Um banco de dados educacionais por bairro de BH
Projeto Memória de Elefante capacita alunos e professores de escolas públicas de MG para trabalharem temas locais
por Vagner de Alencar 11 de abril de 2013
Ao notar que os livros dos estudantes mineiros no lugar de abordar o acervo rupestre da região metropolitana de Belo Horizonte – um dos mais importantes do país – tratavam das cavernas de Lascaux, na França, o publicitário mineiro Ismael Libanio resolveu interferir. E tentou encontrar uma forma de ajudar os estudantes a descobrirem o que estava a sua volta. O desejo deu origem ao Memória de Elefante, projeto que ensina e estimula estudantes e educadores de escolas públicas de BH a trabalharem na produção de conteúdos sobre a realidade dos bairros em que estão inseridas as instituições. Em seguida, tudo é hospedado em uma plataforma on-line, que funciona como uma espécie de banco de dados onde outros usuários podem conhecer aspectos de regiões diferentes e, inclusive, montar sua playlist de pesquisa a partir dos vídeos, imagens e textos disponíveis na plataforma. “Ao distribuir livros didáticos para todo o país, o governo federal cria conteúdos genéricos para todos os alunos. Pensamos em mudar essa lógica e ajudar a valorizar a memória local”, afirma Libanio.
De acordo com ele, o projeto surge ainda como uma proposta para atender o modelo de educação integral nas escolas mineiras, que precisam de metodologias que fortaleçam a relação bairro-escola. “O diferencial é a capacidade de transformação. Na medida que o estudante conhece seu entorno e realidade, ele entende como as coisas acontecem, por que seu bairro não tem coleta seletiva ou por que o transporte local não é tão eficaz. Ele se torna capaz de reivindicar e transformar”, ressalta Libanio, que foi um dos oito selecionados dentre os mais de 70 inscritos que apresentaram seus negócios durante a sessão Debate entre Empreendedores, Investidores e Especialistas no Transformar 2013, na última quinta-feira, 4.
A primeira experiência do projeto – que faz parte do Voi, Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que desenvolve iniciativas educacionais em escolas públicas de Minas Gerais – aconteceu no fim de 2011. Antes de sair para além dos muros da escola estadual Carlos Góes, no bairro de Boa Vista, na capital mineira, estudantes e instituição precisaram debater quais temas seriam trabalhados. Resolveram abordar a ecologia e o meio ambiente do bairro, alunos e professores passaram por capacitações desde como manusear máquinas fotográficas e celulares até aulas sobre cidadania e direitos autorais. Passaram também por capacitações com um diretor de cinema, que orientou sobre técnicas de vídeo; um fotógrafo, que ensinou como tirar boas fotos; uma jornalista, responsável por orientar em técnicas de entrevista e escrita; e de uma historiadora para falar sobre a memória oral.
De volta para sala de aula, os materiais captados em campo pelos estudantes são hospedados na plataforma pelo Memória de Elefante. Nela, os vídeos, imagens, áudios e textos ficam disponíveis na biblioteca de mídia – que é também é aberta a outros usuários – para que, além de conhecerem a história de outros bairros, possam montar suas pesquisas a partir dos conteúdos no site. “É como num quebra-cabeça. Eles precisam montar cenário da forma como quiserem. Ao trabalhar o meio ambiente do seu bairro, por exemplo, ele vai perceber que é diferente do Amazonas, como normalmente são tratados nos livros.”
A distância
Para dar escalabilidade à iniciativa, um dos desafios de Libanio é tornar a capacitação on-line. Segundo ele, a ideia é que, a partir de oficinas EaD, escolas de todo o Brasil possam produzir conteúdos em cada um dos seus bairros, formando o reservatório de conteúdos locais. “A educação a distância daria condições de capacitar 600 escolas simultaneamente”, diz. No entanto, para levar a metodologia para outras escolas Libanio busca por investimentos. “Uma das formas de viabilizar o projeto é por meio do MEC. Apresentamos a proposta ao governo federal, que avaliou e autorizou como parte das atividades do Mais Educação. É preciso agora que as escolas solicitem para que seja implementado. Se atingirmos 2,5% do universo das escolas do Mais Educação, já se viabiliza financeiramente”, afirma.