas. Unimos dados históricos ao ensino de pesquisa digital para que os alunos possam reconhecer mensagens falsas, aprendam a elaborar perguntas e, na dúvida, sempre verificar a informação”, diz Rita.
“Temos grande responsabilidade nesse processo de compartilhamento, por isso buscamos trabalhar com a ideia de um olhar mais atento, cuidadoso, que possa ser levado para a família”, complementa Andrea. Para a estudante Isabella Lima, de 13 anos, que participa do projeto há sete anos, é preciso entender que nem tudo é fake news. “Há informações maldosas, que querem afetar alguém, e fora de contexto. Precisamos saber separar as categorias”, diz.
Tais orientações, aliás, são um dos fundamentos gerais do programa Imprensa Jovem. Criado pelo educador Carlos Lima, o projeto, que integra o Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de São Paulo, conta com quase 400 agências de notícias formadas por estudantes em escolas de ensino fundamental da capital paulista.
Quanto mais checagem, melhor
Parte da turma do “Imprensa Jovem” da EMEF M’Boi Mirim II se reuniu na sexta-feira, 9, com os colegas do 8º ano, para uma oficina do EducaMídia. Baseado no projeto “FakeToFora”, voltado para a checagem de informações, a apresentação contou com a presença da coordenadora geral do EducaMídia, Daniela Machado, e Saula Ramos, gerente de projetos.
Lista telefônica, enciclopédias desatualizadas… Antes da internet e dos canais especializados em notícias, a busca pela informação passava longe da agilidade. “Imaginem como faríamos sem a internet para saber mais detalhes da vida da rainha Elizabeth? Teríamos de esperar o horário do jornal na TV aberta para ter informações, e a edição do dia seguinte”, exemplifica Daniela. “Hoje, podemos acessar, a qualquer momento, qualquer jornal do mundo. Nós temos um monte de informações, mas como escolhemos e avaliamos o que é relevante ou não?”, problematiza.
A oficina do #FaketoFora, iniciativa que disponibiliza um e-book gratuito com o passo a passo para professores aplicarem a metodologia de educação midiática na escola, contou com explicações sobre o conceito de fake news e suas variações, como as notícias fora de contexto, golpes para conseguir informações pessoais, opiniões versus fatos e outros métodos de checagem. “Às vezes, a pergunta é a melhor resposta. Quem criou essa informação? Para quem? Com qual intenção?”, afirma Saula.
Daniela e Saula também mostraram a campanha “Na dúvida, pratique o VAR: Verifique Antes de Repassar”, criada para conscientizar os eleitores no período eleitoral. São três os filmes que compõem a ação, incluindo até um “fake Messi”, como mostra o vídeo a seguir:
Educação midiática para evitar fake news
Em grupos, na sala de informática, os alunos se dividiram para checar cinco informações ligadas ao período eleitoral. De uma maneira lúdica, etiquetando-as por meio de figurinhas disponíveis para download, iam além de mostrar se eram fake news ou verdade: “foi na maldade”, “essa é velha”, “tá sem fonte” e “o buraco é mais embaixo” são algumas das classificações para as notícias distribuídas.
Renata Souza, de 14 anos, usa o Google como porta de entrada para verificar suas pesquisas. Já Ramon Marcelo, de 13 anos, prefere assistir às notícias pela TV. Laura Silva, Rosemery Villanueva e Isabelly Dias, de 14 anos, costumam acompanhar os portais UOL e G1, e desconfiam do buscador: “Muita coisa que aparece ali é mentira. Outro dia, vi uma notícia sobre a morte de um cantor do meu país, o Chyno Miranda. E ele está vivo”, diz a venezuelana Rosemary. “Eu gosto muito das notícias da BBC News Brasil. Acho legal o jeito que eles colocam os assuntos relacionados”, diz Yasmim Viana, de 13 anos. A BBC, inclusive, oferece materiais e atividades para a checagem de notícias nas escolas.
“Temos muita responsabilidade ao receber uma notícia e não repassar sem antes checar. Não podemos sair compartilhando sem ter certeza. Quanto mais informações temos, melhor tomamos nossas decisões”, ressalta Daniela.
Ao final da oficina, ela compartilhou quatro movimentos indicados pelo EducaMídia para checar uma informação e evitar fake news:
- Pause: olhe um pouco para essa mensagem?
- Investigue a fonte: o que você sabe sobre quem escreveu ou publicou?
- Busque informações mais completas: onde mais essa informação pode ser encontrada?
- Conheça o contexto: qual é a história completa?