7 dicas científicas para melhorar a memória de trabalho na matemática
Estudantes "travam" por sobrecarga, não por incapacidade. Orientações simples como anotações e diagramas ajudam a organizar ideias e superar desafios com confiança.
por Youki Terada, do Edutopia
21 de outubro de 2025
Foi necessária uma série de desastres aéreos para que especialistas em segurança percebessem o papel crítico da memória de trabalho quando pilotos e técnicos precisam lidar com tarefas concorrentes.
Em alguns casos, técnicos cometeram erros aparentemente menores enquanto calculavam mentalmente o peso da carga. Em alguns casos, técnicos cometeram erros aparentemente menores enquanto calculavam mentalmente o peso da carga. Em outros, uma etapa de rotina, mas crítica, antes do voo foi acidentalmente pulada. “A informação na memória de curto prazo pode ser perdida muito rapidamente devido à interferência, distração ou simplesmente por ser substituída por novas informações”, notaram especialistas da Autoridade de Segurança da Aviação Civil da Austrália, o órgão australiano equivalente à agência ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil, que no Brasil investiga acidentes aéreos)
Com muita frequência, continuaram eles, engenheiros confiavam na memória de curto prazo — coisas como “lembrar de uma pressão hidráulica específica, ou o torque de aperto necessário para uma determinada porca de retenção”. Um método melhor, de acordo com os especialistas em segurança, era usar uma lista de verificação (checklist) para compensar a deficiência da “memória perecível”.
📳 Inscreva-se no canal do Porvir no WhatsApp para receber nossas novidades
Memória de trabalho: o gargalo na matemática
Claro, na aula de matemática, os riscos são menores. Mas um problema espacial difícil, como calcular o volume de um cilindro, também força os limites da memória de trabalho e pode levar a erros, exigindo que os alunos mantenham modelos visuais complexos em mente enquanto consideram possíveis soluções matemáticas. Enquanto isso, problemas com enunciados complexos, que simulam circunstâncias do mundo real, impõem uma tarefa dupla: o aluno precisa desvendar a linguagem e separar as informações essenciais dos ruídos e distrações, antes de chegar ao cálculo correto. Essa manipulação de tanta informação sobrecarrega a mente, prejudicando a clareza.
Em um estudo de 2025, pesquisadores descobriram que existem estratégias simples que podem diminuir a pressão sobre a memória de trabalho, permitindo que os alunos “descarreguem” ou simplifiquem um problema matemático, isolando partes críticas para que possam ser lembradas mais facilmente ou visualizadas com mais detalhes. Ao esboçar diagramas, sublinhar detalhes chave, organizar informações em categorias e usar anotações simples como setas para chamar a atenção para relações importantes, por exemplo, o desempenho na resolução de problemas com enunciados melhorou de forma geral, especialmente para os alunos que mais tinham dificuldade em matemática. A memória de trabalho atua como um gargalo: os alunos podem até entender os conceitos, mas tropeçam porque não conseguem acompanhar todas as partes móveis do problema ao mesmo tempo.
Relacionadas
Quais são os princípios da neurociência para ensinar e aprender melhor?
O silêncio que adoece: saúde mental em risco nas escolas
17 atividades criativas para dificuldades comuns em matemática
Estratégias para liberar espaço mental
Aqui estão sete estratégias baseadas em pesquisas para liberar espaço mental, permitindo que os alunos se concentrem em dar sentido ao problema:
1. Divida problemas de múltiplas etapas em partes menores
Problemas com enunciados podem parecer opacos para os alunos, mas eles constroem um “raciocínio matemático que vai além da aritmética básica”, explicam pesquisadores em um estudo de 2020. Para aliviar a carga na memória de trabalho, peça aos alunos que reelaborem o problema:
- Reescreva o enunciado: ao abordar um problema, a professora de matemática do quarto ano Blair Pacheco começa eliminando os números e tratando-o como uma história.
- Anote as coisas: um uso criterioso de rascunho permite que os alunos descarreguem etapas intermediárias, parciais e importantes, liberando recursos mentais. Em um estudo de 2025, os alunos que anotaram em rascunho “melhoraram em maior grau do que aqueles que não descarregaram”, alcançando um efeito 83% maior.
