Filme aborda o brincar como forma de expressão
Documentário Tarja Branca instiga espectadores a refletirem sobre a importância do espírito lúdico em todas as fases da vida
por Fernanda Kalena 5 de agosto de 2014
O filme Tarja Branca – A Revolução que Faltava é um convite à reflexão sobre a infância, o brincar e o espaço que a brincadeira ocupa (ou não) na vida das pessoas enquanto adultos. Cacau Rhoden, diretor do documentário produzido pela Maria Farinha Filmes, diz que o objetivo não era propor um resgate à infância, que isso seria infantilizar o adulto e a importância de cada uma das fases da vida. “A ideia era lembrar o espírito lúdico, livre e pleno que existia com mais potência em nós quando crianças e abrir espaço para que ele esteja mais presente no nosso cotidiano, nas nossas vidas e nas relações com o outro”, diz.
O filme é costurado em cima de depoimentos de pessoas das mais variadas especialidades e histórias de vida. Psicólogos, pedagogos, artistas, pesquisadores, musicistas e brincantes estão no enredo. Entre eles, alguns conhecidos como Antônio Nóbrega, José Simão, Domingos Montagner e Wandi Doratiotto.
Logo no começo, os entrevistados relembram suas brincadeiras preferidas na infância, como pular corda, empinar pipa e rodar piões. É o início da reflexão, da retomada dos gostos e do que nos divertia quando pequenos. “Um convite para o espectador relembrar suas brincadeiras de infância”, conta Rhoden.
O brincar é definido como a forma mais livre de expressão da criança, como a linguagem do espontâneo. “Se os meninos não brincam, eles ficam diminuídos em suas possibilidades de manifestação”, argumenta a professora de música e pesquisadora Lydia Hortélio, que possui um papel importante na construção da narrativa e faz críticas ao sistema de ensino atual: “A ciência pedagógica, cada vez mais sofisticada, veio para ensinar a gente a fazer vestibular. Ninguém nasceu para fazer vestibular, nascemos para ser gente, para nos expressarmos em plenitude e liberdade todos os talentos que cada ser humano tem”.
A pedagoga Ana Lucia Villela coloca o brincar como fundamental para a formação completa de uma pessoa. “É na brincadeira que a criança vai sozinha aprender a achar solução para problemas, é onde ela vai aprender a colaborar, a conviver com os outros e com o diferente, a pesquisar, a ver tudo que existe com olhar criativo, é onde as invenções vão surgir”.
A identidade cultural brasileira também é debatida em todas as suas expressões, os brincantes, o maracatu, o carnaval. O como a palavra folclore, por exemplo, deixou com o passar do tempo de representar a cultura nacional e passou a ter uma conotação de pitoresco.
Assim, o debate sobre a importância do lúdico em todas as fases da vida segue e os entrevistados são convidados a falar sobre uma foto de sua infância que os tenha marcado, que represente a essência de cada um enquanto criança. A ideia de Rhoden era instigar todos a olhar nos seus próprios olhos de criança para retomar a essência do brincar. “Olhar para uma foto da sua infância e responder para aquela criança o que você fez dela, onde ela está”.
E durante todos os 80 minutos do documentário o espectador continua a se sentir dentro da história, se questionando sobre o seu próprio espírito lúdico e as escolhas que lhe fizeram aflorar ou ser deixado de canto. “O filme olha no olho de cada espectador individualmente. Faz todos refletirem sobre como foi sua infância se brincou, se não brincou. É uma semente, um gatilho para uma reflexão que as pessoas não costumam fazer”, completa.
Para saber os locais de exibição do filme, confira a página do Tarja Branca no Facebook.