Guia traz elementos para diagnóstico sobre equidade racial
Material produzido sob coordenação do Iede traz sugestões para a produção de diagnósticos educacionais com recortes de cor e raça
por Ruam Oliveira 4 de dezembro de 2023
Diferentemente de igualdade, o termo equidade não visa tornar as coisas iguais, mas sim equilibrar a balança e permitir que as pessoas que precisam de mais tenham mais chances e oportunidades. Quando está associado à questão racial, o conceito de equidade assume um viés de profundidade ainda maior.
A desigualdade entre negros e brancos no país é grande. A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2022 mostrou que a taxa de analfabetismo entre a população preta e parda era de 7,4% entre pessoas com 15 anos ou mais. Esse número foi de 3,4% no caso da população branca.
O racismo que estrutura as relações no Brasil impregna diferentes áreas de atuação, influenciando as taxas de desemprego e desocupação, posições de liderança em empresas ou exposição à violência.
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Recentemente, a Fundação Lemann, o Centro Lemann e o Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), lançaram o “Guia para realizar um bom diagnóstico de equidade racial”. O material, de autoria dos pesquisadores Ernesto M. Faria e Lecticia Maggi, reúne conceitos importantes para realizar essa observação, além de dados e informações que contextualizam as desigualdades raciais no país.
Desafios para a realização do diagnóstico
Entre os principais entraves para a realização de um bom diagnóstico, o guia destaca a ideia de que a sociedade brasileira foi construída de maneira harmônica, de igualdade entre os cidadãos, sem distinção de etnia, raça ou sexo, conceito conhecido como o mito da democracia racial.
“O mito da democracia racial faz com que muitos acreditem que o problema é apenas socioeconômico, mas há uma questão de raça, sim. Por isso, primeiro precisamos mostrar dados e evidências de que há um problema que precisa ser discutido”, destaca Ariana Britto, gerente de políticas públicas do Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-PAL), centro de pesquisa global que trabalha para reduzir a pobreza, garantindo que as políticas públicas sejam informada por evidências científicas.
De acordo com o guia, uma maneira de superar essa inverdade é ter secretarias de educação empenhadas em desmistificar essa ideia, explicando a urgência do tema.
Outro aspecto desafiador apontado pelo estudo é a falta de profissionais capacitados para a análise de dados. Esta questão, principalmente em secretarias de educação de municípios menores, pode significar grandes obstáculos. Contudo, é possível realizar diagnósticos mesmo tendo poucos recursos. “Mesmo com escassez de recursos humanos e financeiros, é possível fazer análises satisfatórias”, ressaltam os autores.
Relembre o episódio “O que é equidade na educação”, do podcast “O futuro se equilibra”, parceria do Porvir com o Instituto Unibanco
Por onde – e como – começar
O guia apresenta um passo a passo de estratégias para conseguir realizar um bom diagnóstico. O material sugere que, antes de iniciar qualquer coleta de dados, é necessário entender quais são os objetivos e garantir que haja sintonia entre todos os envolvidos no processo.
Definir as questões que a rede busca, o que pretende fazer com as respostas e criar um modelo de planilhas online para acompanhamento são algumas das orientações. O documento também traz sugestões de como criar e aplicar questionários e como utilizar dados públicos, além de boas práticas de diagnósticos raciais e de ações adotadas a partir deles por diferentes secretarias de educação