- Marque informações mais importantes: para aprimorar suas habilidades, a professora do ensino fundamental Victoriana Savas encoraja os alunos a identificar primeiro a pergunta central e, em seguida, usar anotações visuais. “Fragmentar o problema em partes menores reduz a carga cognitiva na compreensão”, escreve Savas. Essas pequenas ações impulsionam o desempenho, conforme encontrado em um estudo de 2025.
2. Use organizadores visuais e cartazes
A memória de trabalho não inclui apenas informações verbais, mas também informações visuais e espaciais, como a imagem mental de um triângulo ou uma tabuada.
Em um estudo de 2022, pesquisadores explicam que a memória de trabalho tem múltiplos componentes, um dos quais é o bloco de rascunho visuoespacial, que é um subsistema para o armazenamento temporário de informações visuais e espaciais.
Apoios “ajudam os alunos a descarregar parte de seu pensamento no papel, para que tenham menos ‘coisas novas’ para guardar na memória de trabalho de uma só vez”, escreve o professor de ciências Ian Kelleher.
3. Forneça rotinas de resolução de problemas
“Muitos alunos com dificuldades em matemática podem aprimorar sua memória das etapas de processamento se nomearem cada etapa de um processo matemático enquanto ele está sendo executado”, explicam especialistas no Yale Center for Dyslexia and Creativity. Embora benéfica para alunos com dislexia, essa abordagem é amplamente útil, de acordo com um estudo de 2024.
Na sala de aula de matemática do oitavo ano de Fei Liu, rotinas de resolução dão aos alunos uma forma estruturada de começar a dar sentido à matemática.
4. Use objetos físicos e modelos visuais
Em um estudo de 2019, pesquisadores que a interação com objetos físicos ou digitais, que os alunos podem tocar, mover e usar para explorar, compreender e representar conceitos matemáticos, apoia a memória de trabalho ao estender o espaço de trabalho mental. É uma forma de “descarregamento cognitivo” que ajuda os alunos a se concentrarem no “conhecimento conceitual subjacente”.
“Manipulativos físicos ou digitais, como blocos e réguas, são ferramentas que podem ajudar os alunos a dar vida à matemática — um processo chamado representação”, escreve o professor de educação básica Matthew Oldridge.
5. Confie em contextos familiares que não exijam conhecimento adicional
“A memória de trabalho interage constantemente com a nossa memória de longo prazo, ativando o conhecimento e combinando-o com as informações recebidas”, explicam pesquisadores em um estudo de 2025.
Se os alunos estão fingindo que estão comprando em um supermercado, um produto desconhecido coloca um fardo extra. “Pode haver uma variação considerável entre os alunos nessas experiências, e não podemos presumir que todos ou a maioria dos alunos tenham bom conhecimento”, explicam pesquisadores em um estudo de 2024.
A familiaridade pode reduzir a carga cognitiva. “Quando dou aos meus alunos problemas matemáticos centrados em marcos familiares, testemunho mais engajamento”, escreve o professor de ensino fundamental Neven Holland.
O professor de matemática do ensino médio José Vilson viu seus alunos lutando com a unidade de inclinação, então ele esboçou uma colina próxima, dando relevância à matemática.
6. Revise e conecte-se com a aprendizagem anterior
Quanto mais acessível e organizado for o conhecimento prévio, menos pressão será colocada na memória de trabalho. “Os alunos vão esquecer o que você lhes ensinou se você não continuar colocando isso no seu aprendizado”, diz a professora do quarto ano Leah McGinnity. É por isso que ela torna a prática de recuperação uma atividade regular.
7. Use Exemplos Resolvidos
Em uma meta-análise de 2023 abrangendo 43 estudos, pesquisadores descobriram que exemplos resolvidos, problemas matemáticos mostrados com soluções totalmente detalhadas e passo a passo, tiveram “um efeito positivo e moderado na aprendizagem”.
O exemplo resolvido “reduz a carga cognitiva dos alunos; ele fragmenta a aprendizagem em etapas acionáveis”, escreve a professora Victoriana Savas.
* Publicado originalmente em Edutopia e traduzido mediante autorização
© Edutopia.org; George Lucas Educational Foundation





