Professor de escola pública é o único brasileiro finalista do ‘Nobel da Educação’

Acreditar. Esse é o verbo que norteia Helder Guastti, professor de língua portuguesa da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Nolasco, localizada em João Neiva (ES), município com 16 mil habitantes. A palavra “Acredite” também foi usada em seu post no Instagram para anunciar, nesta quarta-feira (15), que ele é o único brasileiro entre os 50 finalistas do Global Teacher Prize, prêmio reconhecido mundialmente como o “Nobel da Educação” por sua relevância e impacto global.

Helder foi selecionado entre 5 mil inscritos de 89 países. Em um depoimento emocionante, o educador expressou sua gratidão aos alunos, carinhosamente chamados de “monstrinhos”. “Agradeço pelo apoio e pelas lições que recebo todos os dias, especialmente por me ensinarem a encontrar meu próprio valor dentro de meu coração”, escreveu.

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Organizada pela Fundação Varkey em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a premiação existe desde 2014 e oferece US$ 1 milhão (cerca de R$ 6 milhões) ao vencedor. No final de janeiro, a lista de finalistas será reduzida a 10 nomes, e o ganhador será anunciado durante o World Government Summit, evento que ocorrerá em Dubai (Emirados Árabes Unidos) entre os dias 11 e 13 de fevereiro.

A página oficial do prêmio descreve Helder como “um educador excepcional, reconhecido por suas abordagens inovadoras, paixão pela educação e compromisso em fomentar um senso de comunidade”. Crescido em uma família de professores, Helder compartilha que a pedagogia não era sua escolha inicial, mas sua trajetória mudou ao começar a trabalhar como auxiliar de secretaria escolar.

“Eu me apaixonei pelo ambiente escolar e foi então que decidi ser professor. Minha mãe, uma referência para mim, me inspirou com seu estudo dedicado e seu afeto pelas crianças”, contou em entrevista ao Porvir. “Minha decisão foi consciente. Mesmo vindo de uma família de professores, optei por esse caminho por entender que é o que me realiza. Hoje, não consigo me imaginar fazendo outra coisa.”

Inspirado pelos princípios de Paulo Freire (1921–1997), Helder promove a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem. “Sua sala de aula é um espaço de pertencimento, onde os estudantes podem explorar suas identidades e expandir o pensamento crítico e criativo. Seus métodos, baseados em empatia e afeto, são vistos como valores universais que transcendem barreiras culturais e educacionais”, descreve o site do Global Teacher Prize.

Atuação premiada

Helder Guastti acumula prêmios relevantes. Em 2024, foi eleito Educador do Ano pelo Prêmio Educador Nota 10, e seu projeto pedagógico também recebeu o prêmio de Inovação e Tecnologia.

A proposta, intitulada “Como diz o outro”, faz referência a uma expressão popular da região onde Helder vive. O objetivo do projeto é resgatar a sabedoria popular, refletindo sobre como a cultura é construída coletivamente.

“Trata-se de reconhecer e valorizar a cultura local, compreendendo que as pessoas que vivem e constroem a comunidade são as responsáveis por sua riqueza cultural”, explica o professor.

Desenvolvido com 21 alunos do 5º ano, o projeto reuniu contos populares, memórias transmitidas oralmente, quadrinhas, trava-línguas e outras manifestações culturais. Ele ainda incorporou o uso de inteligência artificial para criar ilustrações do livro final, compartilhado com exclusividade aqui no Porvir. O sucesso do projeto contribuiu para a melhora de indicadores, como o aumento do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da escola, de 6.4 em 2021 para 6.8 em 2023.

Fora da sala de aula, Helder amplia seu impacto por meio do Espaço de Leitura Confabulando, uma biblioteca comunitária que promove empréstimos de livros, contação de histórias e aulas de inglês. A iniciativa aproxima as famílias da escola, incentivando o gosto pela leitura e pelo aprendizado.

“Helder Guastti da Silva exemplifica o potencial transformador dos educadores ao integrar cidadania global, consciência ambiental e paixão pelo aprendizado em sua prática docente”, destaca o site do Global Teacher Prize.

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Sobre o prêmio

O Global Teacher Prize foi criado para destacar o papel essencial da educação no enfrentamento de desafios globais, como mudanças climáticas, desigualdades sociais e avanços tecnológicos. Sunny Varkey, fundador do prêmio e presidente da Fundação Varkey, enfatiza que os finalistas integram “uma comunidade global de educadores comprometidos em construir um futuro melhor”.

A Unesco, parceira do prêmio, reforça a importância de valorizar o trabalho docente. Stefania Giannini, diretora-assistente de Educação, afirma: “Em um momento de escassez global de professores, condições desafiadoras e avanços tecnológicos, reconhecer e investir nos educadores é essencial para a construção de um futuro justo, inclusivo e sustentável. Os professores moldam não apenas a próxima geração, mas também o futuro de nossas sociedades.”

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